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Novas estradas podem acelerar o desmatamento na amazônia

Museu Goeldi-Belém-PA
25 de Mai de 2004

Na Revista Science, na edição de 21 de maio de 2004, há um importante artigo publicado (Deforestation in Amazonia, Science 2004 304: 1109-1111) por uma equipe de pesquisadores americanos e brasileiros mostrando que a taxa da destruição da floresta Amazônica acelerou significativamente desde 1990.

A equipe afirma que as taxas de desmatamento na Amazônia continuarão provavelmente a aumentar a menos que o governo brasileiro altere seu plano de expansão da construção de estradas e do aumento da infraestrutura.

"Estes números recentes do desmatamento da Amazônia são alarmantes", dizem os pesquisadores William Laurance do Instituto de Pesquisa Tropical do Smithsonian do Panamá. Nos últimos dois anos foram desmatados na Amazônia mais de dois milhões de hectares por ano o equivalente a aproximadamente 11 campos do futebol por minuto.

Segundo os pesquisadores, este desmatamento tem sido mais agudo na parte sudeste e leste da Amazônia, onde o clima é mais sazonal e desta forma a floresta pode ser mais facilmente queimada. Desde 2002 a perda da floresta aumentou para quase 50% nos estados de Pará, Rondônia, Mato Grosso e Acre diz Ana Albernaz do Museu Paraense Emílio Goeldi uma das autoras do artigo.

As plantas e animais nestas áreas estão sendo severamente ameaçados

Este aumento no desmatamento é ligado diretamente às políticas de desenvolvimento brasileira para a região diz os autores do artigo. Em 2000, Brasil anunciou um dos maiores projetos de expansão de infra-estrutura para a região amazônica chamado no governo anterior de "Avança Brasil", um plano de investimentos na ordem de 40 bilhões de dólares para a construção e recuperação de estradas, linhas de transmissão de energia, construção de gaseodutos, ferrovias, usinas hidrelétricas e hidrovias.

Estes grandes projetos de infra-estrutura darão acesso a regiões isoladas da região amazônica, promovendo acesso para madeireiras e a colonização humana em regiões de florestas intactas. "No passado, estes projetos conduziram a um aumento significativo de desmatamento ilegal na Amazônia, através da extração de madeira, mineração e outras atividades humanas diz Heraldo Vasconcelos da Universidade Federal de Uberlândia, um dos autores do estudo".

As forcas chaves responsáveis pela perda crescente da Floresta Amazônica, dizem os autores, são especulação de terra ao longo das novas estradas e das rotas das estradas planejadas, crescimento dramático da pecuária bovina e o cultivo da soja, diz Philip Fearnside do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, um dos autores do estudo.

"O cultivo da soja causa algum tipo de desmatamento, contudo a soja tem muito mais impacta na conversão de áreas
aberta, como cerrados e a floresta de transição, empurrando as grandes fazendas
e agricultores familiares para outras regiões mais isoladas da Amazônia, abrindo desta forma, novas frentes de expansão humana. A cultura da soja também é um fator econômico e político chave para a construção de novas estradas e outros projetos de infra-estrutura que aceleram o processo de desmatamento realizado por outros atores."

Antecipando o grande alarme público que as elevadas taxas de desmatamento na Amazônia provocam, o governo brasileiro anunciou recentemente um conjunto de novas medidas para diminuir a perda da floresta na Amazônia. Estas medidas incluem o monitoramento por satélite do desmatamento e a participação de outros ministérios, além do Ministério do Meio Ambiente, na tarefa para combater as causas do desmatamento ilegal na Amazônia.

"Se executado corretamente, esta força-tarefa tem grande chance de diminuir o desmatamento na região. Algumas medidas já tomadas, como a criação de novas unidades de conservação ao longo das principais estradas pelos Estados do Amapá, Amazonas e Acre já podem ser interpretado como um claro sinal deste movimento, pois as unidades de conservação e terras indígenas são altamente eficientes para conter o desmatamento ilegal", diz Leandro Ferreira, do Museu Paraense Emílio Goeldi e um dos autores do estudo.

Contudo, este conjunto de medidas ainda não é suficiente, dizem os autores do artigo, porque não se dirigem a uma das causas mais críticas do desmatamento na Amazônia, que é a proliferação de novas estradas e o aumento de projetos de infraestrutura que penetram profundamente no coração da floresta Amazônica. De acordo com William Laurance, "se o Brasil não conter a expansão de novas estradas e de outros projetos de infra-estrutura de transporte, o resultado líquido será não somente os aumentos adicionais de destruição da floresta Amazônica, mas sim sua fragmentação que pode causar sérios problemas a sua sobrevivência".

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