VOLTAR

A necessidade do rodízio

OESP, Notas e Informacões, p. A3
12 de Mar de 2004

A necessidade do rodízio

O governador Geraldo Alckmin aproveitou a visita que fez à Represa do Jaguari - que atingiu nível zero na atual estiagem - para anunciar que o morador que economizar água receberá um prêmio da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A Represa do Jaguari integra o Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de 9 milhões de pessoas, residentes na capital e municípios da Grande São Paulo. O prêmio a ser oferecido será um desconto na conta, proporcional à quantidade que economizou. O objetivo da medida é retardar o máximo possível a decretação de racionamento. A campanha publicitária que pretendia promover e incentivar o uso racional da água não obteve os resultados desejados: a economia voluntária não ultrapassou 10% quando a meta era uma redução de consumo de 25%.
A irregularidade das chuvas é a maior preocupação do corpo técnico da Sabesp, especialmente no Sistema Cantareira. Tem chovido muito pouco na bacia dos Rios Jaguari e Cachoeira, com nascentes no Sul de Minas Gerais, que formam o Cantareira. O Sistema Alto Tietê não preocupa tanto os técnicos, pois nesse sistema, nos primeiros dias de março, choveu mais que a média histórica do período. O Sistema Cantareira, porém, recebeu 15% a menos que a média histórica. Com isso, o sistema que abastece a maior parte da capital atingiu apenas 17,1% da capacidade de armazenamento, bem abaixo dos 40% que os técnicos esperam que seja acumulado até o final deste mês, para evitar o racionamento.
Como o rodízio no abastecimento de água não é decisão conveniente em ano eleitoral, adotou-se o que um técnico chamou de "campanha mais agressiva de incentivo concreto" para beneficiar financeiramente quem não desperdiça água. A medida pode ajudar, mas não substitui o rodízio. O combate ao desperdício doméstico só ocorre em épocas de estiagem intensa, embora o consumo de água per capita na região metropolitana de São Paulo seja de 400 litros/dia, o dobro do registrado, em média, nas grandes cidades dos países industrializados. As Regiões Sul e Sudeste do País enfrentam forte ciclo de estiagem - apenas no Rio Grande do Sul há 96 municípios em situação de emergência devido à seca - e, desde 2002, a Sabesp registra queda de 30% no volume das chuvas.
Aumentar em 105 metros cúbicos por segundo a oferta de água na Grande São Paulo - que hoje, em condições normais, é de 73 metros cúbicos por segundo - exige investimentos de R$ 5,5 bilhões, aproximadamente 10% do orçamento estadual deste ano. Como não há novos mananciais próximos da Grande São Paulo, pensa-se na construção de uma adutora para trazer água do Rio Juquiá, no Vale do Ribeira. Apenas essa obra custaria R$ 1,5 bilhão! Não há recursos do Estado para esse investimento. A solução é proteger os mananciais utilizáveis, reduzir o consumo, tanto de forma voluntária como induzida. O "prêmio" para quem economizar água provavelmente não será suficiente para evitar o rodízio.

OESP, 12/03/2004, Notas e Informacões, p. A3

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.