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NOTA DE SOLIDARIEDADE AO POVO GUARANI KAIOWÁ

CIR - http://www.cir.org.br
08 de Mai de 2009

Nós do Conselho Indígena de Roraima, nesse ato representado por nosso Coordenador Geral, Dionito José de Sousa, e os povos que, Macuxi, Wapxana, Ingarikó, Patamona, Yanomami, Wai-wai, Yekuana, Sapará, Taurepang, vimos, por meio dessa, manifestar nossa solidariedade incondicional ao povo indígena Guarani Kaiowá, que se encontra nesse momento em Brasília, no acampamento Abril Indígena, protestando contra os despejos sistemáticos e as demais arbitrariedades cometidas no Mato Grosso do Sul pelo governo de André Puccinelli.

No momento em que os povos indígenas de Roraima colhem os frutos de 32 anos de luta pela conquista da terra e do direito de viver em liberdade, sem os grilhões dos invasores de terras indígenas, lamentamos profundamente que nossos irmãos Guarani Kaiowá estejam sofrendo um processo inverso do nosso, e, nesse ato de solidariedade, nos colocamos a disposição e apoiaremos a sua luta a fim de que conquistem, definitivamente, o direito a terra e a garantia de vida.

Vale lembrar que nós, povos indígenas da Raposa Serra do Sol e os Guarani Kaiowá somos irmãos de luta, uma vez que 2005 foi o ano de homologação tanto da Raposa Serra do Sol quanto da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, no município de Antonio João, no Mato Grosso do Sul.

Após a homologação, resistimos juntos às ameaças, atentados e arbitrariedades da justiça, mas nossos irmãos foram retirados pela força da Policia Federal, que no dia 15 de dezembro de 2005 usou helicópteros e armas para tirar os índios de uma terra que o próprio Presidente da Republica, disse ser deles. Quem ameaça então a soberania do Brasil?

O povo de Nhanderu Marangatu se encontra acampado na beira da MS 380, passando fome, como tantos outros irmãos brasileiros, ao largo de grandes plantações de soja, que se instalam em suas terras ancestrais. Desnutrição, depressão, alcoolismo, violência e suicídios são os resultado práticos das reservas em ilhas, tão defendidas pelos latifundiários.

Em Roraima, nossos irmãos da Terra Indígena Serra da Moça, que vivem em uma área de ilha, tem sua existência ameaçada por fazendeiros que saíram da Raposa Serra do Sol e agora ocupam, sem a licença do governo, as fontes da água da reserva. Nos preocupamos com a condicionante resultante do julgamento de nossa terra, que tende a proibir, de forma absoluta e sem o respaldo da Constituição Federal, a ampliação de qualquer terra indígena e em qualquer circunstância. Como proibir a ampliação sem conhecer a situação concreta de cada caso?

Podem então os povos da Serra da Moça viver sem água? Podem os Guarani Kaiowá viverem em reserva que mais parecem campos de concentração? Nós entendemos que a Constituição nos garante, e é nosso direito, como seres humanos, existir como somos. Para isso precisamos de terra. E nossos irmãos do Mato Grosso do Sul não possuem terras para plantar, matas para caçar nem rios para pescar.

Conhecemos em nosso Estado um caso de genocídio, contra os irmãos Yanomami, quando do ataque da aldeia Haximu em 1993. Entendemos que o que acontece com nossos irmãos Kaiowá também é genocídio, uma vez que seu povo esta desaparecendo, espiritual e fisicamente, pois, apesar de muitos ainda andarem e respirarem, não podem mais ser Guaranis.

Já não há matas no Mato Grosso do Sul. Apenas soja. Mas quem come soja? Não os índios, não os passarinhos, não os animais e tampouco o povo brasileiro. O agrotóxico usado pelo agronegócio ameaça o Aqüífero Guarani, a maior reserva de água doce do mundo.

Nós indígenas estamos muito preocupados. Nos preocupamos com o futuro de nossos irmãos. Somos todos irmãos, brancos e índios, pois vivemos todos no mesmo planeta, na mesma terra. Por isso, exigimos das autoridades a busca de solução imediata da questão da terra e a garantia da preservação dos direitos constitucionais ao povo Guarani Kaowá.

Boa Vista, Roraima, 08 de maio de 2009.
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Dionito José de Sousa
Coordenador do CIR

Conselho Indígena de Roraima

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