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No Amazonas, os extremos da seca e da cheia

O Globo, O País, p. 4
28 de Dez de 2009

No Amazonas, os extremos da seca e da cheia
Para especialistas, variação do clima registrada este ano é indício dos efeitos do aquecimento global

Paula Litaiff*

MANAUS. Os rios do Amazonas registraram, em menos de seis meses, marcas históricas de cheia e seca dos últimos cem anos, com uma variação de 13,88 metros de altura. É o que aponta levantamento sobre registros da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais no Amazonas (CPRM) do Serviço Geológico do Brasil (SGB).

Para os especialistas, a variação extrema no clima na Amazônia pode ser um indício das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.

De acordo com a CPRM, em junho, o Rio Negro alcançou marca de 29,7 metros (considerada a maior cheia dos últimos cem anos). Mês passado, o mesmo rio registrou uma cota de 15,89 metros, considerada a quinta maior vazante dos últimos cem anos, ligeiramente abaixo da cota mínima de segurança, de 16 metros. Em 1963, o Rio Negro teve seu menor nível, com 13,64 metros.

Segundo o meteorologista Marcondes Gama, durante mais de dez anos, as rigorosas secas e cheias do Amazonas eram associadas ao El Niño, fenômeno que ocorre nas águas do Pacífico e que altera as condições climáticas em diversas partes do mundo. Ele afirmou que, até este ano, nunca se havia registrado uma mudança climática (chuva x seca) tão veloz como foi nos rios do Amazonas:

- O El Niño produz um padrão de inundações e secas ao redor do mundo, e no Brasil causa secas na Amazônia, inundações no Sul, mas de forma gradativa e não tão violenta como ocorreu nos últimos seis meses. Não tenho dúvidas de que essa variação extrema de chuva e tempo seco tem mais a ver com o aquecimento global.

O geólogo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) Ricardo Gomes também defendeu a mesma ideia:
- Este ano, a seca na Amazônia está mais associada a uma variabilidade natural. Com as mudanças climáticas, esses fenômenos podem se tornar mais intensos, como indicam os modelos climáticos já registrados em pesquisas científicas de importantes órgãos como o Instituto Nacional da Amazônia.

A cheia histórica nos rios do Amazonas em junho, deste ano, deixou mais de cem mil pessoas desabrigadas e outras dez mil desalojadas em 55 dos 62 municípios do estado, segundo levantamento da Coordenação de Defesa Civil do Amazonas.

Menos de seis meses depois, as famílias sofrem, agora, com a seca intensa dos rios. A Defesa Civil informou que já são 15 municípios em situação de emergência por causa da seca, afetando 215 mil pessoas.
(*) Especial para o Globo

O Globo, 28/12/2009, O País, p. 4

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