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NOTA DE REPÚDIO

Rede Deserto Verde
26 de Mai de 2003

A neo-catequese da Aracruz Celulose

Nós, entidades e indivíduos da Rede Deserto Verde queremos manifestar nosso completo repúdio às constantes práticas de "coerção" da empresa Aracruz Celulose, no que tange sua relação com os povos indígenas Tupinikim e Guarani, do Espírito Santo.

Ainda no ano passado, durante a "Primeira Quinzena de Resistência" em torno da inauguração da Nova Fábrica da empresa, a Rede Deserto Verde realizou um conjunto de manifestações públicas: diante da nova fábrica, marchas em Vitória e manifestações diante de parceiros da empresa (Banco Safra/ Jaakko Poyry). Produzimos cartazes e alguns Outdoors, denunciando os graves impactos sociais e ambientais da empresa, sobre a Mata Atlântica, povos indígenas, quilombolas, pescadores, pequenos agricultores, carvoeiros e a população em geral. No dia da manifestação em frente à fábrica, um Outdoor foi destruído. Havia sido colocado pela Rede Deserto Verde dentro da área Guarani de Boa Esperança, com autorização do cacique e das lideranças da comunidade. Questionados pelo cacique Guarani Antônio Carvalho (Toninho), alguns índios confirmaram terem destruído o Outdoor, sugestionados pelo Sr. Getibá Guichard Faustino.

Getibá é bem conhecido nas aldeias indígenas. Cientista social - empresarial, "especialista em relações com comunidades"(sic), contratado da Aracruz Celulose, circula pelas aldeias, anotando demandas, supervisionando o ambiente político, monitorando reuniões, pressionando e sugestionando lideranças indígenas. Como cientista social, somente os mais medíocres poderiam se prestar a esse papel, mais parecido com a velha catequese. Mediar a relação empresa-índio, para o bem da empresa....Não há salário que pague essa função! Haja frieza científica.

Pois esse mesmo senhor Getibá, neste mês de Maio, aprontou mais uma das suas. Pressionou o quanto pode o cacique Guarani Toninho, para que não participasse da Audiência Pública, em Brasília, na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, ocorrida no dia 7 de maio de 2003. Toninho foi formalmente convidado a depor pela Comissão, em companhia de Domingos Chapoca, liderança quilombola, Seu Jair, ex-trabalhador acidentado, Derli Casali, representante do Movimento dos Pequenos Agricultores e Marcelo Calazans, sociólogo da FASE, todos membros Rede Deserto Verde. Todos os depoentes confirmaram a Violação de Direitos Econômicos Sociais Culturais e Ambientais, provocada pela empresa Aracruz Celulose: o direito à terra, o direito à água, ao desenvolvimento, às culturas tradicionais, ao trabalho, todos esses direitos vêm sendo continuamente violados pela Aracruz Celulose. Aracruz Celulose, mais uma vez convidada, se recusou a participar do debate público. Prefere agir no espaço privado.

Sem conseguir persuadir o cacique Toninho, para que se ausentasse da Audiência, Getibá passou a pressioná-lo, quando de seu regresso ao Espírito Santo. Segundo o cacique, chegou a ameaçar retaliações sobre as aldeias Guarani, por parte da empresa que ele representa. Disse a Toninho que a Diretoria de Meio Ambiente e Relações Corporativas da empresa desaprovara seu fracasso antropológico e a conseqüente insistência do cacique em depor.

O Acordo Aracruz-Aldeias, assinado sob obscuras condições de pressão sobre os índios, considerado "ilegal" pelo próprio Ministério Público Federal, ainda assim tem sido um instrumento de barganha da empresa, junto às comunidades. Pelo Acordo, a empresa repassa minguados recursos e, em troca, fica com 10.511 ha. Mas paralelo ao acordo, oferece, por fora, ou incentiva pedidos de indivíduos e comunidades, mas ameaça cortar se não houver o silêncio e a passividade, principalmente nos espaços públicos e na mídia.

Para isso, contratou um especialista... Para aceitarem os parcos benefícios oferecidos pela empresa, os índios devem abrir mão de suas lutas históricas, pela terra, pelos rios, pelas matas. A Aracruz oferece o curto prazo para que os índios abram mão do longo prazo! Através de um acordo suspeito e de seu cientista-catequista, pressionam caciques e lideranças para que se afastem de seus históricos parceiros da Rede Deserto Verde, sob ameaça de "ruptura do contrato". De óbvia invasora, a empresa quer forjar-se como parceira, no vocabulário e no imaginário indígena. Repudiamos tal catequese!

Repudiamos qualquer tipo de coerção da empresa sobre os povos indígenas e seus caciques. Os Guarani e Tupinikim do Espírito Santo têm o direito de escolher seus parceiros e suas lutas, sem serem ameaçados ou pressionados pela Aracruz.

Vitória, 26 de maio de 2003.

Assinam essa carta:

1. AGB - Associação do Geógrafos Brasileiros/ES

2. AITG - Associação Indígena Tupinikim Guarani

3. Apedema (Assemb. Permanente de Ent. de Def. do M. Ambiente-RJ)

4. Associação Padre Gabriel Maire em Defesa da Vida

5. Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Baixo Guandu

6. Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Extremo Sul da BA

7. Centro de Defesa dos Direitos Humanos da Serra/ES

8. Centro de Defesa dos Direitos Humanos de S. Gabriel da Palha

9. Centro de Defesa dos Direitos Humanos - Regional Sul

10. CECUN/ES - Centro de Estudo e Cultura Negra/ES

11. CEPEDES - Centro de Pesq. p/ Desenv. do Extremo Sul da BA

12. CIMI/ES - Conselho Indigenísta Missionários/ES

13. COMIN - Conselho de Missão entre Índios

14. Comissão dos Caciques Tupinikim e Guarani

15. Comunidades Negras Quilombolas do Sapê do Norte

16. CPT São Mateus - Comissão Pastoral da Terra

17. Espaço Cultural da Paz - Teixeira de Freitas

18. Erick Alessandro Schunig Fernandes - Professor e Estudante Comunicação UFES

19. FAMOPES - Fed. das Assoc. de Moradores e Mov. Populares do ES

20. FASE/ES - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional

21. Fórum de Lutas do Campo e da Cidade

22. Fórum Estadual de Mulheres/ES

23. Helder Gomes, mestre em economia pela UFES

24. Iriny Lopes - Deputada Federal PT/ES

25. Pastoral Indigenista - Diocese de Colatina

26. Paulo César Scarim - Geógrafo

27. Pr. Emil Schubert - Sínodo ES a Belém - IECLB

28. Koinonia - RJ - Presença Ecumênica e Serviço

29. Marilda Telles Maracci - Geógrafa - ES

30. Movimento Nacional de Direitos Humanos/Regional Leste I

31. Movimento Nacional de Meninas e Meninos de Rua

32. MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores

33. MST/ES - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

34. OJAB - Organização da Juventude Negra - Nação Zumbi

35. Sebastião Ribeiro - Advogado Ambientalista

36. STR de São Gabriel da Palha e Vila Valério

37. STR de São Mateus e Jaguaré

38. SINDPETRO/ES - Sindicato dos Petroleiros do ES

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