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No Amazonas, a mudança significa não mudar nada

OESP, Nacional, p. A14
28 de Set de 2006

No Amazonas, a mudança significa não mudar nada
Eduardo Braga (PMDB) e Amazonino Mendes (PFL) pertencem ao grupo que governa o Estado há 20 anos

Liege Albuquerque

Manaus,com 55% do eleitorado do Amazonas, foi o cenário dos últimos comícios dos candidatos ao governo na última semana antes da eleição que, seja qual for o resultado, não apresentará ruptura no grupo que governa o Estado há duas décadas. Os dois candidatos que lideram as pesquisas, Eduardo Braga (PMDB) e Amazonino Mendes (PFL), representam a mesma linhagem de poder e alternam momentos de união e rusgas governando ora o Estado, ora a capital, ou ambos.

Braga, de 45 anos, candidato à reeleição, que pode ganhar ainda no primeiro turno, mesmo tendo começado como vereador, dez anos antes, teve seu nome conhecido a partir de 1993, em Manaus, como vice-prefeito de seu adversário mais forte ao governo, Amazonino Mendes, cujo nome nem é citado em sua biografia na internet.

Com a vitória de Braga, segundo políticos do Estado, ele terá a chance de eliminar qualquer resquício de Amazonino em seu novo governo - ou de reatar com ele. No caso de Amazonino, sua vitória significará a perpetuação do cacique político no poder.

Na derrota, Braga poderá reatar com o mestre e voltar ao governo Amazonino - de quem foi secretário de Obras - ou disputar, mais à frente, a prefeitura de Manaus. A derrota de Amazonino, aos 66 anos, será a segunda consecutiva, depois de ter perdido,em 2004,a prefeitura de Manaus para Serafim Corrêa (PSB).

"Embora haja um avanço no estilo mais democrático de lidar com a política, nova vitória de Braga não significa mudança radical no poder no Amazonas. Ambos são do mesmo grupo, agora brigados, mas, amanhã, ninguém sabe", destaca o deputado estadual Eron Bezerra (PC do B), representante da minguada oposição no Estado.
Bezerra defende, contudo, que o atual governador teve um relacionamento com sindicatos totalmente diferente de Amazonino. "Os sindicatos, quando havia greves,eram recebidos pela Polícia de Choque de Amazonino. No governo Braga, houve pelo menos negociação democrática", afirma.

Outros iguais
O deputado afirma, ainda que, embora o atual governador tenha "defenestrado" vários secretários de seu governo herdados da administração Amazonino, ainda há resquícios do "dedo do Negão( apelido de Amazonino"."Ele tirou o ex-secretário de Fazenda Alfredo Paes, depois que seu nome apareceu investigado pela Operação Albatroz (da Polícia Federal), mas continua,por exemplo,como secretário de Cultura de Amazonino, Robério Braga."

Para outro representante da oposição no Amazonas, o senador Jefferson Peres(PDT),candidato a vice-presidente na chapa de Cristovam Buarque, Braga ou Amazonino representam a continuidade do "coronelismo urbano". "Em vez dos coronéis de beira de barranco, agora é mais sofisticado: ambos usam a máquina para sustentar a clientela eleitoral, com ajuda dos prefeitos do interior."

Assim como os candidatos ao governo, também os candidatos ao Senado não mudam o perfil dos políticos amazonenses no poder, segundo Peres. "O que está melhor nas pesquisas (para a única vaga ao Senado nesta eleição), Alfredo Nascimento (PL), também foi lançado na política por Amazonino, mas agora está num momento de ruptura com o mestre", diz.

"O segundo colocado na pesquisa ao Senado, Gilberto Mestrinho (PMDB), é outro representante do mesmo grupo político que comanda o Amazonas há duas décadas, que agora também está num momento de rusgas com Amazonino."

OESP, 28/09/2006, Nacional, p. A14

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