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19 de Nov de 2024
No último dia da cúpula do G20, Lula propõe que países antecipem suas metas para o clima
Em apelo ambiental aos líderes do bloco, presidente apontou que as 19 principais economias do mundo, sentadas à mesa no MAM, são responsáveis por 80% das emissões
Filipe Barini, Thayz Guimarães e Amanda Scatolini
19/11/2024
Com a pauta ambiental em destaque, o último dia da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro serviu também como uma espécie de pontapé para o próximo grande evento internacional a ser sediado no Brasil, a 30ª Conferência da ONU para o Clima, que ocorrerá ano que vem em Belém. Na última sessão de trabalho da reunião dos chefes de Estado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que já havia pressionado pela inclusão de ações climáticas na declaração final do encontro, divulgada na segunda-feira - fez um apelo aos demais líderes do bloco para que antecipem suas metas de neutralidade de emissões de gases estufa em ao menos cinco anos. O encerramento da cúpula também trouxe avanços importantes na questão da transição energética, com o firmamento de parcerias brasileiras tanto com o Reino Unido quanto com os Estados Unidos, além de um esforço conjunto com a ONU e a Unesco para combater a desinformação sobre as mudanças climáticas.
- Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais - disse Lula. - Aos países em desenvolvimento, faço um chamado para que suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas, em inglês) cubram toda a economia e todos os gases de efeito estufa.
Na declaração final do G20, adotada na segunda-feira, apesar de objeções iniciais da Argentina, o capítulo sobre "Desenvolvimento Sustentável, Transições Energéticas e Ação Climática" foi um dos mais extensos, e reiterou que todas as ações devem ser adotadas levando em conta as dimensões "econômica, social e ambiental", de preferência no âmbito multilateral. Na fala desta terça, o presidente defendeu a criação de um Conselho de Mudança do Clima na ONU, "que articule diferentes atores, processos e mecanismos que hoje se encontram fragmentados", e lembrou que os países cujas lideranças estavam sentadas à mesa hoje são responsáveis por 80% das emissões globais.
- A esperança renasce a cada compromisso e ato de coragem em defesa da vida e da preservação das condições em que ela nos foi dada - afirmou Lula.
De acordo com o presidente, o Brasil assumiu a meta de reduzir, até 2035, as emissões de carbono de 59% a 67%, comparado a 2005. Lula reiterou também a meta de acabar com o desmatamento ilegal até 2030, afirmando que houve uma queda de 45% na destruição das matas nos últimos dois anos, e instou a comunidade internacional "a fazer a sua parte" no combate às mudanças no clima.
- Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia continuará ameaçada se o resto do mundo não cumprir a missão de conter o aquecimento global - declarou. - Os oceanos são outro importante regulador climático e fonte potencial de soluções. Eles também devem ser objeto prioritário das nossas preocupações.
Lula também criticou o volume de contribuições globais para ações ambientais, considerado abaixo do necessário: segundo ele, há 9 anos, durante a conferência que sagrou os Acordos de Paris, se falava em um volume de US$ 100 bilhões anuais, mas o valor hoje chegar "a trilhões" de dólares. Na semana passada, um grupo independente de economistas disse durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão, que se nada for feito agora, será necessário adotar ações na ordem de US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.
- Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos, enquanto o planeta agoniza - disse o presidente.
Além de fazer um chamado por soluções na COP29, Lula também disse que a COP30 "será nossa última chance de evitar uma ruptura irreversível no sistema climático".
- Conto com todos para fazer de Belém a COP da virada - disse Lula.
Efeito Trump
Pilar da presidência do Brasil no G20, a pauta do meio ambiente reverbera na questão da transição energética limpa, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas, no âmbito do Acordo de Paris. Nesse contexto, importantes acordos foram firmados no último dia da cúpula no Rio de Janeiro.
Um delas foi a Aliança Global de Energia Limpa, anunciada pelo premier britânico, Keir Starmer, em entrevista coletiva às margens da cúpula. Lançada em parceria com o Brasil e outros países, o objetivo da aliança é "acelerar a transição para a energia limpa, reduzir as contas de energia, aumentar a segurança energética e reduzir as emissões ao redor do mundo", destacou o primeiro-ministro.
Também foi oficializada a nova parceria entre o Brasil e os EUA para a transição energética. A ação, antecipada pelo GLOBO na véspera da cúpula dos chefes de Estado, prevê a colaboração entre os dois países na "produção e implantação de energia limpa", no "desenvolvimento da cadeia de suprimento de tecnologia de energia limpa" e na "industrialização verde".
O combate às mudanças climáticas é um dos principais temas da agenda compartilhada por Lula e Biden, e deve ser uma área de atrito entre o presidente brasileiro e Donald Trump, que retornará à Casa Branca em 20 de janeiro com uma política ambiental que já preocupa especialistas em clima.
Um indicativo disso foi o anúncio de Trump para o cargo de secretário de Energia: Chris Wright, executivo do setor de petróleo e gás e negacionista das mudanças climáticas. Mas o próprio Trump expressa suas dúvidas quanto aos efeitos do aquecimento global - em seu primeiro mandato, o republicano deixou o Acordo de Paris para o clima, e tem sinalizado que fará o mesmo ao reassumir a Presidência.
No discurso desta terça-feira, Lula fez uma menção indireta aos que questionam o que a ciência comprovou ser um processo avançado de alterações nos padrões climáticos, e perigoso para toda a Humanidade.
- Na luta pela sobrevivência, não há espaço para o negacionismo e a desinformação. O Brasil seguirá trabalhando com a ONU e com a Unesco na Iniciativa Global pela Integridade das Informações sobre a Mudança do Clima - disse o presidente
Além das parcerias com os governos americano e britânico, o Brasil também firmou um acordo com a ONU e a Unesco para fortalecer pesquisas que combatam a desinformação sobre as mudanças climáticas.
- O papel dos jornalistas é fundamental no acesso a informações confiáveis e nos ajuda a entender informações científicas complexas - disse a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, ao anunciar o acordo.
https://oglobo.globo.com/mundo/g20-no-brasil/noticia/2024/11/19/no-ence…
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