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Nascer e morrer

FSP, Poder, p. A9
Autor: FREITAS, Janio de
20 de Jul de 2014

Nascer e morrer
O governo Dilma Rousseff é um caso patético quando se trata de demarcação de áreas indígenas

Janio de Freitas

O recente e quase escondido êxito internacional do Brasil na queda da mortalidade infantil, de 30 em cada mil "nascidos vivos" no ano de 2000 para 19,6, contrasta com um dado agora divulgado pelo relatório de 2013 do Cimi (Conselho Indigenista Missionário): a cada cem índios mortos em 2013, 40 eram crianças. A causa de suas mortes: doenças comuns como diarreia e enterites.
Ainda é assim, apesar da criação da Sesai (Secretaria Especial da Saúde Indígena) em 2010. Pior: em certas regiões, a situação se agrava, a exemplo do acelerado aumento de mortes nos ianomâmi, do norte amazônico, e entre os indígenas de Mato Grosso do Sul. Aí, além do mais, avança outra estatística de horror: a média de um suicídio de indígena a cada cinco dias.
O genocídio contínuo está enquadrado por uma realidade oficial que nada pode justificar: o governo Dilma Rousseff é um caso patético quando se trata de demarcação de áreas indígenas. Sua média anual corresponde a um terço da média de demarcações no governo Lula, um quinto da média no governo Fernando Henrique. E perde feio também dos governos Sarney, Collor e Itamar, ou seja, de todos no pós-ditadura. Em 2013, o governo Dilma não fez nem sequer uma demarcação.
O que se passou em Roraima é ilustrativo da improcedência, na pretensa justificativa governamental, de dificuldades para acomodar direitos duvidosos e reações perigosas dos ocupantes de áreas a serem demarcadas. Afinal submetida a questão ao Supremo Tribunal Federal, e decidido que as terras reclamadas pelos indígenas lhes pertenciam mesmo, as ameaças dos grandes produtores em Roraima dissolveram-se na poeira de suas retiradas. Não houve mais do que rusgas --e, entre indígenas, ação de uns poucos remunerados.
O que o governo não faz é, simplesmente, porque deixa de fazer. Com benefício para os avanços da soja, aos quais não faltariam terras de propriedade legítima.

FSP, 20/07/2014, Poder, p. A9

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/176824-nascer-e-morrer.shtml

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