VOLTAR

Mundo vai viver nova onda de êxodo rural

OESP, Economia, p. B9
12 de Set de 2010

Mundo vai viver nova onda de êxodo rural
Levantamento do FMI e da OIT mostra que fenômeno vai levar 30 milhões de pessoas por ano para os centros urbanos, na próxima década

O mundo vai viver uma década de grande êxodo rural e 30 milhões de pessoas deixarão o campo em direção às cidades por ano. O alerta é do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As organizações advertem os governos para se prepararem não apenas para acolher essas pessoas com infraestrutura adequada, mas também para que assegurem políticas de criação de empregos se não quiserem ver o aumento da pobreza.
A constatação faz parte de um levantamento feito sobre o futuro do mercado de trabalho. Em dez anos, o mundo terá de gerar 440 milhões de empregos para um exército de novos trabalhadores.
"Esses postos terão de ser criados apenas para não agravar ainda mais o nível de desemprego no mundo. Não para resolver a falta de trabalho, que atinge 210 milhões em 2010", alertou Steven Pursie, um dos principais economistas da OIT.
Parte dessa necessidade em gerar novos postos ocorre diante da explosão demográfica que ainda acontece em alguns países emergentes. Mas uma parcela importante ocorre pelo êxodo rural. "O desafio será enorme, tanto para governos como para a sociedade", afirmou Pursie. "Esse talvez seja o maior movimento de seres humanos em direção às cidades em um século."
Economia. O impacto sobre a economia deve ser profundo. Uma pequena minoria estará trabalhando em apenas um setor - o agrícola - que continuará responsável por alimentar uma grande maioria.
O fluxo de migrantes do campo para as cidades não é um fenômeno novo. Nos últimos 50 anos, a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) estima que 800 milhões de pessoas teriam deixado terras e trabalho no campo para buscar uma vida melhor nas cidades.
Os países industrializados já passaram por esse fenômeno décadas antes.
Mas o ritmo dessa migração deve dobrar. A falta crônica de acesso à terra, queda de produtividade e de renda, além de problemas ambientais, são os principais fatores que estariam levando milhões para as cidades.
"Os países emergentes devem se preparar para uma explosão de suas cidades, o que já vem ocorrendo", disse o chefe do Instituto de Pesquisas de Desenvolvimento das Nações Unidas, Yusuf Bangura. "Os salários no campo não vão acompanhar o aumento de renda nas cidades e o fluxo será inevitável em muitos casos."
Em 2008, pela primeira vez, mais de 50% da humanidade vivia em cidades. O que o estudo liderado pelo Fundo Monetário Internacional mostra agora é que essa tendência não vai parar de crescer.
Em 1900, apenas 13% da população mundial vivia em cidades, cerca de 200 milhões de pessoas. Essa taxa, 50 anos depois, subiu para 29%. Em 2005, 3,2 bilhões de pessoas viviam em centros urbanos, ou 49% da população mundial.
Para 2030, a projeção apontada no levantamento é de que 60% da população do planeta esteja fora do campo, quase 5 bilhões de pessoas.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100912/not_imp608628,0.php

China e África são os principais desafios

O êxodo da população do campo para as cidades é particularmente preocupante na China e no continente africano.
Na China, a migração em direção às cidades foi intensa desde os anos 90. Em 1990, 74% da população do país ainda estava no campo. Hoje, são apenas 53%. Durante o auge da crise financeira, milhões de chineses voltaram para o campo com o fechamento de fábricas e a queda nas exportações. Mas a retomada do crescimento fez com que o fenômeno registrado no final de 2008 e início de 2009 fosse apenas temporário.
Estimativas da ONU apontam que a taxa da população vivendo em cidades passará a marca de 50% na China já em 2015. Até 2035, 75% da população estará vivendo nos centros urbanos, revertendo o cenário de 1990.
Na prática, isso significa que a população urbana passará de 572 milhões em 2005 para 926 milhões em 2025. Em 2030, esse numero chegará a 1 bilhão. "Os investimentos em infraestrutura serão fundamentais para dar conta dessa explosão", alertou o chefe do Instituto de Pesquisas de Desenvolvimento das Nações Unidas, Yusuf Bangura.
Na África, o êxodo também promete se intensificar, com a diferença que o continente não conta com os recursos que a China têm para investir nas cidades e para gerar empregos. Em 1900, 95% da população africana vivia no campo. A taxa passou , 50 anos depois, para 14,7%, atingindo 37% em 2000. Apenas na cidade de Lagos, na Nigéria, a população pulou de 660 mil habitantes em 1963, para mais de 8,7 milhões em 2000. A estimativa da ONU é que, em 2015, 45% do continente esteja vivendo nas cidades.
Urbanismo. O impacto do êxodo é ainda um alvo de preocupação entre urbanistas. Eles alertam que os governos terão de tomar medidas concretas se não quiserem ver uma deterioração das cidades. "As cidades do mundo inteiro se recusam a admitir, em suas políticas urbanas, que os migrantes chegarão cada vez em maior número. Eles precisam ser incluídos nos planejamentos", alertou a urbanista brasileira Raquel Rolnik, relatora da ONU para o Direito à Moradia.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100912/not_imp608629,0.php

OESP, 12/09/2010, Economia, p. B9

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.