VOLTAR

No Rio, indústrias e favelas ameaçam os santuários

OESP, Vida, p.A23
08 de Mai de 2005

No Rio, indústrias e favelas ameaçam os santuários
Área de proteção de Guapimirim sofreu com derramamento de óleo e é ameaçada por
poluição industrial; o crescimento desordenado de favelas é um perigo para a Tijuca
Clarissa Thomé
A Área de Proteção Ambiental de Guapimirim, berçário da Baía de Guanabara, recebeu um presente ingrato no ano em que completa 21 anos: 60 mil litros de óleo diesel foram derramados no Rio Caceribu, considerado o mais preservado entre os que desembocam na baía. Mas a expectativa dos ambientalistas é de que o ecossistema se recupere rápido. "O impacto do óleo será temporário. O manguezal se recupera com vigor, é um meio muito adaptável", acredita o chefe da APA, Breno Herrera.
A APA tem 14 mil hectares de área e corta quatro municípios do Grande Rio - São Gonçalo, Itaboraí, Guapimirim e Magé. Quem percorre os canais do mangue depara com 172 espécies de aves, que andaram sumidas por conta do odor forte de óleo, mas já começam a reaparecer. São colhereiros, socós, garças, biguatingas e urubus-rei - estes dois ameaçados de extinção no Estado. Há também lontras, capivaras, guaxinins, jacarés-de-papo-amarelo, tartarugas.
Três mil pessoas moram na APA. Sobrevivem da pesca e da coleta de caranguejos. Elas não ameaçam o meio ambiente, diz Herrera. O principal problema da unidade de conservação é o despejo industrial, que vem do complexo petroquímico de Duque de Caxias e das empresas de plástico. Segundo o chefe da APA, os resíduos chegam ao manguezal.
A APA é ameaçada ainda pela desordem urbana. Em São Gonçalo, favelas crescem em direção à unidade de conservação. Os fiscais do Ibama também tentam impedir a extração de madeira para a fabricação de currais de pesca.
Para proteger a região, Herrera luta pela criação da Estação Ecológica da Guanabara, que ocuparia área de 2 mil hectares no trecho do baixo curso dos Rios Caceribu, Guaxindiba e Guaraí. Ao contrário de uma área de proteção ambiental, que permite a convivência do homem, a estação ecológica é destinada só para pesquisa. "Falta um espaço de reprodução livre. Com um ano de área de exclusão de pesca, é natural que as espécies aumentem a reprodução e colonizem o entorno", diz Herrera. A primeira audiência pública sobre o assunto está marcada para o dia 19.
TIJUCA
A 30 minutos do centro do Rio, fica o Parque Nacional da Tijuca, única unidade de conservação ambiental do País no coração de uma metrópole. São 3.953 hectares de montanhas e picos (69), vales (42), grutas e abrigos (61), divididos em quatro áreas: Floresta da Tijuca, Sumaré e Corcovado, Pedra Bonita e Pedra da Gávea, e Pretos Forros e Covanca.
O parque tem fauna e flora riquíssimas. São 1.548 espécies vegetais, 189 tipos de aves, como beija-flor, tucano, sabiá, sanhaço, 72 espécies de mamíferos (morcegos, preguiças, pacas, guaxinins), 33 tipos de répteis e 37 de anfíbios. Mas nem sempre foi assim. Em meados do século 19, a cidade enfrentou sérios problemas de água e uma das causas apontadas foi a destruição das matas das bacias do Maciço da Tijuca. D. Pedro II determinou que os cafezais dessem lugar à floresta, novamente. Foram plantadas, então, cerca de 80 mil mudas em 12 anos.
A administração do parque se prepara, agora, para plantar 60 mil mudas que vão substituir plantas exóticas (como jaqueiras e dracenas) e reflorestar 224 mil metros quadrados. Isso levará dois anos.
O parque atrai cerca de 2 milhões de visitantes por ano. Desde o turista que vai ao Cristo Redentor, no Corcovado, passando pelos que vão às rampas de vôo e parapente da Pedra Bonita e às cachoeiras, aos ecoturistas, que fazem trilhas até a Pedra da Gávea e os Picos da Tijuca e do Papagaio.
O PNT sofre também com o desordenamento urbano - 46 favelas o cercam -, e com as queimadas, provocadas por balões, velas de rituais religiosos e queima de lixo nas comunidades do entorno.

OESP, 08/05/2005, p. A23

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.