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Nova tecnologia leva seringueiros a reabrir estradas de borracha no Acre

Página 20-Rio Branco-AC
25 de Out de 2004

A decisão foi tomada depois que aprenderam a fazer assentos para copos e panelas, jogos americanos, caminhos de mesa e outros utensílios de borracha que começarão a ser comercializados neste fim de ano durante duas das maiores exposições de produtos artesanais do país, a Mão de Minas e o Guif Fair, em São Paulo.

O Santa Quitéria foi o primeiro assentamento extrativista do Brasil, mas sua criação coincidiu com uma das fases de menor preço da borracha, o que acabou desestimulando sua exploração pelos seringueiros.

Nesta semana aconteceram na comunidade do Arraial dos Burros dois cursos direcionados ao aproveitamento do látex com a produção de peças que agregam valor ao produto oferecendo oportunidade de ganho real aos produtores.

No primeiro realizou-se a terceira fase das oficinas de látex iniciada no fim do ano passado sob a orientação do design mineiro Paulo Bustamante com assistência técnica da Polopróbio, que desenvolveu as formulações ideais de combinação do látex com fibras, corantes e aromas naturais que dêem resistência e beleza às peças que serão comercializadas.

Paralelamente à oficina de látex, dois seringueiros do Santa Quitéria e dois da Comunidade Cazumbá aprenderam como fabricar moldes de folhas e outros produtos vegetais utilizando o alumínio. A utilização desse metal foi a que se mostrou mais eficiente na hora de fabricar as peças de borracha que, por serem secadas ao sol, precisam que a fôrma conserve bem a temperatura, apressando assim o feitio dos trabalhos.

O jaminawa Jakson Souza da Silva, 14 anos, estudante do Telecurso Primeiro Grau e morador da colocação Mangueira no Santa Quitéria, é o intermediário de três irmãos que trabalham com o avô numa colocação em que há três estradas de seringa desativadas há vários anos. "Eu nunca vi ninguém cortando borracha, também não sabia que dava para fazer estes trabalhos dessa maneira, mas gostei muito de aprender e espero que a gente consiga ganhar dinheiro com isso", declarou.

Moradora da comunidade Cazumbá, em Sena Madureira, Leonora Siqueira Maia, 35, mãe de três filhos, já trabalha com o marido produzindo mantas de couro vegetal e miniaturas de animais agora complementa seu conhecimento para produzir objetos utilitários de cozinha em látex. "Desde que nossa comunidade procurou ajuda do governo e do Sebrae recebemos vários treinamentos, nossa farinha hoje é a melhor de Sena Madureira e custa o dobro do preço das outras, lá em casa a gente produz mantas de borracha que vendemos a R$ 20 cada uma, dá para produzir umas 15 por dia, mas só fazemos por encomenda. Agora mesmo acabamos de entregar 60 peças".

Ela então esclarece o porque de seu interesse em aprender novas técnicas de utilização do látex. "O bom deste curso é que tudo o que precisamos para fazer as peças a partir do látex misturado com fibras, corantes e cheiros a gente tem no próprio seringal e dá para inventar muito mais".

Fundidores da floresta

Josué Barbosa de Souza, 31, um dos sócios da Fundição Lirux que funciona em Rio Branco foi contratado para, em seis dias, ensinar seringueiros a fundir suas formas em alumínio. "Trabalho com fundição há 15 desde que aprendi com meu irmão, não é difícil, mas exige dedicação e cuidado. Até agora só tinha feito panelas, placas e letreiros, mas a técnica é a mesma que para copiar as folhas e se eles desenvolverem tão bem como estão aprendendo agora logo a gente vai ter concorrente na praça", anima.

Trabalhando sempre na lavoura, José da Silva de Souza, 35, pai de um filho, morador do Santa Quitéria nunca cortou borracha, mas interessou-se pela produção dos objetos de látex e de alumínio fundido como forma de melhorar a renda da família. "Na minha colocação tenho dez estradas de seringa que estão fechadas há muitos anos, agora estamos reunindo o pessoal da associação para fazer um adjunto na semana que vem e reabrir abrir elas a fim de a gente ter leite para produzir as peças".

Tecnologia e meio ambiente

As oficinas de látex e fundição de alumínio são fruto de parceria entre o Núcleo de Design e Artesanato do acre, com o Programa de Artesanato do Sebrae e governo do Estado como explica Dikson Asfury o gestor do programa Sebrae de Consultoria Tecnológica (Sebraetc).

"A partir do interesse das comunidades do Cazumbá e Santa Quitéria nós identificamos o potencial de matérias e primas e a tecnologia necessária para desenvolver produtos comerciais a partir delas. As fibras e o látex estão em maior abundância e apresentam-se como produto diferenciado que será apresentado ao público paulista e mineiro, pela primeira vez, neste final de ano durante as feiras Mão de Minas e Guif Fair, que estão dentre os maiores eventos dessa área no Brasil".

Oficinas de látex

Zélia Damasceno, consultora do Polopróbio, foi quem repassou os conhecimentos necessários para que os seringueiros possam produzir suas peças de borracha sem depender de mais ninguém. "Trabalhos aqui com duas metas básicas, a primeira é a de repassar para eles os conhecimentos necessários para produção de peças com beleza e resistência, mas também queremos que eles se tornem auto-suficientes assim poderão tocar suas vidas adiante e até desenvolver novos produtos sem depender de ninguém".

Para isso, Zélia passou para eles todas as medidas, pesos e fórmulas usadas para produzir cada tipo de látex que dará um produto final diferenciado.

"Eles nos surpreenderam propondo corantes verdes como o rinchão, vermelho como a folha do pau-brasil, o marrom do caroço do abacate, agora estamos testando outros de maçaranduba e breu", explicou.

O mais importante nesse processo é que tanto os corantes quanto os aromas são extraídos sem que se necessite destruir as plantas e árvores, mas com parte de suas cascas e galhos que depois se recompõem.

"Para fabricar estas peças em borracha pré-vulcanizada são necessários alguns cuidados especiais que começam na colheita do látex em vasilhas não metálicas, a mistura de fórmulas ao leite, que depois é aferventado, resfriado e pode ficar armazenado por pelo menos três meses em temperatura ambiente para fazerem dele o que quiserem", finalizou.

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