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No Congresso, donos de terras vão decidir sobre desmatamento

FSP, Brasil, p. A9
21 de Mar de 2009

No Congresso, donos de terras vão decidir sobre desmatamento
Integrantes das comissões de Agricultura possuem, juntos, o equivalente a 40% da cidade de SP em propriedades rurais
O rebanho do grupo reúne 37 mil cabeças; comissões vão debater mudanças em Código Florestal, que define limites de desmatamento

Marta Salomon
Da sucursal de Brasília

Os integrantes das comissões de Agricultura da Câmara e do Senado, que analisam mudanças nos limites de desmatamento no país, detêm, juntos, o equivalente a pelo menos 40% do território da cidade de São Paulo em terras: 604 km2.
A Folha considerou apenas as propriedades que tiveram o tamanho detalhado nas declarações apresentadas pelos deputados e senadores. O rebanho do grupo reúne 37 mil cabeças.
"A maioria aqui é proprietária de terras", calcula a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e integrante da comissão.
No Senado, 8 dos 17 titulares se declaram donos de terras. Na Câmara, a proporção cresce: 21 dos 36 deputados titulares da comissão se apresentam como produtores rurais e apenas 5 como agricultores.
"Agricultura é a comissão mais disputada do Congresso", atesta o deputado Abelardo Lupion (DEM-PR), um de seus integrantes, além de coordenador da bancada ruralista da Câmara, tida como a maior das bancadas informais: tem mais deputados que PMDB e PT juntos (os dois maiores partidos na Câmara) e só perde em número de senadores para o PMDB. "Como somos muitos ruralistas, a disputa para integrar a Agricultura é muito grande", diz. A renovação dos integrantes foi pequena neste ano: 30% na Câmara e 35% no Senado.
A orientação dos ruralistas foi emplacar parte de seus representantes também nas comissões de Meio Ambiente da Câmara e do Senado, que também terão papel importante no debate dos limites de desmatamento. Segundo cálculo da frente, os ruralistas controlam entre 80% e 85% das vagas nas comissões de Agricultura e metade das vagas nas comissões de Meio Ambiente.

Código Florestal
O principal assunto das comissões de Agricultura neste ano é definir mudanças no Código Florestal. Alterado por medida provisória em 2001, após onda de desmatamento na Amazônia, o código reduziu o limite de desmatamento de propriedades na Amazônia Legal (20% nas áreas de floresta e 35% nas de cerrado).
Decreto editado em 2008 pelo presidente Lula fixou prazo até o final deste ano para começar a punir proprietários rurais pelo descumprimento dos limites de reserva legal. Daí a pressa em mudar as regras do jogo.
As negociações começaram no ano passado. Mas chegaram a um impasse depois de atritos entre os ministros Reinhold Stephanes (Agricultura) e Carlos Minc (Meio Ambiente). O pivô foi uma proposta de anistia a desmatadores.
Uma nova versão de acordo ainda em negociação, a que a Folha teve acesso, prevê uma moratória de cinco anos para novos desmatamentos, mas admite o uso de espécies exóticas na recuperação de áreas desmatadas. Também seria tolerada a recomposição da reserva legal fora da propriedade e, eventualmente, até em outro Estado ou bioma.
A contabilidade das terras dos integrantes da Comissão de Agricultura é subestimada. Fábio Souto (DEM-BA), que preside a comissão na Câmara, por exemplo, declara ser proprietário de cinco fazendas, cujos tamanhos não são declarados. O maior rebanho declarado pertence ao deputado Tatico (PTB-GO): 25 mil cabeças.
A Folha identificou entre os doadores de campanha das bancadas, contribuições em maior número dos frigoríficos Friboi e Marfrig, das produtoras de insumos Ultrafértil, Nortox e Bunge e da Sadia.

FSP, 21/03/2009, Brasil, p. A9

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