Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: RODRIGO VARGAS
05 de Nov de 2005
Um pouco pela resistência, um pouco pelas mudanças na Igreja, nenhum índio foi "convertido"
Irmã Genoveva conduz o barco pelas águas do rio Araguaia, em um dos primeiros registros fotográficos da missão na aldeia dos índios tapirapés
Uma missão católica que, ao longo de 53 anos, não logrou converter uma alma sequer ao catolicismo pode ter sua trajetória avaliada sob diferentes pontos de vista. Para muitos integrantes da congregação Salesiana, por exemplo, a atuação das irmãzinhas parecia não ter sentido algum.
"Eles achavam uma loucura. Estavam acostumados a catequizar e conseguiam entender como não tínhamos este objetivo", lembra Genoveva, com um sorriso no rosto. "A vantagem é que, até mesmo por conta do isolamento, pudemos construir este caminho sem maiores interferências".
No início, é bom que se diga, não se poderia prever que o rumo fosse tão distinto dos demais. As irmãzinhas usavam uma vestimenta claramente identificada com a cruz cristã e seguiam os padrões rígidos dos conventos - havia até um sino, que ecoava na aldeia para marcar os momentos de oração.
"É preciso se recolocar naquele tempo, em que as mudanças na igreja ainda estavam começando. Só mais tarde, depois de muitas tentativas e erros, fomos perceber que aquele modo tradicional não era certo", admite.
Em grande medida, foram os próprios índios que contribuíram para que a missão tomasse um novo rumo, pela resistência - até mesmo de forma irônica (ver matéria) - às normas que a congregação tentava implantar.
"Uma noite em que rezava fora, Ipawygi passou e perguntou o que estava fazendo. Disse que 'falava com Deus'. Ele me respondeu: 'Também eu falo com Deus'. Esse é um exemplo, mas há outras reflexões e acontecimentos que me fizeram descobrir que o nosso Deus é na verdade o Deus deles", escreveu certa vez uma das irmãzinhas, Maria Odília.
A irmã Odile Eglin acredita que o fato de a congregação ter sido criada em um ambiente islâmico também serviu de fundamento a esta visão mais ecumênica de seus missionários. "Isso nos colocou mais humildes, mais humanos, sem a necessidade de impor nosso modo de vida", opina.
Na década de 1970, com a criação da Prelazia de São Félix do Araguaia, a chegada do bispo Dom Pedro Casaldáliga e a criação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), as irmãzinhas veriam cada vez mais fortalecida aquela determinação.
"De um lado, com a nossa experiência de muitos anos, o povo tapirapé estava aumentando em número e também na consciência de ser um povo diferente e com direito a sê-lo", diz um texto escrito por Genoveva durante a comemoração dos 50 anos da missão. "É claro que surgiram muitas dúvidas e muitas interrogações ao longo desses 50 anos. E muitas descobertas também".
Para a irmã Elisabeth, a principal delas foi a capacidade de ver nas manifestações tradicionais dos tapirapés os sinais de uma divindade única. "A gente sempre procurou ver de que maneira Deus se manifesta entre eles. Não queríamos contabilizar conversões, mas sim contribuir par que eles fossem felizes como verdadeiros tapirapés".
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