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MP alerta Polícia Federal para risco de invasão de terras dos índios xikrin

G1, Jornal Nacional - https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia
27 de Ago de 2019

MP alerta Polícia Federal para risco de invasão de terras dos índios xikrin
Repórteres da GloboNews flagraram desmatamento e garimpo na Terra Indígena Trincheira/Bacajá, no Pará.

Por Jornal Nacional

O Ministério Público Federal no Pará alertou a Polícia Federal sobre o grave risco de ataques de invasores contra os índios da etnia xikrin. Os repórteres Victor Ferreira, Caroline Leite e Pedro Machado flagraram o desmatamento e o garimpo dentro da Terra Indígena Trincheira-Bacajá.

No Pará, índios da etnia xikrin retomaram uma área que está sendo alvo de madeireiros e grileiros. Os repórteres Victor Ferreira, Caroline Leitte e Pedro Machado, da GloboNews, flagraram o desmatamento e o garimpo dentro da Terra Indígena Trincheira/Bacajá.

Pela terra, pela água, pelo ar, por onde se anda na terra indígena Trincheira-Bacajá, no coração do Pará, uma imensidão verde, mata nativa, da maior floresta tropical do mundo. Mas essa riqueza natural, casa de 746 indígenas da etnia xikrin, está ameaçada. "Nós ficamos pensando nas próximas gerações que vão vir. Eles não vão estar aqui para ver. Eles vão passar muito aperreado porque não vai ter caça, não vai ter peixe, não vai ter mais nada", disse Ngrenhkoroti Xikrin, indígena da etnia xikrin.

O Rio Bacajá fica dentro do território dos índios xikrin onde, só de janeiro a junho de 2019, mais de 400 hectares de terra foram devastados pelos madeireiros. Em julho, o desmatamento explodiu. Dados de um satélite coletados pelo Instituto Socioambiental, uma organização não governamental, mostram que, em apenas um mês, 915 hectares foram desmatados dentro da Trincheira-Bacajá, um aumento de 1.300% em relação à média mensal do primeiro semestre.

Já o Imazon, outro instituto que monitora o uso do solo na Amazônia, detectou uma área ainda maior: 1.500 hectares desmatados em julho. Segundo os índios, o aumento da devastação na terra indígena, protegida pela Constituição Federal, coincide com a abertura de novas estradas ilegais na Trincheira-Bacajá.

Sobrevoando um ponto grande de desmatamento, dá para ver pela janela vários troncos de madeira que ainda vão ser retirados pelos madeireiros. Foram abertas estradas, tem uma estrada grande e uma parte da floresta derrubada pelos madeireiros. Dá para ver também o maquinário, uma casa, tudo montado para a exploração de garimpo. A Trincheira/Bacajá tem 16.500 quilômetros quadrados, uma área dez vezes maior que a cidade de são Paulo.

O artigo 231 da Constituição estabelece que as terras indígenas pertencem à União e são de usufruto exclusivo dos indígenas que já ocupavam essa região. "São patrimônio do povo brasileiro com uso exclusivo das populações indígenas. Cabe à União proteger essas áreas, isso é uma obrigação dela. Se ela não está fazendo, deveria fazer", afirmou André Villas-Boas, secretário executivo do Instituto Socioambiental.

Cansados de esperar por ajuda do governo federal, os xikrin têm um histórico de enfrentamento aos invasores. "A gente foi numa caminhonete dividida, só de mulher e outra de homem acompanhando. As mulheres foram na frente", contou Kokoté Xikrin.

"Chegamos lá, botamos lá, o caminhoneiro estava lá dentro: 'Ó, pode descer daí, desce, desce, desce'. Aí joguei uma madeira no chão e trouxemos o caminhão para cá", disse Ngrenhkoroti Xikrin.

A Funai, responsável pelas terras indígenas brasileiras, declarou que vem adotando medidas para resolver o caso, que repassou informações sobre as invasões e danos ambientais para a Polícia Federal, o Ministério Público e o Ibama e que tem mantido contato com os xikrins com o objetivo de evitar o agravamento do conflito.

No fim de semana, os índios xikrin fizeram mais uma incursão pela floresta para expulsar madeireiros e garimpeiros. Num vídeo, o cacique pede ajuda na lingua mebengôkre.

"Vamos tirar o branco de nossas terras de novo. Pedimos que vocês nos ajudem. Estamos felizes que vocês mostrem nossa história, que mostrem a minha fala. A floresta é nossa vida", disse o antigo cacique Kanoy Xikrin.

A situação dos índios xikrin é um dos temas da série Amazônia: Terra de ninguém, que estreia no sábado, às 14h30, na GloboNews.

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