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Novo plano da Sabesp volta a propor rodízio de cinco por dois na área do Cantareira

OESP, Metrópole, p. A12
08 de Mai de 2015

Novo plano da Sabesp volta a propor rodízio de cinco por dois na área do Cantareira
Racionamento é possível em situação drástica, com esgotamento do volume morto na estiagem e obras de emergência não prontas

Fabio Leite - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O plano de contingência em elaboração pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) para a crise hídrica prevê, no seu pior cenário para este ano, a implementação de um rodízio de 5 dias sem água e 2 dias com abastecimento, restrito à região do Sistema Cantareira, que atende hoje 5,4 milhões de pessoas na Grande São Paulo. O sistema já havia sido aventado em janeiro, sob críticas. A conclusão do plano estava prevista para abril, mas ainda não há data para a versão final ser divulgada.
Em apresentação feita ao Comitê de Crise Hídrica, à qual o Estado teve acesso, o coordenador de Saneamento da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos, Américo de Oliveira Sampaio, afirma que uma das premissas para que o rodízio não seja necessário é a conclusão das obras emergenciais. Na apresentação, a pasta previa que a transposição de água da Represa Billings para o Sistema Alto Tietê, considerada a principal obra para este ano, fosse finalizada em julho, mas Alckmin já admitiu que a entrega ficará para setembro.
Segundo o texto, o "não atendimento parcial ou total das premissas adotadas no estudo de simulação pode levar ao estabelecimento de um programa de rodízio". Nele, a secretaria afirma, pela primeira vez, que "o rodízio se limitará à área abastecida pelo Sistema Cantareira e será de 5 x 2 (cinco dias sem fornecimento de água e dois com)". Anteriormente, o governo também estudava a possibilidade de adotar um rodízio de 4 por 2 em toda a região metropolitana.
Considerado o racionamento mais drástico na Grande São Paulo desde a inauguração do Cantareira, em 1974, o rodízio de 5 por 2 já havia sido aventado pelo diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, em janeiro deste ano. Segundo ele, a medida seria necessária se a estatal tivesse de reduzir a produção de água do manancial para 12 mil ou 13 mil litros por segundo. Neste mês, a média já chegou a 13,1 mil l/s.
No plano de rodízio do Cantareira elaborado pela Sabesp em janeiro de 2014 e revelado pelo Estado em agosto, o cenário mais crítico de corte no abastecimento previsto pela empresa era de 2 dias com água e 1 dia sem abastecimento. O plano, contudo, foi vetado por Alckmin, que o considerou inadequado. Em vez do rodízio, a Sabesp lançou o programa de bônus em fevereiro para estimular a economia de água pela população, adotou racionamento por meio da redução da pressão, e transferiu água de outros sistemas para a região atendida pelo Cantareira.
Mapeamento. A Sabesp mapeou 6.140 pontos críticos na Grande São Paulo, onde ficam hospitais, presídios, centros de hemodiálise e escolas, para que não falte água nessas localidades, caso o rodízio seja necessário. Segundo a empresa, 461 pontos são considerados prioritários, como o Hospital das Clínicas, por exemplo, e receberão uma linha exclusiva de abastecimento. Até o fim de março, 328 pontos já haviam sido equacionados.
A minuta do Plano de Contingência em elaboração pelo comitê de crise afirma que o rodízio "será ativado sempre que forem constatadas as condições e pressupostos que caracterizam um dos cenários de atuação previstos, pela evolução das informações monitoradas, no momento de ativação do plano", mas não detalha qual seria o gatilho. Quem acionaria o plano seria o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, coordenador do comitê de crise, que reúne outros secretários de Estado, prefeitos da região e representantes da sociedade civil.
Segundo simulações feitas pela Sabesp e apresentadas no fim de abril ao comitê, a companhia prevê que, sem as obras emergenciais, a água do Cantareira, incluindo a segunda e a terceira cotas do volume morto dos reservatórios, pode acabar em agosto - se a vazão afluente ao manancial nos próximos meses for igual à registrada em 2014, a pior da história.
Neste mês, por exemplo, a entrada de água é apenas 16% melhor do que há um ano. Com as obras prontas, o sistema chegaria a outubro sem precisar entrar na segunda cota da reserva profunda.
"Rascunhos". Em nota, a Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos afirma que as simulações "não passam de rascunhos de um grupo de trabalho que nem sequer concluiu suas análises". Segundo a pasta, "este grupo, quando encerrar suas atividades, apresentará a proposta ao comitê da crise hídrica, que, por sua vez, debaterá e definirá a versão final do plano de contingência unificado entre os municípios da Região Metropolitana". Procurada, a Sabesp informou que não comentaria o teor do plano.

Corte de água na zona norte é pior que racionamento
Casas na Vila Diva, na região do Limão, recebem água em 20,8% do dia; possível esquema da Sabesp equivale a 28,5% da semana

Bruno Ribeiro - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Na Vila Diva, região do Limão, na zona norte da capital, o tempo que os moradores ficam sem água já é proporcionalmente igual ao esquema "5 por 2", ou o "rodízio drástico" sugerido no plano da Sabesp. Lá, a água chega às torneiras durante cinco horas por dia. Nas outras 19 horas, nada. Para comparar: pela proposta extrema, a população teria água em 28,5% de cada semana. Na Vila Diva, o abastecimento ocorre atualmente só em 20,8% do tempo do dia. A diferença é que a água volta a tempo de abastecer as caixas d'água recém esvaziadas, reduzindo os transtornos.
Não são todos os moradores do bairro, porém, que têm caixas. "A gente chega cansado, sem água, com bebê para cuidar, e tem de sair de casa. Tem de ir na casa da sogra para dar banho na criança. Minha filha fica exposta à friagem da noite todos os dias. Não à toa, está gripada", contou na noite desta quinta-feira, 7, a autônoma Fernanda Peixoto Alves Pita, de 37 anos, moradora de uma das ruas do bairro, com a filha no colo, enquanto fritava batatas para o jantar. Ao lado, na pia da cozinha, água mineral. As garrafas compradas no mercado são usadas para lavar verduras e cozinhar arroz.
A nova rotina da moradora do bairro, que começou há cerca de dois meses, segundo vizinhos, inclui também usar qualquer vasilha vazia para guardar a água que chega. Isso na região da cidade em que a epidemia de dengue é mais intensa.
Fernanda não consegue esconder a revolta. "Sabe, eu nem peço para meu filho mais velho tomar banho rápido. Também tomo o meu com calma. Deixo minha neném respirar o vapor, por causa da gripe", contou. Questionada se havia sido informada pelas autoridades, de alguma maneira, que seria tão prejudicada pelo corte no abastecimento, ela disse que só houve "falta de respeito".
A falta de informação cria ainda um sentimento de desconfiança, que dá espaço para teorias da conspiração. "Duvido que não tenha água (nas represas). Estão escondendo", afirmou a negociadora de cobranças Jaqueline Bianca, de 20 anos, sobrinha de Fernanda.
Caixas d'água. A redução da pressão tem sido uma estratégia da Sabesp para economizar. Mas a Vila Diva vivia uma situação menos desconfortável até janeiro, segundo conta outra moradora do bairro, a cuidadora de idosos Vera Lúcia de Castro Tessaro, de 68 anos. "No ano passado, a água durava até o fim da tarde. Mas, então, aconteceu de ficar dois dias inteiros sem água. Depois ficou alternando. Agora, é essa coisa de a água acabar na hora do almoço. Nesta rua, toda a situação está assim", disse a cuidadora, apontando para a Rua Carolina Soares, ponto comercial do bairro.
Vera Lúcia mora na Vila Diva há 58 anos. Seu imóvel tem duas casas nos fundos, que aluga para complementar a renda. São três famílias sem água na maior parte do dia. "Eu comprei duas caixas d'água. Uma para mim, e outra para as casas de baixo. Instalei neste ano. Antes, tinha uma caixa que não estava nem ligada", contou. O investimento às pressas, contudo, deixou brechas em lugares importantes. "O encanamento do chuveiro é da água da rua. Então, de qualquer forma, tenho de me arrumar para ter água para o banho."
O Estado procurou a assessoria da Sabesp, por volta das 22 horas desta quinta-feira, 7, para falar sobre o problema relatado pelos moradores da Vila Diva. Até as 23h30, não havia sido enviada resposta oficial.

OESP, 08/05/2015, Metrópole, p. A12

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