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Na mira de pistoleiros

CB, Opinião, p. 20
16 de Dez de 2008

Na mira de pistoleiros

Nada menos de 260 pessoas nas várias regiões do país estão sob ameaça de terem o mesmo destino do ambientalista Chico Mendes, assassinado há 20 anos. Mendes alcançou projeção mundial ao defender com obstinada pertinácia a preservação das águas, da floresta amazônica e da atividade extrativista. São enormes os riscos de os ameaçados de agora serem também trucidados, como já o foram centenas deles antes. Atuam nas regiões em que há conflito em torno da posse e uso da terra, assim também no combate à destruição do meio ambiente.

O cenário assustador está estampado em reportagem do Correio Braziliense publicada ontem. Estão jurados de morte ribeirinhos, militantes empenhados na reforma agrária, religiosos, dirigentes sindicais, índios, advogados e ambientalistas. A trama assassina consta de documentos passados ao Ministério Público e objeto de queixas à polícia. São parte dos registros em poder da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade vinculada à Igreja Católica. Ali, missionários se ocupam em proteger direitos de trabalhadores rurais e atualizam, ano a ano, o cadastro da violência.

Não se trata de enxergar no retrato colhido por este diário clima de insegurança apenas potencial. Ao longo do tempo, a tensão se tem convertido em verdadeiro sorvedouro humano. Não se pode esperar o arrefecimento da conspiração macabra por obra de denúncias e vigilância social. No estado do Pará, o mais conflitado da Federação, nada menos de 814 pessoas foram eliminadas por pistoleiros a serviço de invasores e grileiros de terras nos últimos 20 anos. Ali, no município de Anapu, a missionária norte-americana Dorothy Stang foi assassinada em 2005 porque se opunha à abertura de fazendas em área de preservação ambiental. Ela era uma das principais lideranças postas na mira de sicários, conforme denunciara havia tempos a CPT.

O quadro assustador desperta mais indignação, e mais envergonha o Brasil ante os organismos de defesa dos direitos humanos, quando se sabe que, até hoje, apenas seis mandantes dos crimes foram condenados. Entre as atuais 260 pessoas relacionadas para perderem a vida, figuram dom Erwin Krautler, bispo da diocese do Xingu, frei Henri Des Rosiers, advogado da CPT, Maria José Dias da Costa, diretora do Sindicato dos Trabalahadores Rurais de Rondon, e Odair Alves de Souza, coordenador do Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns.

Só alguns dos expostos à sanha de criminosos se encontram sob proteção policial (no Pará são apenas 10, segundo a Comissão de Direitos Humanos da Seção da OAB). É obrigação do Estado mobilizar meios de investigação e repressivos para evitar o sacrifício de cidadãos. Ameaças de morte são crimes graves. Se as polícias locais não dispõem de meios para descobrir seus autores - ou, como se suspeita, demonstram pouco interesse em fazê-lo -, é o caso de convocar a Polícia Federal. A mesma ação enérgica se exige do Ministério Público. Antes, porém, é indispensável que agentes da segurança pública dêem ampla proteção aos ameaçados.

CB, 16/12/2008, Opinião, p. 20

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