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Não imitar São Paulo na crise de abastecimento

O Globo, Opinião, p. 18
25 de Jan de 2015

Não imitar São Paulo na crise de abastecimento
O Rio de Janeiro precisa adotar políticas realistas, que envolvam os órgãos públicos e a sociedade, para enfrentar o grave problema da falta de água

A situação do abastecimento de água no Estado do Rio não é (ainda) alarmante, mas o anúncio do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) de que o maior reservatório do Paraíba do Sul - vital para prover a Região Metropolitana e o interior fluminense -, em Paraibuna, já alcançou o chamado volume morto, uma reserva técnica jamais usada desde a criação daquele sistema, em 1978, faz acender a luz amarela.
O colapso não parece iminente, mas o quadro preocupa. Não só pela persistência da longa estiagem, mas pelas evidências de que as autoridades parecem repetir a desastrada política da falta de planejamento que conduziu São Paulo ao atual risco de desabastecimento e o descuido do governo federal na energia elétrica.
A falta de chuvas é uma realidade para a qual não se pode fechar os olhos. Discutir, neste momento, se há risco ou não de desabastecimento, ou se o estado adotará ou não algum tipo de racionamento, chega a ser secundário diante da questão de fundo: quais os procedimentos que devem ser adotados já para enfrentar uma situação real. É preciso adotar com urgência políticas que envolvam os órgãos públicos e a sociedade no enfrentamento do problema da escassez de água.
O racionamento é uma opção amarga. Mas, agravando-se o quadro - o mais provável -, o próximo passo não poderá ser discuti-lo. Essa questão precisa ser enfrentada agora, assim como providências a serem adotadas com planejamento, de modo a amenizar ao máximo o custo social das medidas. Infelizmente, não é o que parece estar acontecendo. Como em São Paulo, iniciativas inescapáveis, como racionalização do consumo e campanhas que estimulem o envolvimento da população, ainda não compõem o protocolo de ações para enfrentar o problema.
Não faltam evidências de que o problema deve ser encarado com a devida antecedência. A Agência Nacional de Águas (ANA), mesmo ressaltando que o volume morto de Paraibuna pode ser usado sem a necessidade de obras imediatas, admite que a situação na bacia do Paraíba do Sul "não é tranquila". Mas até agora parece incipiente a movimentação do poder público para enfrentar as consequências imediatas da redução do nível dos reservatórios. Além disso, outras ações no âmbito da administração também se perdem na conta da leniência. A Agência da Bacia do Rio Paraíba do Sul, por exemplo, alerta para a necessidade de a Cedae tomar medidas que evitem o desperdício de água - como a redução da pressão em alguns pontos da rede, para conter vazamentos.
Estão aí os sinais de que, para evitar o pior, o Rio de Janeiro precisa se antecipar aos efeitos mais graves da estiagem. Isso implica um esforço de administração à altura do desafio, com planejamento e ações responsáveis, ainda que exijam algum grau de sacrifício da sociedade. Pouca água, mas constante, para todos sempre é preferível à água nenhuma para todos.

O Globo, 25/01/2015, Opinião, p. 18

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