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Normas para ser socialmente responsável

O Globo, Economia, p. 26
10 de Mar de 2010

Normas para ser socialmente responsável
Em fase final de elaboração, ISO 26000 estabelece parâmetros para um consumo mais consciente

Luciana Casemiro

O que é ser socialmente responsável? É isso que a ISO 26000 vem responder. Formulada por mais de 400 especialistas (entre representantes de indústrias, governos, trabalhadores, consumidores, ONGs, setor de pesquisas e normas etc.) de mais de cem países, incluindo o Brasil, a regulamentação, diferentemente das demais ISO (9000 e 14000), não cria padrões de gestão, mas parâmetros que permitirão ao cidadão validar e comparar quão socialmente responsável as corporações são. Estas, por sua vez, terão uma noção clara de como se comportar com responsabilidade. Na ISO 26000 os problemas dos consumidores são considerados elementos essenciais à responsabilidade social. Questões como práticas comerciais justas, proteção da saúde e da segurança do consumidor, consumo sustentável e acesso a serviços essenciais estão no coração da norma.
Conselheira política da Consumers International (CI), que congrega 220 entidades de 115 países, Sadie Homer afirma que os consumidores querem fazer escolhas responsáveis. Essa tendência, diz a inglesa, é crescente e se tornou central para o modelo de negócios do futuro. As empresas que negligenciarem esses parâmetros, acredita Sadie, ficarão para trás.
- A ISO 26000 não é apenas uma ferramenta que permite avaliar como as empresas se comportam, mas também dá aos consumidores a possibilidade de comparar fornecedores e fazer escolhas conscientes. A ISO é certamente um passo na direção de modelos mais responsáveis de consumo. Afinal, o objetivo da responsabilidade social é contribuir para o desenvolvimento sustentável. Na ISO 26000, o impacto de uma organização sobre o meio ambiente tornou-se uma parte crítica de medir o seu desempenho global. Países e empresas já não podem agir isolada ou impunemente - afirma Sadie, que coordena o grupo de trabalho da CI na ISO 26000, que reúne 80 especialistas.
O texto da ISO 26000 - que começou a ser debatido em 2005 - foi aprovado por mais de 80% dos participantes do grupo de trabalho, no último mês, e deve ser publicado até outubro, alçando os consumidores de todo mundo a um novo patamar. O Brasil - que este ano celebra duas décadas da promulgação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) - é um dos signatários da norma. A delegação brasileira no grupo de trabalho tem representantes de todos os setores. Eduardo Campos de São Thiago, gerente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e cossecretário do grupo de trabalho da ISO, diz que o envolvimento da sociedade é o desafio para o sucesso na aplicação da norma:
- Desde o princípio da discussão da norma, a ABNT vem trabalhando na conscientização de empresas através de workshops. Acreditamos que o impacto dessa norma vai ser enorme. Há muitas empresas que desejam ser
responsáveis, mas não sabem como. E esse conceito abrange direitos humanos, práticas laborais, meio ambiente, é um enfoque holístico. Quando estabelecemos um parâmetro, começamos a gerar um processo novo, e esses conceitos passam a ser exigidos pela sociedade. A norma não é certificável, mas a sociedade terá mecanismos para verificar se os parâmetros estão sendo seguidos - explica.
As 94 páginas do documento estão sendo analisadas com lupa pelas entidades de defesa do consumidor, que começam a elaborar estratégias para fazer com que a ISO 26000 seja incorporada como um novo padrão de avaliação pela sociedade. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), por exemplo, passará a adotar a norma em seus testes, diz a pesquisadora Adriana Charoux:
- Todos os questionamentos e pesquisas que fizermos vão verificar o comportamento das empresas a partir da ISO 26000. Precisamos saber se o discurso está de acordo com a prática.
Adriana destaca que o risco de impacto econômico da adoção da norma sobre os preços dos produtos, que poderia levar à hierarquização dos consumidores - os que podem pagar por produtos socialmente responsáveis e os demais - poderia ser resolvido transformando esses parâmetros em política de governo.
- Apesar de a norma não prever uma certificação, ela pode, em algum momento, ser exigida por governos em suas relações comerciais, o que seria uma forma de universalizar diretos e deveres. A adoção de um novo sistema de produção limpo e justo pode até reduzir custo - afirma Adriana.
Para Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Pro Teste - Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, trata-se de uma questão de cidadania: - A tendência é nos aprofundarmos cada vez mais nesses temas.
Leia o texto da norma, em português, em .

O Globo, 10/03/2010, Economia, p. 26

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