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No rastro da lama

O Globo, País, p. 3
09 de Nov de 2015

No rastro da lama

Mariana Sanches*, Dandara Tinoco*, Bruno Dalvi e Emiliano Urbim

Rio, VITÓRIA (ES) e Mariana (MG) - Depois de arrasar a área rural de Mariana (MG), a lama de rejeito mineral liberada pelo rompimento de duas barragens da mineradora Samarco na última quinta-feira, em Bento Rodrigues, vai prejudicar o abastecimento de água de meio milhão de pessoas em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O Serviço Autônomo de Abastecimento de Água e Esgoto de Governador Valadares (MG) suspendeu às 13h deste domingo a coleta de água do Rio Doce, contaminado pela lama das barragens. De acordo com a empresa, a captação foi interrompida assim que o rio começou a apresentar coloração mais escura. Segundo análise dos técnicos, o nível de contaminação da água é alto, o que impede seu tratamento e sua distribuição. Não há previsão para a retomada da coleta de água no município, de 276 mil habitantes.
A lama deve descer o Rio Doce até sua foz, no Espírito Santo, e cidades capixabas banhadas por ele já estão em alerta. A defesa civil de Minas Gerais monitora o deslocamento da massa de 62 milhões de metros quadrados de rejeitos de mineração e água. Embora afirme que a velocidade com que o lamaçal se desloca sobre a calha do Rio Doce varie de acordo com as chuvas ou a topografia do solo, o coronel Helbert Figueiró, coordenador da Defesa Civil de Minas Gerais, afirmou que, até o seu final, a enxurrada terá atingido, no mínimo, 23 municípios em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O monitoramento do trajeto pelo qual a massa avermelhada escorre é importante também porque os bombeiros afirmam que pelo menos parte dos desaparecidos deve ter sido arrastada pela correnteza. Dois corpos foram encontrados no leito do Rio Doce nos últimos dias. No entanto, eles ainda não estão identificados, e por isso não foram oficialmente relacionados ao acidente.
A previsão é que o nível do Rio Doce suba entre 1,5 metro e 2 metros. Mesmo assim, segundo técnicos que monitoram a tragédia, a onda não causará enchentes na região, que enfrenta uma das piores secas da História.
- Foi feito um estudo técnico e não há risco de inundação em nenhum dos municípios para frente da calha do rio - afirmou Helbert Figueiró.
A Agência Nacional de Águas (ANA) informou, por meio de assessoria, que não há risco de enchente das margens ribeirinhas ao longo do Rio Doce.
Um boletim divulgado ontem em conjunto pelo Serviço Geológico do Brasil, o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e a Agência Nacional de Águas afirma que a onda de resíduos deve chegar hoje a Galileia e Conselheiro Pena, em Minas Gerais. Na terça-feira, atinge o Espírito Santo, chegando a Aimorés e Baixo Guandu. Ainda segundo o boletim, a lama deve chegar quarta-feira am Colatina, e, quinta-feira, em Linhares, no litoral capixaba.
A cidade de Colatina, com 122 mil habitantes, deve interromper a coleta de água quando a lama chegar. Nos últimos dias, a população da cidade correu ao comércio local atrás de garrafas de água mineral. Devido à alta demanda, distribuidoras de galões de água acabaram com seus estoques já no sábado.
Em Linhares, com 110 mil habitantes, a prefeitura aumentou a barragem do Rio Pequeno, onde é feita a captação da água. O objetivo é impedir que as águas do Rio Pequeno sejam contaminadas pelas do Rio Doce. A Defesa Civil do Espírito Santo orienta a população ribeirinha a desocupar as margens do Rio Doce.
A Secretaria Estadual de Educação do Espírito Santo anunciou que vai suspender as aulas em 12 escolas nos municípios de Baixo Guandu e Colatina, a partir de hoje, em função da chegada da lama que desce pelo leito do Rio Doce, e o desabastecimento na cidade.
A prefeitura de Mariana divulgou nova lista de desaparecidos na noite deste domingo. Segundo o município, duas pessoas foram encontradas hospedadas em hotel da região. A família não sabia do paredeiro dos dois e comunicara o desaparecimento. O número de desaparecidos agora caiu para 26. Os dois homens encontrados em hotel são Arnado Zifirino, de 40 anos, e Joaquim Zifirino, de 70 anos.
Mais cedo, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, dissera ser difícil encontrar sobreviventes do acidente nas barragens de rejeitos de minério no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG). Em coletiva de imprensa no fim da manhã, o governo recuou e informou que apenas uma morte - a de um funcionário que sofreu um infarto no local do acidente - pode ser relacionada à tragédia. Outros dois corpos foram encontrados no leito do Rio Doce. As buscas pelos 28 desaparecidos devem continuar por tempo indefinido. * Enviadas especias

O Globo, 09/11/2015, País, p. 3

http://oglobo.globo.com/brasil/tragedia-pode-afetar-abastecimento-de-ag…

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