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No AM, alunos indígenas reivindicam livros didáticos na língua Hup

G1 - http://g1.globo.com/
27 de Jan de 2013

Aldeia Taracuá Igarapé também enfrenta ausência de merenda e docentes.
Professora relata superação para conseguir educar índios no interior.

Sem livros de didáticos específicos na língua Hup, os alunos indígenas da etnia Hupd'äh enfrentam dificuldades para preservação da linguagem nativa na área do Alto Rio Negro, que fica na Região Norte amazonense. Além da falta de material escolar, os índios convivem com a precariedade das escolas da comunidade isolada Taracuá Igarapé, distante 220 quilômetros da região urbana do município de São Gabriel da Cachoeira e localizada a 986 quilômetros de Manaus.

Com acesso difícil pelo Rio Tiquié e sem energia elétrica, a etnia é considerada uma das mais carentes dentre os cerca de 20 povos étnicos existente na área indígena do Alto Rio Negro. A Fundação Nacional do Índio (Funai) estima que haja 30 mil índios na área. A comunidade possui aproximadamente 200 índios da etnia Hupd'äh.

Após um dia viagem do barco rabeta até Pari-Cachoeira, distante 315 km da sede do município e apenas 30 km de distância da fronteira com a Colômbia, a índia e professora da etnia Hupd'äh, Tereza Monteiro Socot, 39 anos, contou ao G1 as dificuldades enfrentadas para oferecer educação aos jovens indígenas do seu povo.

Segundo a docente, que leciona há dez anos pela rede municipal de ensino de São Gabriel da Cachoeira e também atua como líder social na aldeia por ser uma das poucas indígenas que fala português, há duas escolas na comunidade construídas pelos próprios índios. Juntas concentram total de 83 alunos indígenas. "As escolas foram feitas por nós com palha e madeira. Uma vez por ano recebemos giz, canetas e cadernos, mas não são suficientes", revelou Socot.

Na alfabetização, as crianças recebem ensinamentos da língua Hup. Do primeiro ao nono ano do ensino fundamental, os alunos recebem noções de português, matemática e novamente a língua Hup integra a grade curricular.

Atualmente, o dicionário Hup, feito em parceria com a equipe da Associação Saúde Sem Limites - organização não governamental criada em 1994, que trabalha com a saúde de populações indígenas e tradicionais- é o único material com foco na cultura dos Hupd'äh. Tereza Socot afirmou que faltam livros didáticos na língua da etnia.

"A nossa maior dificuldade é a falta de material de didático na nossa língua. Com ajuda da equipe do Saúde Sem Limites conseguimos criar esse dicionário, dando continuidade do Hup nas novas gerações. Além disso, temos pouco material da rede de ensino normal", relatou a professora.

A falta de formação docente também é um dos problemas vivenciados pela etnia. Dos quatro professores que atuam até o 9o ano nas escolas da comunidade -três da etnia Hupd'äh e um da Tukano- apenas dois estão sendo formados com magistério indígena.

"Quando chega no 9o ano do fundamental termina a vida escolar na aldeia. Falta ensino médio e superior. Por isso pedimos a visita do secretário de educação para vê os problemas, verificar a falta de material e de merenda escolar, que tem sido muito difícil chegar a nossa aldeia. Somos muito esquecidos pelas autoridades, prefeito e vereadores", enfatizou Tereza Socot.

Ainda durante gestão o antigo prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Pedro Garcia (PT), foi procurado várias vezes pela equipe do G1. Porém, o titular protelou as datas para conversar sobre as reivindicações dos indígenas até o término do mandato.

Já o atual prefeito de São Gabriel da Cachoeira, Rene Coimbra (PCdoB), disse estar ciente dos problemas enfrentados pelos índios da etnia Hupd'äh. Ele afirmou que esteve na localidade e conversou com indígenas sobre falta de merenda e material escolar.

Rene Coimbra acusou o gestor antecessor de aplicar de forma equivocada os recursos públicos repassados por meio do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). O prefeito enfatizou que os problemas deveriam ter sido repassados ao Governo Federal por meio do relatório do Plano de Ações Articuladas (PAR).

"Esses recursos do Fundeb são destinados para compra de merenda escolar, sendo 70% de alimentos industrializados e 30% produtos regionais. Diante da situação irei convocar o Conselho Municipal da Merenda Escolar discutir, vê a viabilidade da compra e deslocamento desta merenda que não tem chegado às escolas localizadas na calha do Rio Tiquié. Vamos fazer o levantamento do número de estudantes e questão do transporte da merenda para solucionar o problema", informou o prefeito.

Em relação à carência de material de didático específico na língua Hup, a Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira irá acionar o Ministério da Educação e Cultura (MEC) para confecção dos livros. Em março, novos professores devem ser contratados para suprir déficit da rede municipal.

"Vamos criar uma equipe em conjunto com a Secretaria Municipal de Educação para tratar desse levantamento do material de didático. Antes de começar o ano letivo contrataremos novos professores através de processo seletivo. Absorveremos os professores que moram nas áreas onde há falta de profissionais específicos nas escolas. Ainda estamos verificando as demandas para anunciar o número de vagas", explicou Rene Coimbra.

http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2013/01/no-am-alunos-indigenas-…

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