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Nota Pública dos Tupinikim e Guarani

Aldeia Tupiniquim de Iraja-Aracruz-ES
28 de Fev de 2005

Prezad@s amig@s:

A seguir transmitimos uma nota pública que recebemos dos indígenas
Tupinikim e Guarani do Brasil.

Como em outros países, no Brasil as plantações de eucaliptos e as
fábricas de celulose não estão localizadas em terras que ninguém quer, mas
se concentram em áreas povoadas costeiras, próximas aos portos de saída da
produção de celulose. Por esse motivo, tanto as plantações quanto as
fábricas estão tendo não apenas fortes impactos sobre o
ambiente, mas também, o que é mais importante ainda para nós, sobre as
pessoas e seus meios de vida.

Esse é o caso da Aracruz Celulose, que desde 1960 tem ocupado amplos
territórios de indígenas e agricultores dos Estados do Espírito Santo e da
Bahia para estabelecer vastas plantações de eucaliptos que alimentam suas
gigantescas fábricas de celulose.

Os indígenas Tupinikim e Guarani, entre outros, levam já muitos anos
opondo-se a essa empresa e exigindo a devolução de suas terras. Na nota
infra eles expõem os objetivos de sua luta que, além de histórica, se tem
transformado em um símbolo para tod@s @s que lutamos contra o modelo de
plantações de monoculturas de árvores em grande escala no mundo inteiro.

Atenciosamente,

A equipe do WRM

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Nota Pública

NOSSA TERRA, NOSSA LIBERDADE

No dia 19 de fevereiro de 2005 realizamos uma Assembléia Geral dos Povos
Tupinikim e Guarani na aldeia de Comboios. Com a presença de
aproximadamente 350 indígenas de todas as aldeias (Pau Brasil, Caieiras
Velhas, Irajá, Três Palmeiras, Boa Esperança, Piraquê-Açu e Comboios),
analisamos a situação atual de nossas comunidades e discutimos sobre a
retomada das nossas terras, em poder da Aracruz Celulose.

Como resultados de nossas discussões, trazemos a público as seguintes
questões:

- Antigamente (até 40 anos atrás) vivíamos bem, caçando, pescando, e
plantando nossas roças de feijão, milho e mandioca. Não dependíamos de
ninguém, vivíamos da nossa terra e tínhamos nossa liberdade. Com a chegada
da Aracruz Celulose, perdemos nossas terras, nossas matas e nossos rios.
Aos poucos, fomos empobrecidos e ficamos "prisioneiros" do projeto da
Aracruz.

- Em 1979, começamos a travar uma luta para retomar nossas terras, sempre
com a certeza do nosso direito. Em 1997, a FUNAI identificou 18.071
hectares como terras tradicionalmente ocupadas por nós, Tupinikim e
Guarani. Até o momento conseguimos recuperar apenas uma pequena parte do
nosso território. Cerca de 11.000 hectares continuam nas mãos da Aracruz
Celulose, por força de um Acordo ilegal que permite à empresa explorar e
degradar a nossa terra, terra que é a nossa mãe e sobre ela construímos
nossa dignidade e nossa identidade.

- Mas afirmamos, com muita clareza, que tudo que a Aracruz Celulose tem
repassado para as nossas comunidades é por causa da nossa luta e do nosso
direito. Também afirmamos que nossa luta não acabou e nunca
acabará, ela continuará por toda nossa existência. Hoje, depois de muitos
debates nas nossas comunidades, chegamos à conclusão que o Acordo com a
Aracruz não conseguiu resolver nossos problemas, ao contrário, tem nos
causado ainda mais dificuldades, gerando dependência econômica, divisão
entre as aldeias e enfraquecendo nossa cultura. A morte da nossa cultura é
a morte
simbólica do nosso povo.

- Temos uma responsabilidade muito grande como caciques e lideranças.
Sabemos que não podemos continuar existindo como povo indígena se não
tivermos liberdade e autonomia e se nossas terras não forem demarcadas,
para que nossos filhos e netos possam ter um futuro seguro. 500 anos atrás
cortaram as árvores que representam os povos e culturas indígenas; hoje,
com nossa luta, voltam a brotar com força as raízes indígenas no Espírito
Santo.

Por tudo isso decidimos, por unanimidade, nesta Assembléia Indígena, lutar
pela retomada de nossas terras, hoje ocupadas pela Aracruz
Celulose. A luta pela terra, que é também a luta pela sobrevivência física
e cultural dos Tupinikim e Guarani, será, daqui para frente, nosso
principal objetivo e não descansaremos até conseguirmos recuperar
integralmente nossas terras.

TERRA É DIREITO DOS POVOS INDÍGENAS

Aldeia Tupinikim de Irajá, 28 de fevereiro de 2005

Comissão de Caciques Tupinikim e Guarani/ES

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