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Multa do Ibama supera preço da terra

GM, Agronegocio, p. B12
30 de Set de 2005

Multa do Ibama supera preço da terra

Produtores de Mato Grosso do Sul pagam por crimes à natureza cometidos há 30 anos.
Agropecuaristas de Mato Grosso do Sul estão pagando multas ambientais que, em alguns casos, são superiores aos valores de suas propriedades. Danos provocados à natureza nos últimos 30 anos, quando esses produtores chegaram à região, são cobrados agora. Desde maio foram mais de 80 autuações, que somam até R$ 24 milhões - as cobranças variam de R$ 100 mil a R$ 300 mil por propriedade, de acordo com a infração cometida, independente do tamanho.
O volume grande de multas em um único ano - nos últimos 24 meses não ocorreu fiscalização na região do Rio Taquari - alarmou pecuaristas e agricultores. Unidos, foram ao Instituto Brasileiro de Meio-Ambiente (Ibama), que criou um grupo de trabalho para estudar a situação. Uma das propostas a ser apresentada é uma linha de crédito para financiar a recuperação das áreas degradadas. Estimativas do setor indicam que dos 2,4 milhões de hectares que abrangem a Bacia do Rio Taquari, cerca de 500 mil tenham sido inundados permanentemente devido aos problemas ambientais. Até o final de novembro, o grupo deve levantar propostas para a recuperação dos danos ambientais.
"Vivemos um desastre ecológico", diz Josiel Quintino, presidente da Comissão de Meio-Ambiente da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul). O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Pantanal), Carlos Roberto Padovani, diz que o problema pode ser ainda pior se o rio começar a mudar seu curso e inundar áreas de cerrado e não de pantanal. Segundo ele, na região mais a nordeste do estado, o chamado "planalto da bacia" - próximo a Camapuã - a agricultura se instalou nos anos 70 e muitos produtores não respeitaram a legislação ambiental, degradando a natureza - com o desmatamento de matas ciliares e de áreas de reserva legal. "Se tivessem recebido assistência técnica, talvez a situação fosse diferente hoje", argumenta. A erosão provocada pelo desmatamento levou terra rio abaixo, assoreando-o na planície - mais a oeste, próximo a Corumbá, região de pecuária de corte. Resultado: muitas fazendas dali foram alagadas.
A região do planalto, cujo bioma principal é o cerrado, concentra a agricultura e, por isso, tem terras mais caras que no planalto. Em média um hectare custa R$ 6,5 mil ali, enquanto no pantanal vale R$ 2,5 mil, segundo levantamento do Instituto FNP (IFNP).
"Como vamos pagar por um crime financiado pelo governo?", indaga Quintino. Segundo ele, nos anos 70, o governo incentivou a ida ao Centro-Oeste, mas não deu infra-estrutura para a colocação desses produtores lá. No entanto, o gerente-executivo do Ibama em Mato Grosso do Sul, Nereu Fontes, explica que o Código Florestal existe desde 1965 e que, portanto, os produtores deveriam saber que não se podia degradar a região.
Apesar de os produtores reclamarem das multas, o coordenador do Programa Pantanal (e do grupo de trabalho que está estudando o caso), Paulo Guilherme Cabral, explica que o valor pode ser contestado e, além disso, o infrator tem a opção de pagar 10% do valor e o restante, investir na recuperação da área. "O intuito não é arrecadatório. É educativo", diz Cabral.

GM, 30/09/2005, Agronegocio, p. B12

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