Gazeta de Cuiabá-Cuiabá-MT
Autor: Janã Pinheiro
09 de Out de 2005
Pela primeira vez na história do Brasil será realizado um censo indígena.
O projeto piloto será feito em Mato Grosso em sete etnias. O trabalho,
com previsão de início ainda para este ano, não tem o objetivo apenas de
"contar" índios, mas sim de saber como eles vivem, o que consideram
qualidade de vida, qual a força de trabalho utilizada e como é a
classificação da faixa etária em cada etnia.
O censo da população indígena no país sempre foi feito pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em informações da
Fundação Nacional do Índio (Funai).
De acordo com esses dados, em Mato Grosso vivem hoje entre 31 e 32 mil
índios, divididos em 38 etnias. No Brasil são aproximadamente 410 mil
índios em 215 etnias diferentes.
"O IBGE não tem qualificação para fazer o censo indígena. O sistema de
contagem populacional feita com o homem branco não serve para o índio, que
tem uma maneira de viver diferente da nossa. É preciso respeitar a
diversidade cultural deles", alerta o indigenista Isanoel Sodré, que é
coordenador geral de documentação da Funai, em Brasília.
Ele cita como exemplo o povo Xavante, onde a classificação por faixa
etária é totalmente diferente da classificação do homem branco. "Cada
faixa etária tem suas atribuições e tarefas a serem cumpridas. Uma
criança índia xavante só passa para a segunda idade depois de cumprir as
suas tarefas. Não podemos falar que a adolescência entre eles, por
exemplo, começa aos 12, como acontece com a nossa classificação de faixa
etária", explica Sodré.
Quando todas as tarefas são cumpridas num tempo médio, o índio xavante
adquire a cidadania (a maioridade), aos 22 anos. A partir daí ele tem
direito a casar, ter filhos, participar da caça e da pesca e ser
responsável pela roça. Cada fase tem um nome específico. "Entre os
índios não tem a classificação de criança, adolescente, jovem, adulto e
idoso. Em cada etnia existe uma divisão própria de acordo com a cultura",
ressalta o indigenista.
O censo indígena será realizado por índios que estão cursando o nível
superior em Mato Grosso e por indigenistas. Todos serão capacitados para
participar desse trabalho. No Estado, conforme Sodré, existem atualmente
300 índios fazendo o terceiro grau.
O projeto piloto acontece nas etnias Bororo, Bakairi, Pareci, Irantxe,
Mekü, Chiquitano e Quató.
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