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Na festa dos ticunas

A Crítica
Autor: Ana Celia Ossame
26 de Jul de 2007

As letras, como não poderia deixar de ser, bebem na natureza a inspiração primeira. Mas elas também flertam com os rituais, com a auto-estima dos índios que, mesmo ligados umbilicalmente com a região do Alto Solimões, ergueram casas para morar na extremidade da Zona Leste, no bairro da Cidade de Deus. Para quem quiser saber mais dessa história, a partir de hoje, até o dia 29, os índios ticuna apresentarão o CD "Cantigas Tikunas Wot chimaucü", na Praça da Saudade, no projeto Pú Kaa, organizado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico Local (Semdel), que reúne etnias indígenas residentes em Manaus para comercialização de gastronomia, artesanato e mostra de música indígena.

O show começa às 20h e, segundo Domingos Ricardo Florentino, 39, um dos componentes do grupo ticuna, tem o objetivo de mostrar a cultura e promover a venda dos discos cuja renda será toda usada para financiar um próximo volume com novas músicas, algumas já compostas e outras em fase de inspiração.

"Queremos mostrar as preciosidades culturais do povo ticuna", diz Domingos, autor de uma das nove letras do disco que reafirma aquele povo enquanto nação. É por isso que na comunidade Ticuna da Cidade de Deus, onde vivem cerca de 80 pessoas, entre adultos e crianças, os adultos só conversam entre si no idioma nativo. "Estamos longe de casa, mas não queremos esquecer nossa língua, pensamos em voltar para nossa casa na floresta", diz Domingos.

Composição

Formado por Domingos e Tobias (tambores), Reginaldo (maracás), Aldenor (violão), Deniziu (Havaí), Bernardino (pau-de-chuva), o grupo tem as vozes de Marta, Rosa, Domingos, Reginaldo, Eucilene, Sebastiana, Aldenor, Cleonice, Ártemis, Tobias e Bernardino, e teve o apoio da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da Organização Geral dos Povos Tikunas Bilíngües (OGPTB) e Conselho Geral das Tribos Tikunas (CGTT).

"O trabalho é de uma beleza vocal que dá um recado profundo das canções num grito histórico no tempo, levando ao mundo a voz de uma nação", escreveu o cantor e compositor Eliberto Barrroncas, do grupo Raízes Caboclas, que trabalhou na produção do CD.

Se como diz Eliberto na apresentação do CD, o canto dos ticuna sempre ecoou na imensidão verde de floresta, é na praça que eles agora farão a demonstração do que sabem fazer. Para tanto, se vestem e se pintam como para a festa na aldeia. E é de olho no passado da aldeia Filadélfia, situada em Benjamin Constant (a 1.116 quilômetros de Manaus), que os artistas indígenas se preparam para cantar e tocar hoje, como se fossem navegar pela correnteza do rio Solimões.

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