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Autor: Jessé Souza
28 de Ago de 2024
Pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a qual foi divulgada em abril deste ano, indicou que a contaminação por mercúrio afeta quase toda a população de nove comunidades indígenas Yanomami em Roraima, situação alarmante que não provocou o impacto necessário para indignar a opinião pública local. Inclusive sequer houve ampla repercussão, uma vez que a maioria das pessoas apoia o garimpo ilegal de ouro.
Os resultados desse estudo da Fiocruz partiram de uma análise de amostras de cabelos colhidas dos indígenas em outubro de 2022. No entanto, já naquele ano, o estudo havia identificado a contaminação de peixes amazônicos por mercúrio na Bacia do Rio Branco, fato este que levou posteriormente à identificação dos efeitos nos povos Yanomami.
Agora, uma equipe do Projeto Monitora Y está dando sequência a esses estudos iniciados em 2022 com a finalidade de analisar a qualidade ambiental e a concentração de metais como mercúrio, agrotóxicos e outras substâncias não apenas nos rios da Terra Indígena Yanomami, mas também das unidades de conservação federais da região, como as estações ecológicas Maracá e Niquiá, o Parque Nacional do Viruá e a Floresta Nacional de Roraima.
O projeto Monitora Y é executado por uma equipe multidisciplinar do Centro de Tecnologia Mineral do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Estão sendo realizadas coletas de amostras de águas de consumo e fluviais, sedimentos de rios e de peixes tanto na terra indígena quanto nas unidades de conservação. Provavelmente em novembro deste ano sairá o resultado desse novo estudo, quando a opinião pública terá informações sobre a extensão dos impactos da atividade do garimpo ilegal, uma vez que já se sabe da contaminação de peixes e de indígenas.
Com novos estudos apontando que as consequências não estão limitadas aos povos indígenas, mas podem se estender a toda população que consome água dos rios e se alimenta dos peixes desses mananciais, talvez a população roraimense comece a se alarmar para a gravidade do problema que é o garimpo ilegal. Não se pode esquecer que, não faz muito tempo, o governo estadual sancionou uma lei legalizando o garimpo com uso de mercúrio em áreas não indígenas, o que poderia ter provocado uma situação alarmante, caso a lei não fosse derrubada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Estudos amplamente divulgados desde a década de 1950 vêm apontando para os riscos do mercúrio no organismo humano, podendo afetar qualquer órgão, inclusive o cérebro, provocando lesões irreversíveis, principalmente no sistema nervoso central, com sintomas semelhantes ao mal de Parkison. Existem relatos de danos aos rins, fígado e sistema cardiovascular, gerando aumento da pressão arterial e risco de infarto.
Trata-se de uma questão grave que pode ser avaliada a partir das mais recentes apreensões feitas pela Polícia Federal este ano. Em março, foram apreendidos 120 Kg de mercúrio no Município de Bonfim, próximo à fronteira com a Guiana, o que acabou resultando na Operação Hg80 de combate à importação ilegal de mercúrio. No dia 15 de agosto passado, durante a Operação Libertação, que visa a desintrusão da Terra Yanomami, foram apreendidos 103 Kg quilos de mercúrio no mesmo local.
Os dados estão todos aí para serem analisados. Quem sabe, em um futuro bem próximo, poderemos descobrir da pior maneira possível o quão deletério foi o garimpo ilegal em Roraima não só para o povo Yanomami, mas para toda a população roraimense.
*Colunista
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