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Nossa rica natureza vai virando remédio, perfume...

OESP, Vida, p. A16
21 de Out de 2004

Nossa rica natureza vai virando remédio, perfume...
A empresa Extracta é exemplo bem-sucedido do aproveitamento de plantas em medicamentos e cosméticos

Evanildo da Silveira

Muito se tem falado sobre a riqueza da biodiversidade do Brasil, a maior do mundo, e de como o País não sabe aproveitá-la. Aos poucos, no entanto, começam a surgir iniciativas, de empresas ou pesquisadores, para transformar esse patrimônio natural em produtos úteis, como medicamentos ou cosméticos. Um exemplo recente e bem sucedido é a Extracta Moléculas Naturais, empresa biotecnológica incubada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que começa a caminhar por conta própria.
Fundada em 1998, pelo médico pesquisador Antonio Paes de Carvalho, a Extracta nasceu com o objetivo de encontrar na biodiversidade brasileira novas moléculas naturais, desconhecidas dos químicos, que tivessem atividade biológica sobre alvos de interesse farmacêutico. "Hoje, nos interessamos na inovação em fitoterápicos e no desenvolvimento de produtos para as indústria de cosméticos e fragrâncias e de controle de pragas agrícolas", explica Carvalho.
Desde junho, a Extracta é a única empresa brasileira autorizada pelo Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN), do Ministério do Meio Ambiente, a realizar coleta de material genético da biodiversidade - no caso de plantas - brasileira para fins comerciais. Mesmo sem a licença, a empresa já vinha colhendo extratos vegetais, que deram origem a sua coleção de 40 mil compostos químicos.
A autorização do CGEN, além liberar novas coletas por dois anos, legaliza esse estoque. Com isso também mudou a atitude dos grandes clientes internacionais da Extracta. "Agora eles se sentem seguros para contratar serviços de pesquisa e desenvolvimento com a nossa empresa", comemora Carvalho.
Alvos
Por enquanto, a empresa carioca tem cinco clientes, entre eles a multinacional GlaxoSmithKline, com a qual mantém um contrato de US$ 3,2 milhões. Esses parceiros procuram a Extracta e apresentam um alvo biológico. Pode ser um microorganismo que se queira destruir, porque causa uma doença, ou uma enzima que se deseje inibir, pelo mesmo motivo.
O que a empresa faz então é testar os extratos vegetais - misturas complexas, com 200 a 300 moléculas diferentes - sobre esse alvo. Em média, a cada 10 mil extratos testados encontra uma molécula útil. "Os que tiverem o efeito desejado são passados para o cliente", diz Carvalho. "Se de algum deles resultar um produto ou medicamento, por exemplo, nós recebemos royalties." O dono da terra onde foi feita a coleta também ganha. Ele recebe 2,5% da receita que a Extracta obtiver de um produto oriundo daquela propriedade.
Até agora, os resultados mais promissores foram obtidos contra dois alvos do GlaxoSmithKline: o microorganismo Staphilococcus aureus, principal responsável pelas infecções hospitalares, e a enzima elastase, envolvida em doenças pulmonares crônicas. "Isolamos dez compostos puros, que são ativos contra esses dois alvos", conta Carvalho.
Para montar seu banco de compostos químicos, os pesquisadores da Extracta realizaram 179 expedições de coleta, tendo recolhido cerca de 11 mil extratos de várias partes (raiz, caule, folhas, flores e frutos) de 5 mil espécies de plantas, 80% da mata atlântica. Desse extratos é que foram retirados os 40 mil compostos.

Planta pode gerar nova droga contra Alzheimer
Um novo produto, sintetizado a partir de substâncias encontradas numa planta comum na mata atlântica e no cerrado, que poderá resultar num medicamento para tratar o mal de Alzheimer, é mais um exemplo do que pode render a biodiversidade brasileira. Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriram, num trabalho em conjunto, compostos na planta Cassia spectabilis que podem ter ação contra a doença que afeta 15 milhões de pessoas em todo o mundo.
Segundo a pesquisadora Vanderlan da Silva Bolzani, da Unesp, o objetivo do trabalho conjunto era identificar plantas com substâncias que podem dar origem a drogas para tratar o mal de Alzheimer. "Há poucos medicamentos no mercado para essa doença", explica. "Além disso, a maioria causa efeitos colaterais."
Das substâncias retiradas da planta, popularmente conhecida como cássia do nordeste, os pesquisadores sintetizaram um produto, já patenteado, que pode vir a se transformar num fármaco. "Trata-se de um forte candidato a um novo medicamento, igual e, em algumas situações, até melhor do que os existentes", diz Carlos Alberto Fraga, da UFRJ.
De acordo com os pesquisadores, três indústrias farmacêuticas já demonstraram interesse no produto. Um nova droga só estaria pronta, no entanto, em no mínimo cinco anos.

OESP, 21/10/2004, Vida, p. A16

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