VOLTAR

'Não houve indícios de invasão', diz Exército após denúncia de possível conflito e morte de índio

G1 - https://g1.globo.com
Autor: Fabiana Figueiredo, Arilson Freires e Ângelo Fernandes
29 de Jul de 2019

Waiãpi denunciaram a invasão no sábado (27). Segundo comandante, PF fez perícia na região. Cacique foi morto no dia 23 de julho.

O Exército Brasileiro declarou, na manhã desta segunda-feira (29), que a perícia da Polícia Federal (PF) não encontrou indícios de que houve invasão de garimpeiros e nem conflito com índios nas terras do povo Waiãpi, no Amapá. A situação foi denunciada pelos indígenas a autoridades policiais no sábado (27).

A Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Polícia Militar (PM) do Amapá confirmaram que um cacique foi morto na região na última semana.

"Pelo trabalho pericial feito pela Polícia Federal, um trabalho científico de peritos, não houve, até o momento, indícios de invasão e, consequentemente, não houve conflito", disse o comandante do Exército no Amapá, general Luiz Gonzaga Viana Filho.

A invasão de terras indígenas do povo Waiãpi por garimpeiros e a morte do indígena são investigadas com cautela pelo Ministério Público Federal (MPF), pela Funai e pela PF.

No fim da manhã desta segunda-feira, a Funai certificou, em nota, que não houve indício da presença de grupo armado no local e que, de acordo com a equipe, "será feito um relatório pormenorizado, contendo até os pontos georreferenciados".

De acordo com Viana Filho, a PF encaminhou agentes no domingo (28) para a região, que investigaram os possíveis rastros de garimpeiros. Tropas do Exército não chegaram a ser enviadas para a terra indígena.

"A perícia feita pela equipe técnica científica da Polícia Federal, com uso de peritos florestais, drones e outros equipamentos, não constatou nenhum indício de invasão, nem de garimpeiros, nem de terceiros. Houve a notícia, provavelmente se assustaram e se comentou de uma invasão que, em trabalho científico pericial, não foi constatada", complementou Viana Filho.

Matheus Leitão, do blog de política do G1, publicou que as primeiras buscas não haviam encontrado garimpeiros suspeitos de invadir a região. Ele citou que, segundo a antropóloga Dominique Tilkin Gallois, professora da Universidade de São Paulo (USP) e com trabalhos há mais de 30 anos sobre a região, as invasões ocorrem desde 1971, antes mesmo da instalação de um posto da Funai na região.

Morte

A PF segue apurando a morte do índio, declarou o comandante do Exército no Amapá. A vítima foi identificada como Emyra Waiãpi. Ele tinha 62 anos e era um dos líderes do povo Waiãpi.

O corpo tinha marcas de perfurações e cortes na região pélvica, segundo a Polícia Militar (PM) do Amapá, que enviou equipe do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) à região também no domingo.

A morte do líder indígena ocorreu em 23 de julho, mas as autoridades de segurança foram alertadas apenas no sábado.

O Exército reforçou que a morte ainda está em investigação.

"Tem que aguardar o laudo da Polícia Federal, mas os indícios da forma como ele foi encontrado o corpo, aparenta indícios de homicídio. O corpo já foi enterrado, obedecendo as tradições dos índios. Agora para o trabalho posterior de perícia tem que haver inclusive um acerto de concordância com a Funai, com as lideranças indígenas, para no caso, se for necessário, a exumação do corpo para detalhes mais aprofundado da perícia", afirmou Viana Filho.

Através de nota, o Conselho das Aldeias Waiãpi - Apina se manifestou e divulgou informações colhidas com os indígenas da região, reforçando que "a morte não foi testemunhada por nenhum Waiãpi e só foi descoberta na manhã seguinte [23 de julho]".

A entidade citou que foram encontrados rastros no entorno da aldeia que indicam que a morte do líder indígena foi causada por "não-indígenas". O conselho relata que houve a invasão de homens que se instalaram em uma das casas da aldeia Mariry.

Para o Exército, a investigação da PF sobre a invasão já foi concluída.

"Eu não digo que é mentira. Porque, às vezes, se encontra um corpo e causa um susto, um clamor, começa um 'disse me disse'. Acho que se assustaram ao encontrar um indígena morto e é possível [ter sido um assassinato causado por não indígena]. Já aconteceu isso nas terras, de invasões, então é lícito que o primeiro pensamento seja que foi uma invasão, que foi um garimpeiro, que foi um invasor, que foi um assassinato por alguém fora da aldeia. É lícito pensar assim. E é pra isso que temos a Polícia Federal, a Polícia Militar, o próprio Exército. Fazemos o trabalho pericial para descartar ou não esses indícios", completou o comandante.

Viana Filho afirmou também que a afirmação de invasão em massa de pessoas armadas é "descabida" e falou em respeito às instituições federais e estaduais.

"É uma área grande e, obviamente, todo o solo do Amapá é rico em minerais, particularmente em ouro, então essas cobiças em busca de garimpo, de ouro, sempre existem e, às vezes, se tangenciam as terras indígenas ou às vezes até dentro das terras indígenas. É pra isso que nós temos que proteger os índios, proteger de invasões, mas temos que ser coerentes e fidedignos nas narrativas. Nesse caso específico a narrativa de que houve invasão de 40, 50 garimpeiros fortemente armados é descabida. Nós temos que falar a narrativa correta até por uma questão de justiça com o trabalho sério das instituições de Estado", disse.

Conflito

Os relatos de conflitos começaram no último sábado e documentos de servidores da Funai afirmam que cerca de 15 invasores passaram uma noite na aldeia Yvytotõ de forma "impositiva" e "de posse de armas de fogo de grosso calibre".

Por meio de nota, a Funai falou sobre a denúncia de morte do indígena Emyra Waiãpi, no dia 23 na Aldeia Mariry, e disse que precisa de mais informações sobre o caso.

https://g1.globo.com/ap/amapa/noticia/2019/07/29/nao-houve-indicios-de-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.