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Nova emergência nuclear

O Globo, Mundo, p. 30
06 de Ago de 2013

Nova emergência nuclear
Agência reguladora denuncia gestora do complexo por contaminação do lençol freático

TÓQUIO - Dois anos e meio após uma quase hecatombe nuclear provocada por um terremoto seguido por violentas tsunamis, vazamentos seguidos e a iminência de um grande transbordamento de água contaminada para o Oceano Pacífico colocaram em estado de emergência o complexo nuclear de Fukushima - e renovaram a pressão política sob a criticada empresa Tokyo Electric Power Co. (Tepco). O nível da água subterrânea radioativa tem subido a patamares acima da barreira em construção para contê-la, elevando o risco de aumentar o despejo dessa água contaminada no mar. A denúncia foi feita pelo "Asahi Shimbun", citando uma reunião ocorrida na sexta-feira, quando uma força-tarefa do governo japonês calculou em três semanas o prazo para a água contaminada chegar à superfície.
Somente no mês passado, a Tepco admitiu pela primeira vez o aumento do nível da água e os primeiros sinais de vazamento e contaminação do oceano a partir dos reatores destruídos - confirmando as suspeitas de especialistas japoneses, céticos quanto às alegações do operador de que a água tóxica tinha sido contida. Ontem, foi a vez de a agência reguladora endurecer as críticas na tentativa de conter um desastre ambiental.
- A água contaminada no lençol freático está subindo para a superfície e excedendo os limites legais de descarga radioativa. Neste momento, temos uma emergência - afirmou o diretor da força-tarefa da Autoridade Reguladora Nuclear do Japão, Shinji Kinjo. - As medidas adotadas pela Tepco são apenas uma solução temporária. O senso de crise deles é fraco. É por isso que não se pode deixar tudo nas mãos só da Tepco.
Logo depois da crise nuclear de março de 2011, a Tepco foi severamente criticada por não ter se preparado adequadamente para situações como o terremoto seguido de tsunami que atingiu o complexo de Fukushima. A empresa também foi acusada de tentar acobertar suas falhas e de reagir de forma incompetente ao derretimento dos reatores.
Alvo de cobranças da ONU
Vários incidentes envolveram os trabalhos de contenção desde então. Em abril passado, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o órgão das Nações Unidas encarregado de fiscalizar as atividades nucleares no mundo, cobrou dos operadores de Fukushima soluções para os vazamentos e cortes de energia frequentes que paralisam por horas os sistemas de resfriamento dos reatores. "A Tepco deveria continuar seus esforços de melhorar a confiabilidade dos sistemas essenciais, para avaliar a integridade estrutural das instalações e aumentar a proteção contra perigos externos", cobrou a agência.O nível da ameaça representado pela água contaminada no lençol freático não está claro. Mas, somente nas primeiras semanas depois do desastre, o governo japonês autorizou a Tepco a despejar dezenas de milhares de toneladas de água contaminada no Pacífico - sob as críticas de países vizinhos e de pescadores. À época, a Tepco prometeu que não jogaria mais água radioativa no mar sem o consentimento de autoridades municipais.
- Até sabermos exatamente a densidade e volume da água que está fluindo, honestamente não posso especular sobre o impacto no mar - afirmou Mitsuo Uematsu, do Centro para a Colaboração Internacional e Pesquisa Atmosférica e Oceânica, da Universidade de Tóquio. - Deveríamos verificar também quais são os níveis na água do mar. Se for só dentro do porto e não estiver escoando para o mar, ela pode não se espalhar tanto quanto temem alguns.
O episódio mostra os obstáculos enfrentados pela Tepco para lidar como maior desastre nuclear mundial desde Chernobyl. Um dos maiores desafios é tentar evitar que a água radioativa que resfria os reatores se misture com a água subterrânea fresca. A Tepco tem injetado no solo um produto químico para construir barreiras para a água subterrânea. O método, porém, só é efetivo em solidificar o solo a partir de 1,8 metro abaixo da superfície. E segundo o "Asahi Shimbun", a água contaminada teria subido a um metro abaixo da superfície terrestre.
- Se você constrói uma parede, é claro que a água vai se acumular ali. A água não tem outro destino, a não ser subir e, eventualmente, escapar para o oceano. A pergunta agora é: quanto tempo temos? - indagou Masashi Goto, um engenheiro nuclear aposentado da Toshiba Corp.
Procurada, a Tepco disse estar adotando várias medidas para que a água contaminada não saia da baía próxima a Fukushima. A usina bombeia diariamente 400 toneladas de água que escorre pelo lençol freático dos morros próximos à usina. A água é guardada em porões dos prédios destruídos, onde se mistura à água altamente radioativa que é usada para resfriar os reatores e mantê-los estáveis, abaixo de 100 graus Celsius. Ontem, a empresa disse que planeja, já no fim desta semana, começar a bombear mais 100 toneladas de água por dia.
A Tepco calculou entre 20 trilhões a 40 trilhões de becquerels (a unidade que mede a atividade radioativa) a quantidade de trítio lançada no mar desde março de 2011. A substância, um isótopo do hidrogênio radioativo, causa menos danos que o césio e o estrôncio, também vazados de Fukushima. Mas, de acordo com a empresa, o nível está próximo ao permitido pelos órgãos de segurança antes do acidente: 22 trilhões de becquerels por ano.

Suborno e fraude ameaçam usinas sul-coreanas
Governo investiga máfia de empresas que falsificam selos de qualidade

Choe Sang-Hun

SEUL - Assim como o Japão, a Coreia do Sul, pobre em recursos, há muito conta com a energia nuclear para prover a eletricidade barata que lhe ajudou a construir uma milagrosa economia. Durante anos, o país atendeu a um terço de suas necessidades elétricas com energia nuclear, um nível de dependência similar ao do Japão antes do desastre de 2011 no complexo de Fukushima.
Agora um escândalo avassalador na Coreia do Sul revelou subornos e a falsificação de testes de segurança, trazendo à tona outra similaridade com o Japão: peritos dizem que os programas nucleares de ambos os países sofrem de uma cultura de conivência que tem prejudicado a segurança. Após semanas de revelações, os laços estreitos entre empresas nucleares sul-coreanas, seus fornecedores e empresas de testes levaram o primeiro-ministro a comparar a toda a indústria a uma máfia.
O escândalo estourou após uma investigação motivada por uma denúncia anônima, em abril. A promotoria acusou funcionários de uma empresa de testes de falsificar os resultados de checagens feitas em peças de usinas. Os empregados de uma outra empresa, subsidiada pelo Estado para projetar as usinas nucleares, também foram indiciados - sob a acusação de aceitar suborno dos funcionários da empresa de testes para aceitar as peças de baixa qualidade.
120 testes reavaliados
Os investigadores descobriram que os componentes questionáveis estão instalados em 14 de 23 usinas nucleares da Coreia do Sul. O país já determinou o fechamento de três desses reatores temporariamente, porque as partes suspeitas eram vitais. E mais fechamentos podem ocorrer em breve, uma vez que os investigadores reavaliaram mais de 120 mil certificados de teste apresentados na última década para identificar todas as possíveis fraudes. Em mais uma indicação da possível amplitude dos problemas, os promotores invadiram recentemente os escritórios de mais de 30 fornecedores suspeitos de também prover peças com certificados de qualidade falsos.
- O que foi revelado até agora é apenas a ponta do iceberg - disse Kune Y. Suh, professor de Engenharia Nuclear na Universidade Nacional de Seul.
As investigações também colocaram sob suspeita a rede de fornecedores. A empresa responsável por testar as peças dos reatores ignorou parte do trabalho e deu certificados falsos para peças que não foram avaliadas e até para as que falharam nos testes feitos com equipamentos fundamentais - como os cabos usados para enviar sinais para ativar medidas de emergência em caso de acidente.
- Não é simples negligência ou falha, é armação deliberada daqueles que deveriam garantir a confiabilidade das peças - criticou o professor Kim Yong-soo, da Universidade Hanyang, em Seul.

O Globo, 06/08/2013, Mundo, p. 30

http://oglobo.globo.com/mundo/vazamento-de-agua-radioativa-cria-nova-em…

http://oglobo.globo.com/mundo/suborno-fraude-ameacam-usinas-sul-coreana…

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