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Multiplicam-se no país ações que facilitam o acesso de minorias à educação superior

Folha de S. Paulo-SP
Autor: FABIANO MAISONNAVE
02 de Set de 2001

Crescem iniciativas de ação afirmativa para negros e índios

Elas são pouco conhecidas e têm um alcance local, mas ações afirmativas envolvendo negros e índios começam a ganhar força no Brasil. São iniciativas que, na maioria dos casos, estão ligadas à educação e envolvem ONGs, escolas e empresas.
Um dos projetos mais antigos em andamento é o da PUC-RJ, iniciado em 1994 após convênio com o curso pré-vestibular para carentes coordenado pelo frei Davi Santos, da ONG Educafro. Hoje, 83 cursos pré-vestibular estão credenciados no projeto, dos quais 70 são da Educafro.Os alunos desses cursos fazem vestibular e, se aprovados, têm garantidos bolsa integral e isenção de matrícula. A PUC-RJ também acompanha a vida escolar dos alunos por meio de uma pró-reitoria.Cerca de 78% dos que entraram pelo convênio são negros, segundo levantamento da antropóloga da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Marcia Contins, que fez um estudo comparativo entre o projeto da PUC-RJ e políticas de inclusão de universidades dos EUA.Com o projeto, a porcentagem de negros na universidade aumentou significativamente -de menos de 1% passou para cerca de 5% do total de alunos, a maioria moradores da Baixada Fluminense.Os alunos negros ficam concentrados em alguns cursos, segundo a antropóloga. "Eles optam por cursos mais fáceis de entrar, principalmente serviço social." Ela credita isso principalmente à baixa auto-estima.
Para o coordenador do projeto, o professor de Comunicação Social Augusto Sampaio, com o tempo alguns alunos já estão entrando em cursos mais disputados, como direito e engenharia.
Na cidade de São Paulo está em andamento desde 1999 o projeto Geração 21, parceria entre o BankBoston e o Geledés (Instituto da Mulher Negra).Uma das experiências mais inovadoras do país, o projeto selecionou 21 adolescentes negros pobres que cursavam a 8ª série do ensino fundamental em escolas públicas. O objetivo é acompanhá-los até a conclusão de um curso superior.Os alunos agora frequentam escolas particulares durante a manhã e, à tarde, seguem para a sede do projeto, no centro de São Paulo, onde recebem aulas complementares e realizam atividades extracurriculares.O Geração 21 também atua na família dos estudantes, ajudando na geração de renda, como produção de bolsas artesanais e fraldas descartáveis. No total, o projeto envolve 111 pessoas.
Orçado em R$ 400 mil por ano, o Geração 21 teve origem em 1998, quando um executivo negro americano visitou a sede do BankBoston em São Paulo. Notando a ausência de funcionários negros, ele questionou os diretores da filial, que alegaram haver poucos negros qualificados para postos mais altos.

Índios
Apesar de ser considerada uma experiência americana, a reserva de vagas para minorias já existe em universidades brasileiras. Em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, duas instituições de ensino superior destinaram vagas para alunos indígenas.Como no caso dos negros, os índios estão sub-representados no ensino superior. Segundo dados da Funai (Fundação Nacional do Índio) do ano passado, apenas 340 dos 370 mil indígenas do país cursavam faculdade.O caso mais significativo é o da Universidade Indígena, projeto de R$ 3 milhões implantado pela Unemat (Universidade Estadual de Mato Grosso) no campus de Barra dos Bugres, a 160 km de Cuiabá.
No início do ano, o projeto selecionou, por meio de um vestibular específico, 200 indígenas, dos quais 180 do próprio Estado. Foram criados três cursos superiores exclusivamente para eles: Ciências Matemáticas e da Natureza, Ciências Sociais e Línguas, Artes e Literatura. O objetivo é formar professores indígenas para atuar em aldeias.Os cursos têm duração de cinco anos e não exigem presença o tempo todo: os alunos permanecem no campus em junho, julho e fevereiro. No restante do ano, o estudo é feito nas aldeias, que são visitadas pelos professores.Segundo o coordenador do campus de Barra dos Bugres, Júlio César Geraldo, o projeto não envolve apenas a reserva de vagas. "Nós criamos uma estrutura para que os indígenas não apenas entrem na universidade, mas também a concluam".No futuro, a Universidade Indígena deve implantar cursos na área de saúde e de direito específicos para a realidade indígena.A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul também abriu um curso de formação para professores indígenas. Iniciado este ano, o curso, com duração de quatro anos, selecionou por meio de vestibular 50 estudantes terenas de 16 aldeias de todo o Estado.

Sul
A Prefeitura de Porto Alegre adotou uma política de estabelecer cotas para ""minorias socialmente discriminadas" nos grandes empreendimentos privados que são abertos. Com a rede Zaffari de hipermercados, há a renegociação de um contrato que previa cotas raciais. A idéia é torná-lo mais abrangente.Pelo contrato original, haveria uma reserva racial de mercado de trabalho em 5% para assegurar empregos a negros e pardos. "Aquele projeto mudou. Queremos incluir outros setores discriminados", disse o secretário da Indústria e Comércio, César Alvarez.

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