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Negociações em Bali começam para valer apenas no último dia

OESP, Vida, p. A36
15 de Dez de 2007

Negociações em Bali começam para valer apenas no último dia
Proposta tenta atrair EUA esticando prazo e eliminando 1990 como referência para corte de CO2

Cristina Amorim

O que deveria ser o último de 14 dias de debate na 13ª Conferência do Clima (COP-13) sobre um novo regime político para combater o aquecimento global foi, na realidade, o segundo dia de negociação, quando, de fato, todos os interesses foram postos na mesa. Mas continua distante um consenso sobre regras mais rígidas de controle de gases do efeito estufa a partir de 2013.

Uma decisão só sairá hoje. Às 3 horas (15 horas em Brasília), terminou com pouca substância e direcionamento uma reunião fechada considerada chave para o sucesso do "mapa do caminho", um documento de diretrizes. O texto carrega várias lacunas a serem preenchidos na plenária. "Não fala em números, nem menciona a necessidade de redução de emissões", disse o coordenador de campanha do Greenpeace, Marcelo Furtado.

A intenção é estabelecer uma estratégia geral agora. Depois, negociar detalhes até finalizar um acordo em 2009, que entre em vigor em 2013. Assim, não haveria um vazio entre o fim do primeiro período do Protocolo de Kyoto (que expira em 2012) e o novo regime.

O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que passou os últimos dias no Timor Leste, disse que estará hoje de manhã em Bali, onde acontece a COP-13. Contudo, sua presença - se confirmada - não significa que os delegados exibam o grau de comprometimento que é esperado deles pelo próprio Ban (leia abaixo artigo do secretário da ONU).

Um grupo de países, liderado pela União Européia, queria estabelecer um compromisso, para ser cumprido até 2020, de corte de 25% a 40% das emissões de gases-estufa na comparação com os níveis de 1990.

O principal bloqueio veio dos EUA e aliados, especialmente Canadá. O governo americano refuta qualquer tipo de controle internacional de suas metas.

PARA SEDUZIR OS EUA

Ontem à tarde, em uma tentativa de acomodar os americanos no acordo, aventou-se a possibilidade de falar em um corte mais profundo, de 50%, em muito mais tempo - até 2050. A proposta não determinava data de referência, o que satisfaz os EUA, mas desagrada diversos outros países.

Como as emissões crescem a cada ano, buscar índices menores que os registrados em 1990 é reduzir muito mais carbono do que se a referência fosse 2007, por exemplo.

Países em desenvolvimento denunciaram ontem em Bali que foram ameaçados com sanções comerciais caso não aceitem reduzir suas emissões de dióxido de carbono. "Estivemos sob uma forte pressão para aceitar compromissos de uma forma injusta e que atrasaria o desenvolvimento de nossos países", disse Munir Akram, embaixador do Paquistão perante a ONU e presidente do G-77, grupo de nações em desenvolvimento. "Os países industrializados tiveram 200 anos para trilhar um caminho de desenvolvimento econômico com o uso intensivo do carbono e, quando é nossa vez, nos dizem que não podemos fazê-lo", criticou.

OESP, 15/12/2007, Vida, p. A36

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