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Niterói sofre com derrame de óleo

JB, Cidade, p. A14
05 de Set de 2005

Niterói sofre com derrame de óleo
Praia de Icaraí é atingida por mais de 2 mil litros depois de acidente com navio na madrugada de sábado

CARLOS BRAGA

A praia de Icaraí foi a mais atingida pelos 2 mil litros de óleo que vazaram do navio Saga Mascote, que se chocou, na madrugada de sábado, com um dique do estaleiro Enavi/Renave, situado em Niterói. As praias das Flexas e Boa Viagem também sofreram com os efeitos do acidente. Apenas na noite de sábado foram retirados 30 caminhões com os resíduos recolhidos na areia. Ontem, mais nove caminhões foram carregados com a mistura de areia e óleo que deixou negra a parte próxima da água das três praias. Na operação de limpeza e retirada do combustível da baía foram utilizados cerca de 80 homens, 12 barcos e um helicóptero,
- A situação está controlada. Há apenas uma película de óleo sobre a água, que estamos retirando com as barreiras de absorção - explicou o coordenador da operação Paulo Eugênio, técnico da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema).
No começo da noite de ontem, funcionários da Companhia de Limpeza de Niterói (Clin) ainda raspavam o óleo entranhado na areia e ajudavam a recolher as barreiras de contenção, que ficaram encharcadas com o combustível. Técnicos da Feema se preparavam para instalar 2.500 metros de barreiras de absorção em toda a extensão da praia de Icaraí. Apesar de considerar que a maior parte dos resíduos foi recolhida, a assessoria da Feema informou que o trabalho de limpeza das areias deve continuar pelo menos até a próxima quarta-feira.
- Amanhã faremos mais dois sobrevôos para localizar manchas de óleo que se espalharam para outros locais - informou Paulo Eugênio.
A Polícia Federal já está investigando o acidente e ontem ouviu pessoas envolvidas com o caso. O delegado Alessandro Neto Vieira tomou depoimentos do capitão do navio, de um dos sócios da Horizon Marítima LTDA, (empresa responsável pela contratação do prático, profissional encarregado da manobra de atracação do navio) e de um representante do dono do Saga Mascote. Segundo o delegado, representantes do Enavi/Renave dizem que o estaleiro só tem responsabilidade sobre a embarcação apenas depois de ela estar atracada. Vieira acrescentou que o comandante disse que o dique não tinha as defensas (que protegem o navio de choques contra o dique) apropriadas.
-Vamos ouvir outras pessoas que trabalharam na manobra para definir de quem foi a responsabilidade pelo vazamento - adiantou Vieira.
A assessoria da Feema informou que terminará o relatório sobre o vazamento amanhã e o enviará à Comissão Estadual de Controle Ambiental.

Ambientalistas lamentam por baía
O biólogo e ambientalista Mario Moscatelli compara a Baía de Guanabara com a casa da mãe joana, onde ''todo o mundo faz o que quer''. Segundo Moscatelli, uma das razões do descaso seria o sucateamento dos órgãos responsáveis pela fiscalização do cumprimento das leis que protegem esse ecossistema.
- Enquanto os corpos técnicos de instituições como a Feema e o Ibama não tiverem equipamentos adequados e número de funcionários suficiente sempre vão ocorrer esses acidentes - criticou.
Moscatelli avalia que o problema não são os acidentes isolados, mas sim a freqüencia com que eles ocorrem. Outro risco, diz o biólogo, é pior por ser invisível: a água de lastros dos navios que é despejada na baía e que traz organismos de outros ecossistemas - que não encontram predadores e se reproduzem descontroladamente.
- Um dos casos que ocorreram foi o do siri asiático, uma espécie extremamente agressiva que botou para correr o nosso siri. Isso acontece também com algumas espécies de algas - explica Moscatelli.
O deputado estadual Carlos Minc (PT) afirmou que vai convocar uma reunião com empresas e instituições ligadas à Baía de Guanabara para fazer um mapeamento das falhas de cada uma.

JB, 05/09/2005, Cidade, p. A14

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