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Nem safra 14% maior contém inflação

FSP, Dinheiro, p. B5
18 de Jul de 2008

Nem safra 14% maior contém inflação
Valor total da produção agrícola cresce 36,5%; cotações mais altas de grãos puxam índices para cima

Pedro Soares
Da sucursal do Rio

Após dois anos difíceis, a safra de grãos se recuperou em 2007 na esteira da alta dos preços internacionais e do clima mais favorável do que em 2005 e 2006. Tais fatores provocaram expansão de 13,7% na colheita, apesar da redução de 1,5% da área plantada, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Mesmo com impacto na inflação global, as cotações maiores especialmente de soja e milho asseguraram um ganho de 36,5% no valor total de comercialização dos grãos produzidos no país no ano passado, que atingiu a marca de R$ 55,9 bilhões. A cifra, porém, ainda está distante dos recordes alcançados em 2004 (R$ 63,4 bilhões) e em 2005 (R$ 58 bilhões).
"Os dados mostram que o crescimento da safra foi todo em cima do aumento da produtividade. Inicialmente, os preços estavam muito deprimidos na época do plantio, especialmente da soja. Isso explica a redução da área plantada", disse Carlos Alfredo Guedes, técnico da Coordenação de Agropecuária do IBGE.
Depois, diz, a cotação da soja foi puxada pelo maior consumo em todo o mundo, principalmente nos países emergentes da Ásia. O preço do milho registrou forte alta por causa da crescente produção de álcool nos EUA, maior produtor e exportador mundial do grão.
O avanço da fabricação de álcool nos EUA resultou numa sobra menor de milho para rações animais e produtos de consumo humano.
O Brasil aproveitou o espaço deixado pelos EUA e ampliou em 21,5% a safra de milho em 2007. Dos principais produtos, foi o que teve o melhor desempenho, ao lado do algodão (alta de 41,4%), também beneficiado pelo cenário internacional.
A escalada das cotações de milho e soja foi um dos principais motores da pressão mundial dos preços dos alimentos desde o ano passado. O grande uso de milho e soja em rações animais elevou também o preço das carnes.

Arroz e feijão
Sem a mesma vocação exportadora, o arroz, mais recentemente, e o feijão, desde o ano passado, também são vilões da persistente onda de inflação. A produção de arroz caiu 4,2% em 2007. A de feijão teve queda ainda mais intensa: 6,2%.
No caso do arroz, a estiagem prejudicou as lavouras no Rio Grande do Sul, principal produtor do país. Com isso, a área plantada do cereal caiu 8% no Estado. A cultura do feijão, por seu turno, foi afetada pelos baixos preços na época do plantio, pelo excesso de chuvas e geadas no Paraná e pela seca na Bahia.
Com a escassez, o feijão-preto subiu 147,46% nos 12 meses encerrados em junho, segundo o IPCA. O arroz acumulou alta de 46,66%. Derivados de soja e trigo aumentaram com força, como pão francês (29,42%) e óleo de soja (52,69%). As carnes subiram 37,66%. No período, o IPCA variou 6,6%.
Pelos dados do IBGE, a soja correspondeu por 43,5% do volume produzido na safra de 2007. O milho participou, por sua vez, com 38,9%, seguido por arroz (8,3%), trigo (3,1%) e feijão (2,4%).

Com 8 dos 10 municípios líderes em produção, MT perde do PR em volume

Da sucursal do Rio

Dos 10 municípios que mais produziram grãos no país em 2007, 8 eram de Mato Grosso. O Estado, porém, ficou com a segunda posição, atrás do Paraná, segundo o IBGE. O Paraná colheu 21,8% da safra de 2007. A participação de Mato Grosso ficou em 18,2%, e a do Rio Grande do Sul, em 18,1%.
Enquanto o Paraná liderou na produção de milho, trigo e feijão, Mato Grosso teve dianteira folgada em soja -62,1% da produção. O Rio Grande do Sul obteve a maior safra de arroz.
O outro lado do vigor do agronegócio é o desmatamento. Mato Grosso é o Estado que mais devastou a Amazônia Legal no último semestre de 2007. Segundo o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Estado tem 19 dos 36 municípios campeões em desmatamento. O Paraná é o Estado que mais desmata entre os que abrigam a mata atlântica.
No ranking dos maiores produtores, os outros Estados ficaram bem distantes dos três líderes -Goiás (8,5%), Minas Gerais (7%), Mato Grosso do Sul (6,3%), Santa Catarina (4,7%), São Paulo (4,7%) e Bahia (4,1%).
Sorriso, no interior de Mato Grosso e com cerca de 55 mil habitantes, produziu 2,5 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2007 e liderou a produção nacional. Superou em quase 1 milhão de toneladas Sapezal, com pouco mais de 15 mil habitantes, segundo colocado no ranking. Fora de Mato Grosso, o destaque é a baiana São Desidério, com o terceiro lugar em volume e campeã no valor de produção -R$ 963,3 milhões-, devido à liderança na safra de algodão herbáceo, mais valorizado.

PIB rural cresce, mas alta de custos preocupa

Iuri Dantas
Da sucursal de Bras´lia

O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio cresceu 3,83% de janeiro a abril deste ano, comparado com igual período do ano passado. Ao mesmo tempo, o aumento nos custos causado pela alta nos insumos agrícolas (como fertilizantes) reduziu a rentabilidade dos agricultores. Isso pode representar queda nos investimentos e na produção nacional de grãos. A avaliação é da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
Ainda assim, a expansão da agricultura ocorre a taxas maiores neste ano do que em 2007. Nos primeiros quatro meses do ano passado, o aumento do PIB do agronegócio foi de 1,29%.
Dependendo da região e da época de compra dos fertilizantes, os plantadores de soja tiveram variação de 51,37% a 136,16% nos valores gastos com insumos até julho deste ano.
"Seria necessário, para segurar a inflação dos alimentos, que a produção fosse maior. Mas, com os custos de produção subindo, o produtor se sente menos estimulado a produzir mais. É pouco provável que os preços caiam no ano que vem", disse Matheus Zanella, assessor da Comissão de Comércio Exterior da CNA.
O aumento na cotação internacional de commodities não conseguiu acompanhar os custos. Os exportadores de soja, por exemplo, obtiveram preço 60,7% maior de janeiro a maio deste ano em relação aos cinco primeiros meses de 2007.
O resultado na prática é o uso de uma parte cada vez maior da colheita para custear fertilizantes da safra seguinte.
Em Sorriso (MT), por exemplo, um sojicultor precisava de 17,19 sacas para adquirir fertilizantes para plantar um hectare de soja em 2007. Neste ano, eram necessárias 22,92 sacas. Um hectare na região rende de 45 a 50 sacas de soja.
Para o superintendente técnico da CNA, Ricardo Cotta, os produtores vêm diminuindo investimentos. "No global, os números do setor vão muito bem. Mas em praticamente todas as regiões o agricultor está tendo rentabilidade negativa."
Segundo ele, um efeito da perda de renda dos produtores é a maior exposição dos agricultores às tradings, que emprestam a juros mais altos.

Preços
A CNA discordou ontem das críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à especulação nos mercados futuros e pediu que o governo não interfira nesta área.
"Quanto menos interferência do governo, melhor é. O mercado se regula sozinho. Quanto mais liquidez tem o mercado, menos especulação. Por isso, é preciso estimular a participação de indústrias e produtores. Esse instrumento é importante", disse Cotta.

FSP, 18/07/2008, Dinheiro, p. B5

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