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Nova chance para o clima

O Globo, Opinião, p. 6
28 de Nov de 2010

Nova chance para o clima

Começa amanhã, em Cancún, no México, mais uma rodada global (COP-16) sobre as ações para impedir uma catástrofe climática na Terra.
Infelizmente, as expectativas de progresso estão muito aquém das necessidades. Achar uma notícia animadora em relação ao meio ambiente é tarefa árdua. Elas até existem, mas são suplantadas logo no parágrafo seguinte.
Por exemplo, as emissões de CO2, o mais abundante dos gases-estufa, caíram 1,3% em 2009 devido à recessão mundial. Mas isto foi apenas a metade do esperado. E a previsão dos cientistas é que a liberação, por queima de carvão, petróleo e gás, atinja o pico histórico já este ano. Além disso, a concentração de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingiu, em 2009, o maior nível desde a Revolução Industrial, segundo a Organização Meteorológica Mundial.
Realizada no ano passado, em Copenhague, sob o signo da recessão mundial, a COP-15 foi uma relativa decepção: não conseguiu produzir um documento tornando obrigatórias as metas de redução da emissão de poluentes, mas houve consensos.
Todos os compromissos ali assumidos são voluntários. Os participantes da COP-16 bem poderiam, para avançar, inspirar-se na última reunião sobre biodiversidade, em outubro, em Nagoia, Japão. Ali, apesar de persistentes dificuldades, delegados de quase 200 países concordaram em frear a perda de espécies no planeta, com novas metas até 2020.
Cancún terá de se haver com questões vitais para o futuro da Terra deixadas pendentes em Copenhague. Por exemplo, definir metas vinculantes para o segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto, a partir de 2012.
O maior obstáculo continua sendo o fato de os Estados Unidos não serem signatários do documento. E, depois do avanço dos republicanos nas eleições de meio de mandato, o presidente Obama tem ainda mais problemas para aprovar no Congresso americano medidas contra o aquecimento global.
Outra questão em aberto é a do financiamento aos países em desenvolvimento. Na COP-15, foi decidida a criação de um fundo que reuniria US$ 30 bilhões em três anos para permitir-lhes fazer sua parte. Como, até agora, nenhum projeto foi aprovado, é preciso que o mecanismo seja implementado em Cancún. Outro dispositivo que não saiu do papel é o Fundo Verde Climático, para o qual seriam destinados US$ 100 bilhões até 2020, para ajudar os países a aumentar a eficiência energética, fazer aterros sanitários e preservar florestas. Foi acordado em Copenhague que os países em desenvolvimento apresentem ações internas de mitigação da emissão de poluentes. Alguns, como Brasil e China, o fizeram. Mas ainda não foi definido como estas ações serão monitoradas. A China, por exemplo, recusa qualquer meio externo de aferição. Outro problema para Cancún.
Já se perdeu muito tempo. Estudo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) concluiu que os projetos de todos os países, somados, não serão suficientes para conter em 2 graus o aumento da temperatura global desde a Revolução Industrial, meta acordada. As mudanças climáticas serão irreversíveis se o planeta esquentar mais do que isso. Diante de tantas divergências, o melhor caminho parece ser o indicado pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, incansável batalhador pelo entendimento. Ele defende acordos tópicos, em áreas em que for possível avançar. Será melhor que nada.

O Globo, 28/11/2010, Opinião, p. 6

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