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No AM, pequenos desmates burlam controle

O Globo, O País, p. 5
11 de Jul de 2011

No AM, pequenos desmates burlam controle
Greenpeace protocola hoje denúncia no MP sobre a prática ilegal usada por madeireiras

Catarina Alencastro

BRASÍLIA. O Greenpeace identificou uma nova frente de desmatamentos no sul do Amazonas que não tem sido flagrada pelo governo brasileiro. São desmates pequenos, não captados nos radares do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Na região de Apuí e Manicoré, perto das divisas do Amazonas com Mato Grosso e Rondônia, foram encontradas nove áreas recém-desmatadas. O Greenpeace protocola hoje uma denúncia no Ministério Público.
Segundo a ONG, sozinhos, os desmatamentos são pequenos: de 13, 20, 30 e 40 hectares. Mas, somados, formam um mosaico de 310 hectares de floresta. Se o mosaico fechar, chegará a 900 hectares. O Greenpeace se baseou em imagens de satélite e comprovou os dados sobrevoando o local. Segundo Edwin Keizer, coordenador do laboratório de geoprocessamento da ONG, 146 áreas de desmatamento foram captadas, mas apenas 21 caíram na rede do Inpe:
- A maior parte não chega a 50 hectares. E, na prática, eles têm dificuldade de comprovar clareiras de até 75 hectares.
O sistema Deter é usado pelo Inpe para captar desmates a partir de 25 hectares. Mas, na região de Apuí e Manicoré, apenas um dos nove polígonos identificados pelo Greenpeace foi registrado pelo Deter em maio: uma área de 176,8 hectares. O local fica a cerca de dez quilômetros da rodovia Transamazônica. Numa vila conhecida como "Km 180", há muitas madeireiras instaladas. Segundo um técnico do Ministério do Meio Ambiente, ali há expansão da pecuária e é uma zona onde grileiros assumem terras para vendê-las.
Para André Muggiati, coordenador de campanha do Greenpeace na Amazônia, o desmatamento está associado à discussão do Código Florestal. Para a ONG, grileiros estariam desmatando para vender a terra, na expectativa de serem anistiados pela lei em discussão no Congresso. Embora o desmatamento de maio tenha caído em relação a abril, o total de floresta derrubada no mês foi 144% maior do que em maio de 2010.
- Sobrevoamos a região no final de junho. O cenário é uma volta ao ritmo antigo de desmatamento - avaliou Muggiati.
Um sistema mais preciso, o Prodes, usa o satélite Landsat - o mesmo usado pelo Greenpeace - e cobre áreas pequenas, de 6,2 hectares. Mas os dados só saem anualmente.
Segundo o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano Evaristo, os criminosos destroem áreas no limite do que pode ser captado:
- Os pequenos desmatamentos são estratégia para burlar a fiscalização.
Ele reconhece que os satélites têm limitações, mas afirma que o órgão usa outros meios para frear a farra das motosserras. Segundo ele, o Ibama recebe, por exemplo, informações da Abin e denúncias de produtores rurais e de ONGs. O Ibama explicou ainda que a região de Apuí, no Amazonas, foi alvo de ações do órgão este ano. Um responsável pela coordenação do desmatamento foi preso e autuado num valor de R$1,25 milhão.

O Globo, 11/07/2011, O País, p. 5

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