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'Não fosse a Amazônia, o Sudeste e Sul do Brasil seriam desertos', diz pesquisador do Inpe

Portal Amazônia - http://portalamazonia.com
Autor: Izabel Santos
09 de Nov de 2014

O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antônio Nobre, agitou as discussões sobre meio ambiente no País com a publicação do relatório intitulado 'O Futuro Climático da Amazônia', no último dia 30 de outubro. Com linguagem simples e acessível para leigos no assunto, o trabalho conduz o leitor por uma revisão de teorias científicas recheada de análises e analogias sobre questões relacionadas à Amazônia, principalmente o desmatamento. "A eliminação da floresta, principal agente da condensação continental, equivale a desligar o interruptor de uma bomba de umidade atmosférica", explica.

No relatório, Antônio defende a importância "zerar o desmatamento na Amazônia" para minimizar o impacto da atividade no nosso clima. "Embora zerar o desmatamento seja tarefa obrigatória, inescapável e há muito devida, somente isso já não é suficiente para reverter as ameaçadoras tendências climáticas. É preciso confrontar o passivo do desmatamento acumulado, começar a pagar o principal da enorme dívida ambiental com a floresta", diz o relatório.

O Portal Amazônia conversou com o Antônio, que também é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), sobre a importância da floresta amazônica e as consequências do desmatamento para o clima no mundo. Confira.

Por que a Amazônia é tão importante para o mundo?

Porque ela congrega 50 milhões de anos de evolução do maior parque tecnológico vivo do mundo. Ali labutam trilhões de seres produzindo e exportando efeitos benéficos para os ciclos da água e do carbono, entre outros na escala local, regional e global. A grande floresta produz o clima amigo, e destes serviços poderosos dela dependem o bem-estar, a economia e a vida das sociedades humanas.

Qual será o futuro climático do mundo se o desmatamento da Amazônia persistir nos níveis atuais?

Importante tomar consciência que taxas anuais de desmatamento - embora importantes, e devessem obrigatoriamente estar zeradas desde "anteontem" - tiram a atenção do principal, que é o imenso, enorme, gigante desmatamento acumulado nos últimos 40 anos. É essa vastidão destruída, da floresta que foi incinerada, que já afeta o clima amazônico hoje. No relatório, que anunciamos na semana passada, uma das seções no final, que trata do futuro climático da Amazônia, diz, "já chegou", isto é, o futuro climático não é mais futuro, é hoje. O que foi previsto décadas atrás de dano ao clima pelo desmatamento já está sendo observado hoje. Assim, torna-se imperativo estancar o desmatamento sem mais complacência nem procrastinação, e também precisamos replantar a floresta nativa. Sem isso a possibilidade de virmos a ter um clima degradado e inóspito é muito grande. Poucas pessoas que sempre tiveram abundância de sombra e água fresca conseguem entender o que é perder o conforto ambiental, a disponibilidade de água e outros benefícios oriundos da floresta.

Quais efeitos já podem ser notados?

Diminuição das chuvas e ampliação da duração da estação seca nas regiões mais impactadas pelo desmatamento; contaminação das nuvens de chuva sobre áreas de floresta com fumaça e fuligem oriunda de áreas desmatadas ou em processo de desmatamento. Isso fragiliza a floresta ainda não desmatada, deixando suscetível ao fogo e a destruição de imensas áreas florestais. E secas em regiões que antes recebiam umidade procedente da Amazônia.

Qual seria a solução para impedir isso aconteça?

Impedir, neste momento, já não podemos mais, uma vez que a alteração climática já está em curso. O que podemos é tentar reverter essa tendência, deslanchando um esforço de guerra para esclarecer as pessoas da ligação direta entre o clima saudável e a ação benéfica das florestas. Também é importante deixar clara a ligação do desmatamento com um clima inóspito. Deste esclarecimento, deve surgir um esforço vigoroso e de união para sustar para "ontem" o desmatamento, o que em si só já não será suficiente para nos dar uma chance de recuperar a regulação climática que estamos perdendo. Há a necessidade imperiosa de replantar o que foi destruído, de restaurar a floresta. Creio ainda termos essa chance, mas somente se colocarmos nela um verdadeiro esforço de guerra.

http://portalamazonia.com/detalhe/noticia/nao-fosse-a-amazonia-o-sudest…

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