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No ritmo atual, país levaria 129 anos para cumprir metas de saneamento

FSP, Cotidiano, p. B3
28 de Abr de 2015

No ritmo atual, país levaria 129 anos para cumprir metas de saneamento
Ranking produzido pelo Instituto TrataBrasil avaliou o serviço nos cem maiores municípios
Coleta de esgoto subiu 0,3 ponto percentual em um ano e atende atualmente 48,6% da população no Brasil

FABRÍCIO LOBEL FELIPE SOUZA DE SÃO PAULO

No ritmo atual, o Brasil demoraria 129 anos para cumprir metas federais de universalização do saneamento básico. Essa lentidão é a principal conclusão do Ranking do Saneamento Básico, do Instituto TrataBrasil. Ele avaliou o serviço nas cem maiores cidades do país.

Com só 39% da população com esgoto tratado, 0,3 ponto percentual acima do ranking de 2014, o país está longe de atingir as metas do Plano Nacional de Saneamento Básico, que prevê a universalização do serviço até 2033.

Enquanto isso, milhões de brasileiros vivem em ambientes de risco à saúde, sem contar os impactos na economia e na educação.

É o caso da auxiliar Rosemary Guedes, 42, que construiu um barraco na favela do Tanque, no extremo leste de São Paulo, há 20 anos.

"Todo dia aparece alguém doente, com dengue, e o lixo só aumenta. Quando casas caem, o governo vem aqui, mas não resolve nada", diz.

Ela e outras 150 famílias convivem com a rotina de caçar ratos e espantar moscas que rondam o fétido córrego que corta a região, no bairro de São Mateus.

Crianças brincam descalças ao lado da fossa a céu aberto, onde desemboca o esgoto do bairro todo e há acúmulo de entulho, cacos de vidro e muito lixo.

Segundo o ranking, em um ano, a coleta de esgoto (que falta na casa de Rosemary) subiu apenas 0,3 ponto percentual e atende agora 48,6% da população. O tratamento do esgoto também avançou 0,3 ponto percentual. Com isso, atingiu 39% do volume de água disponibilizado.

Já a população atendida com água tratada caiu 0,2 ponto percentual. O índice está agora em 82,5% dos brasileiros com acesso ao serviço.

Se for considerado o ritmo de avanço nos últimos cinco anos, o Brasil chegaria à universalização do saneamento em 129 anos. "Houve avanço, mas está muito distante das necessidades do país", diz o presidente do Instituto TrataBrasil, Édison Carlos.

Segundo o estudo, entre as cidades que não deverão cumprir a meta há capitais como Manaus (AM), Belém (PA) e Porto Velho (RO).

Carlos diz que era esperada evolução maior no saneamento das grandes cidades, pois elas concentram recursos e têm melhor estrutura que pequenos municípios. "Os grandes municípios sabem fazer licitação, têm capacidade técnica, acesso a crédito."

Com quase 500 mil habitantes, a capital de Rondônia nunca tratou um litro de esgoto. E, em 2013, só 2,7% do esgoto era captado.

Quase todo o esgoto de Porto Velho vai para fossas ou escorre até córregos e rios. Mesmo assim, a cidade investiu na área só 0,01% da arrecadação em 2013.

Já Franca (a 400 km de SP) ficou pela segunda vez seguida em primeiro lugar no ranking. Ali, toda a população tem acesso a água tratada e coleta de esgoto. O município trata 78% do esgoto.

Em seguida aparecem as cidades de Maringá (PR) e Limeira (SP).

FSP, 28/04/2015, Cotidiano, p. B3

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/217510-no-ritmo-atual-pais-l…

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