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Novo eixo exportador valoriza terras

OESP, Economia, p. B6
10 de Mar de 2014

Novo eixo exportador valoriza terras
No Norte e no Centro-Oeste, expectativa de escoamento mais barato da safra elevou preços em até 25% em 2013, acima da média nacional

Márcia De Chiara - O Estado de S.Paulo

As terras agrícolas do Norte e do Centro-Oeste foram as que mais se valorizaram no último ano, influenciadas pela perspectiva de melhoria da infraestrutura, que deve tornar viável, a médio prazo, a exportação de grãos pela região Norte do País.
Pesquisa sobre o mercado de terras da consultoria Informa Economics/FNP, obtida com exclusividade pelo Estado, mostra que o preço do hectare subiu quase 25% no Norte entre janeiro e dezembro de 2013. Nas terras do Centro-Oeste, a alta beirou 18%. Em ambas as regiões os aumentos superaram a valorização média das terras no Brasil, de 15% no período.
"O Centro-Oeste e o Norte estão se estruturando para abandonar a tragédia logística que é colocar a safra para rodar em caminhão por mais de 2 mil quilômetros e embarcar os grãos pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR)", diz o diretor da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz.
Ele explica que essa perspectiva de melhoria na logística é que está puxando para cima os preços das terras cortadas pela BR 163. A rodovia liga o Sul, o Centro-Oeste e o Norte do País, e vai até Santarém, no Pará. As terras agrícolas de Santarém, por exemplo, registraram valorização de 51% no ano passado, uma das maiores altas entre os 133 regiões pesquisadas. Lá o preço do hectare saltou de R$ 2.576 em janeiro para R$ 3.900 em dezembro de 2013.
"As terras de Santarém são aptas à agricultura, mas não estavam sendo exploradas pela falta de infraestrutura", afirma Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, que reúne dez associações do Estado do Mato Grosso e é capitaneado pela Aprosoja, que congrega produtores.
Do Mato Grosso, o maior Estado produtor de soja, até o distrito de Miritituba, no Pará, há 182 quilômetros de rodovia sem pavimentação. As obras de pavimentação devem ser concluídas até o ano que vem, prevê Ferreira.
Em Miritituba, conta ele, não existia nada. Agora há terminais de transbordo, que permitem embarcar a carga em barcaças pelo Rio Tapajós até o Porto de Santarém. De lá os grãos seguem pelo Rio Amazonas até o Porto de Vila do Conde e são transportados em navios para o exterior, via Canal do Panamá. Nas contas de Ferreira, o escoamento da safra pelo Norte do País pode reduzir em 34% o custo de transporte, comparado com o trajeto rodoviário feito até Santos ou Paranaguá.
"O fundo do quintal está virando a porta da frente para os escoamento dos grãos", afirma o diretor executivo do movimento Pró-Logística. Na análise de Ferraz, a valorização das terras do Norte e do Centro-Oeste está antecipando a melhoria da infraestrutura que virá com a criação de novo eixo de exportação do País.
Já na região batizada de "Mapitoba", que engloba áreas para plantação de milho, soja e algodão de quatro Estados (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), o principal fator de que puxou para cima o preço da terra foi o fato de a região ser extremamente favorável à produção de grãos, explica Ferraz. O hectare de terra em Urussuí (PI), avaliado em R$ 8,5 mil, subiu 24% no último ano. Em Porto Afonso (TO), a alta foi de 23% em igual período.
Sul. Um resultado surpreendente foi a forte valorização das terras do Sul, cujas cotações subiram 17% em 2013. "Como a região tem os preços mais elevados do País, esperávamos um amortecimento", diz Ferraz. De 2011 para 2012, as terras do Sul já tinham subido 18%. De acordo com a pesquisa, a terra agrícola mais cara do Brasil é a de Jaraguá do Sul (SC): o hectare de várzea vale R$ 48 mil.
O diretor do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná, Francisco Carlos Simioni, tem uma explicação para esse resultado: "a fronteira agrícola está esgotada na nossa região e a disputa mais acirrada pela terra fez o preço subir". Ele acrescenta que a forte valorização da soja, com o preço passando de R$ 70 a saca, puxou a cotação da terra. Outro fator de valorização da região é a proximidade do Porto de Paranaguá (PR).
Já as terras do Sudeste tiveram em 2013 valorização 10,8%, abaixo da média nacional. "Os negócios não estão aquecidos no Estado de São Paulo primeiro por causa da época do ano, segundo em razão do mau momento da cana", diz Attilio Benedini, sócio da imobiliária que leva o seu nome. Laranja em São Paulo e café em Minas contribuíram para fraco resultado.

Ritmo de alta se acelerou no ano passado
Preço médio da terra agrícola do País subiu 15% em 2013, superou a inflação e bateu aplicações financeiras

O preço médio das terras agrícolas brasileiras em 2013 subiu num ritmo mais acelerado do que nos últimos dez anos e ultrapassou de longe a inflação. Para uma alta de 14,9% no preço médio da terra registrado em 2013, a valorização real foi de 8,8%. Isto é, descontada a inflação de 5,52% apurada pelo IGP-DI.
Comparado às aplicações financeiras, o ganho com terras também foi polpudo e superou em 2013 o desempenho do ouro (-17,2%), das ações (-15,5%) e das aplicações em Certificado de Depósito Bancário - CDB (8,02%). Só o dólar ficou à frente da terra em 2013 e, mesmo assim, com uma pequena vantagem (0,3 ponto porcentual).
Quando se avalia o desempenho médio das terras em dez anos até 2012 e em 2013, constata-se que houve no ano passado uma aceleração no ritmo de alta dos preços. Entre 2002 e 2012, os preços tinham subido 12,6%, em média, por ano, aponta a pesquisa da Informa Economics /FNP. Mas só no ano passado, a valorização foi de 14,9%.
A consultoria destaca que a aceleração no ritmo de elevação de preços ocorreu em 2013 apesar do arrefecimento na alta das cotações das principais commodities agrícolas.. "Tínhamos dúvidas se o ritmo de valorização da terra iria se manter. Mas, em 2013, a alta foi ainda maior do que a média de anos anteriores", diz o diretor da consultoria, José Vicente Ferraz.
A médio e longo prazo, ele acredita que os preços das terras agrícolas brasileiras vão continuar subindo acima da inflação, porém num ritmo menor do que o dos últimos anos, porque não é possível manter uma valorização tão forte por muito tempo. Além disso, a demanda por comida está acelerada. / M.C.

Áreas com mais de 10 mil hectares são as mais valorizadas

O avanço da tecnologia está mudando a lógica do mercado de terras. No passado, as áreas grandes, acima de 10 mil hectares, eram desvalorizadas, porque o número de compradores possíveis era relativamente pequeno e era preciso muito dinheiro para cultivá-las, explica o diretor da consultoria Informa Economics/FNP, José Vicente Ferraz. Hoje com a tendência de se usar toda a tecnologia disponível, quanto maior a área explorada, maior será o ganho de escala na produção.
"Atualmente a diferença entre produzir com e sem escala é uma brutalidade", diz. Tanto é que as propostas para grandes glebas de terras são as que têm os maiores ágios nos valores, chegando em alguns casos a dobrar o preço. "É uma reforma agrária ao contrário."/ M.C.

OESP, 10/03/2014, Economia, p. B6

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