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No chão da floresta, produção sem destruição

OESP, Caderno Especial Dia do Meio Ambiente, p. 12
05 de Jun de 2022

No chão da floresta, produção sem destruição
Emprego, geração de renda e respeito à vocação local sustentam os ecossistemas

Estadão Blue Studio
O Estado de S.Paulo
05/06/2022

Em vez do discurso, a prática. São vários os modelos para fomentar a bioeconomia amazônica, mas os que mostram mais resultados, até agora, são aqueles que levam em consideração quem vive no chão da floresta.

Criado em 2016 pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora) e pelo Instituto Socioambiental (ISA), o Origens Brasil, por exemplo, tem como função conectar quem produz com quem compra, além de mediar essa transação para que seja feita de forma ética, responsável, transparente e que não afete a forma de vida das comunidades amazônicas. "Tudo isso é feito a partir de um coletivo de empresas, ONGs e lideranças indígenas do Xingu", conta Patrícia Gomes, secretária executiva adjunta do Imaflora e gerente do Origens Brasil.

Os produtos que fazem parte da iniciativa são os mais variados possíveis, de artesanato a cerveja, passando pelos tradicionais açaí e castanha.

De acordo com Patrícia, o projeto surgiu a partir de uma constatação: o desmatamento da Floresta Amazônica só termina quando encontra com áreas protegidas, que podem ser terras indígenas ou Unidades de Conservação federais. "Então, como tentativa de evitar que a degradação chegue a esses locais - que pode ocorrer por meio da violência, ou mesmo com o uso do dinheiro -, estudamos a melhor solução econômica a fim de valorizar as mercadorias produzidas por essas comunidades. A partir disso, resolvemos unir os residentes locais com empresas que necessitam desses insumos para fabricar os seus produtos", explica.

E não é somente a matéria-prima o que muitas companhias buscam. Diversas vezes, as empresas acabam contribuindo com a cocriação das marcas da comunidade. O Origens Brasil atua em cinco grandes territórios na Amazônia: Rio Negro, Norte do Pará, Solimões, Xingu e Tupi Guaporé.

Além disso, o projeto também contribui para a manutenção de 53 milhões de hectares e possui mais de 2,8 mil produtores cadastrados de 62 etnias diferentes. E, desse montante, 45% são mulheres. "A gente precisa reconhecer a contribuição desses povos para manter a floresta em pé e, consequentemente, para o mundo", diz Patrícia.

Menos áreas e mais lucro

Apesar de ainda precisar avançar bastante em termos de áreas ocupadas, outra vertente interessante que ajuda a manter a floresta em pé é a técnica da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que utiliza diferentes sistemas produtivos - agrícolas, pecuários e florestais - dentro de uma mesma região. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), essa é a forma de otimizar o uso da terra, elevando os patamares de produtividade em uma mesma área ao usar melhor os insumos, diversificar a produção e gerar mais renda e emprego.

A ILPF é utilizada em várias partes do País e do mundo, com resultados positivos no aumento da produtividade rural, preservação do solo e redução de emissões de gases do efeito estufa (GEE). "O ILPF é hoje reconhecido como uma das grandes vias para o crescimento do agronegócio e, segundo a Embrapa, somente em Mato Grosso, a iniciativa soma mais de 2,5 milhões dos 11,5 milhões de hectares de terras produtivas no Estado", afirma Monica Kruglianskas, coordenadora de Sustentabilidade da FIA Business School, em São Paulo.

A Fazenda Roncador, no Araguaia, é uma das áreas agrícolas adeptas da técnica da ILPF. A propriedade tem 147 mil hectares, sendo 72 mil de mata nativa ou área de preservação. Segundo o balanço de carbono aferido no campo na safra de 2017 para 2018, houve a emissão de 82,5 mil toneladas de CO2, mas que foram compensadas com a remoção de 172,3 mil toneladas de gás carbônico. Ou seja, houve um "superávit" de 89,8 mil toneladas.

O exemplo brasileiro, inclusive, chamou a atenção de investidores internacionais, como a dos gestores do fundo holandês &Green.

"O Fundo focado em proteção florestal e commodities florestais tropicais aprovou um empréstimo de US$ 10 milhões para o Grupo Roncador, associado ao compromisso da produtora agropecuária em aumentar até 58% a produção de alimentos dentro da mesma área em até oito anos", ressalta Monica, da FIA Business School.

OESP, 05/06/2022, Caderno Especial Dia do Meio Ambiente, p. 12

https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,no-chao-da-flore…

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