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Nota de repúdio contra as atitudes do Coordenador Regional da FUNASA/AM e do Prefeito Municipal de Atalaia do Norte

Coiab-Manaus-AM
18 de Out de 2005

Nota de repúdio contra as atitudes do Coordenador Regional da FUNASA/AM e do Prefeito Municipal de Atalaia do Norte

Apesar da consolidação dos princípios democráticos no Brasil há décadas, muitos brasileiros ainda convivem com uma visão atrasada a respeito da conjuntura política e social, onde índio era bicho e, portanto, deveriam ser tratados como tais.

No dia 17 de outubro do corrente, conforme matéria divulgada no Jornal Diário do Amazonas, sobre o posicionamento do atual Coordenador Regional da FUNASA no Estado do Amazonas (CORE/AM), Sr. Francisco Ayris e do Prefeito de Atalaia do Norte Rosario Conte Galate, os quais demonstram todas as suas ignorâncias e incoerências dentro do contexto relacionado à Saúde Indígena. Sabe-se que essas demandas são de responsabilidade do Governo Federal, através da Fundação Nacional de Saúde, com a participação dos principais beneficiários que têm direito de sugerirem e participarem das decisões que influenciem na implementação do atendimento específico e diferenciado em suas aldeias. No, entanto, em entrevista ao referido jornal essas duas pessoas citaram asneiras que demonstram aquilo que os povos indígenas já vem denunciando através dos meios de comunicação. A conivência político-pardidárias entre a CORE/AM e o Executivo Municipal de Atalaia do Norte, que simplesmente desrespeitam a situação dos povos indígenas em suas comunidades para demonstrarem todo os seus egocentrismos e imposições sobre os indígenas. Segundo Prefeito Municipal, um convicto antiindígena e ignorante para com a questão Indígena, afirma com a convicção de que "INDÍOS CAUSAM PROBLEMAS", e que "sua decisão de nomear seu cunhado Coronel Claudio Gomes é para moralizar a FUNASA e por ordem na casa", dando a entender que o mesmo tem o moral de impor a sua vontade sobre uma instituição federal, coisa que parece até ridícula se tratando de um prefeito que gerencia uma das prefeituras do interior do amazonas com graves problemas de gerenciamento dos recursos destinados para a educação indígena, uma das mais atrasadas do país. Afirma ainda que os índios não aceitam sua indicação por que "eles só querem saber de farra e bebedeira".
A realidade é que os povos indígenas do Vale do Javari já estão cansados de ouvir que fulanos e beltranos irão melhorar a situação de precariedades no interior da Terra Indígena, principalmente de um apadrinhado político dum individuo sem o menor caráter e que usa de todas as suas artimanhas para impor a sua vontade e se sente sem o menor controle sobre um povo que luta por suas vidas, independentemente de que quer que seja ou se sinta menos poderoso com isso.
Demonstrando não ter o menor conhecimento da realidade dos índios no Vale do Javari o atual Coordenador da FUNASA ainda apóia a estratégia de controle e imposições, dizendo que a sua posição não compete a nós, indígenas, decidirmos. Mostrando sua atitude ufanista e egocentrista para com os povos indígenas, não sabendo que ele é apenas uma autoridade passageira, enquanto que nós indígenas seremos sempre índios e continuaremos sofrendo devido a irresponsabilidades como estas, sendo que nunca desistiremos desta luta.

Queremos registra ainda neste documento, que invés do Coordenador ser humilde e ouvir os indígenas, fica acreditando nas conversas de terceiros, nas quais chegou a acreditar que os índios iriam seqüestrá-lo se o mesmo chegasse em Atalaia do Norte-AM, mentindo assim, em pleno meios de comunicação, como uma autoridade que se diz Coordenador para conduzir a saúde das populações indígenas no estado do Amazonas.

É justamente devido a estes atos infundados, que nós indígenas do Vale do Javari não aceitamos mais uma pessoa sem perfil na área de saúde indígena e nem aceitaremos mais as imposições da FUNASA de planejar ações fictícias para os DSEIs, enganando a população brasileira e amazonense sobre a verdadeira situação que se encontra hoje nas aldeias e que estão diante de um grave acúmulo de problemas, sem que tenham a coragem de assumir e colocar em prática aquilo que é de competência institucional da FUNASA.

Nós não estamos se mobilizando para criar problema para a prefeitura, a não ser que a nossa luta pelos nossos direitos sejam problemas para eles, muito menos para o prefeito que não tem nada a ver nas decisões internas dos DSEI´s. O Nosso problema é com a FUNASA.

Nós poderíamos fazer uma outra pressão com o Prefeito por causa dos recursos do FUNDEF, onde se quer construiu uma escola em nossas aldeias, falsificando recibos dos professores indígenas, "com materiais escolares insuficientes nas escolas indígenas, não pagando direito os nossos Agentes de Saúde Indígenas (AISAN) e nem os profissionais de saúde que são pagos pelo recurso do PSFI (programa de saúde Familiar Indígena). Nas oportunidades em que o mesmo esteve na presença de pessoas de fora, responsáveis pelas instituições vinculadas ao Índio, diz ser sempre um parceiro em qualquer situação, más na verdade esse prefeito sempre se recusa em nos atender nas horas de necessidades nos momentos que os procuramos, responde sempre: "não quero acordo com índio".
Para demonstrar seu egocentrismo e estupidez, queremos informar ainda que o Prefeito vem tentando ameaçar as lideranças indígenas nas ruas de Atalaia Norte, dizendo que esse problema de manifestação só vai acabar quando eliminar as lideranças Marubos: como Jorge Duarte, Darcy Comapa e Clovis Rufino, pois segundo ele, são eles que fazem a frente de toda manifestação. Disse ainda proibir os indígenas de permanecerem em seu município, vai mandá-los para sua área, pois as terras indígenas já estão demarcadas.

Em face desta situação, não queremos permitir que essa política suja do toma lá da cá não se torne uma brincadeira e uma tremanda sacanagem contra a dignidade dos nossos povos que estão passando os piores momentos de toda historia indígena. Queremos mais compromisso por parte das autoridades competentes que até então não tomaram consciência de que somos cidadãos indígenas brasileiros; que temos direitos de escolher o melhor para os nossos povos. Estamos condenados à morte por doenças incuráveis que nos deixam indignados cada vez mais, por pessoas que entram sem se quer conhecer nossa realidade e determinam normas que só vem prejudicar nossa saúde. Iremos continuar dentro do prédio da FUNASA o tempo que for necessário, até que resolva as questões em discussão, não somos vinte pessoas na manifestação, é todo Vale do Javari envolvido nesse movimento e outros que ainda estão descendo os rios para aderir a essa manifestação.

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