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No caminho dos Pirahã: Registro raro de etnia indígena será exposto na Argentina

A Crítica- http://acritica.uol.com.br
29 de Mar de 2014

"Eles ficaram com medo da câmera e olhavam muito para mim, mas não fotografei de imediato. Cumprimentei todos: apertei a mão dos homens, acenei para as mulheres e sorri para as crianças". É assim que o jovem fotógrafo rondoniense Gabriel Ivan relata seu primeiro contato com membros da etnia Pirahã (ou Pirarrã), durante visita ao Município de Humaitá, em janeiro deste ano, para cobrir os conflitos entre brancos e índios que sacudiam o sul do Amazonas desde o mês anterior.

Um ensaio com cinco fotografias que registram esse encontro acaba de ser selecionado para participar da mostra internacional do "XVIII Encuentros Abiertos - Festival de la Luz", em Buenos Aires, marcado para agosto. Ivan é um dos 82 fotógrafos selecionados dentre mais de 700 inscritos do mundo inteiro e o único representante da região Norte - outros três brasileiros também foram escalados.

"Fui convidado pela Mídia NINJA para fazer parte da equipe de reportagem que pautaria o conflito em Humaitá e estive imerso nisso por mais de um mês", conta Gabriel, que atualmente cursa Artes Visuais na federal de Rondônia e integra o Coletivo Capta. "Nossa primeira ida ao local foi ainda em dezembro quando fizemos um reconhecimento do problema. Já no mês de janeiro retornamos a Humaitá por mais três vezes, dormindo, comendo e vivendo na companhia dos índios".

Foi durante a última viagem ao município, a 675 quilômetros de distância da capital amazonense, que a equipe encontrou os Pirahã. "Estávamos na estrada rumo às aldeias Tenharim quando encontramos alguns Pirahã debaixo de uma ponte, há dias sem se alimentarem", informa o fotógrafo. Segundo ele, o motorista da comitiva, um ex-funcionário da Funai, foi quem identificou os indígenas. "Ele que articulou a conversa e pediu autorização para eu fazer as fotos. Foi só depois de uns 15 ou 20 minutos que comecei a fotografá-los".

O AQUI E O AGORA

Os Pirahã são uma tribo de caçadores-coletores da família Mura que vive ao longo do rio Maici, entre Humaitá e Manicoré, próximo à divisa com Rondônia. Segundo a Funasa, em 2010 o grupo contava com 450 indígenas. A etnia se tornou mundialmente conhecida depois de o pesquisador norte-americano Daniel Everett publicar trabalhos registrando os excepcionais hábitos culturais e linguísticos desse povo, que mantém pouco contato com os não-indígenas.

A partir dos anos 1970, Everett conviveu durante décadas com os Pirahã - ele chegou à tribo como missionário para evangelizar os indígenas e saiu de lá ateu, sem ter alcançado o seu objetivo. O cientista foi um dos primeiros a jogar luz sobre a linguagem peculiar da etnia, apesar de suas teses serem contestadas por estudiosos até hoje.

De acordo com ele, os Pirahã não têm palavras para definir as cores, só sabem contar até três, comunicam-se através de apenas nove fonemas (sendo incapazes de construir frases complexas) e não possuem mitos de criação. Basicamente, eles vivem, pensam e falam sobre o aqui e o agora.

Quando fez as fotos dos Pirahã, Gabriel Ivan ainda não conhecia a tribo, e por isso não se deu conta da importância do material que tinha em mãos. "Mas sempre que pegávamos a estrada eu sabia que eu estava ali para pautar tudo que aparecesse, por isso registrei os Pirahã assim como fiz com os Tenharim por vários dias", diz o fotógrafo, que passou a pesquisar sobre a etnia dos nove fonemas. Para ele, no entanto, o encontro inesperado com os moradores do rio Maici acabou se tornando especial por si só: "Eles possuem característica bem particulares. Andam descalços e usam cordões que fazem um barulho imenso. Senti doçura na voz e profundeza no olhar deles, apesar do momento de fome, tensão e medo pelo qual passavam".

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