VOLTAR

Mouse e arma na luta pelo meio ambiente

OESP, Link, p.L1, L7
06 de Jun de 2005

Mouse é arma na luta pelo meio ambiente
Cresce atuação de ONGs nacionais e estrangeiras na internet
Renata Mesquita
A internet é hoje um dos principais instrumentos na luta pela preservação do meio ambiente - que teve seu Dia Mundial comemorado ontem. Entidades ambientalistas de todos os tipos e tamanhos contam com a rede mundial para coordenar esforços e projetos, fazer denúncias e conquistar novos associados.
E, com um simples clique no mouse, internautas de todo o mundo podem plantar espécies nativas da mata atlântica, participar de abaixo-assinados ou se engajar como voluntários de organizações não-governamentais ambientalistas (ONGs).
De gigantes internacionais como WWF e Greenpeace, passando por organizações de âmbito nacional como SOS Mata Atlântica e Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, até entidades de atuação local, como a paulistana 5 Elementos ou a Associação Cunhambebe de Ubatuba, não há ONG digna do nome que não faça uso intensivo da internet.
O site Click Árvore (www. clickarvore.com.br), criado pela SOS Mata Atlântica, é um dos melhores exemplos de utilização da rede na luta pela preservação. Após preencher um cadastro, o internauta pode "plantar" uma árvore por dia. O gesto é simbólico, pois a doação é feita pelos patrocinadores do projeto, empresas como Bradesco, Carrefour, Hopi Hari e Rodovia das Colinas.
Há quase cinco anos no ar, o Click Árvore já viabilizou o plantio de mais de 4,1 milhões de árvores nativas em reservas que antes estavam quase ou totalmente devastadas. Nos dias de pouco movimento, pelo menos 2 mil mudas são doadas, segundo a SOS. A qualquer momento o internauta pode consultar o destino de suas árvores e o histórico dos seus cliques.
Mudas de cedro, pau-brasil, peroba, ipê e palmito-juçara, entre outras, foram parar em locais como a Fazenda Campo Verde, em Jarinu (SP), ou a Fazenda Bulcão, em Aimorés (MG). Essa antiga propriedade de 676 hectares, da família do fotógrafo Sebastião Salgado, se transformou no Instituto Terra, reconhecido em 1998 como uma das Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN) do País.
"O sucesso do Click Árvore foi como pólvora, e nesses anos fomos aprendendo com a experiência, fazendo alterações. Ele não pode ser algo descontrolado porque cada empresa patrocinadora tem que efetivamente doar uma árvore a cada clique feito", diz Mário Mantovani, diretor de Mobilização da SOS Mata Atlântica.
Uma das modificações citadas surgiu há apenas um mês e chama-se Floresta Paga. "As pessoas pediam para 'plantar' mais de uma árvore por dia. No novo sistema, elas pagam R$ 1,20 por muda e 'plantam' quantas quiserem. São mais de 80 espécies diferentes", conta Mantovani. O lote mínimo é de 30 mudas por compra e o pagamento é feito com boleto bancário. De maio para cá, mais de 1.500 árvores foram compradas.
AS IDÉIAS NASCEM NA WEB
Para as ONGs ambientalistas, principalmente as de menor porte ou que atuam em áreas muito extensas, a internet é hoje o principal instrumento de trabalho.
Elas se reúnem nas chamadas Redes de Preservação Ambiental, misto de listas de discussão e portais de informação que funcionam como grandes escritórios virtuais.
O papel das redes é tão importante no combate à degradação do Meio Ambiente que a WWF-Brasil até criou uma cartilha para ensinar as ONGs a criá-las.
O livro Redes, Uma Introdução às Dinâmicas da Conectividade e da Auto-Organização pode ser baixado de graça no site da entidade (www.wwf.org.br, na seção livros do link Publicações). Em papel, ele sai por R$ 20 mais os custos do envio.

Redes dão voz a ambientalistas
Listas de discussão na web reduzem distâncias e ajudam as ONGs a criarem documentos, projetos e abaixo-assinados
Para as ONGs ambientalistas, a internet é como a arma do pequeno Davi para enfrentar o gigante Golias. Essas entidades têm poucos recursos, contam principalmente com trabalho voluntário e lutam contra grandes interesses econômicos. Mas, graças à internet, conseguem se unir para equilibrar um pouco mais o jogo.
Um exemplo é o Real Norte, rede virtual que congrega 16 organizações ambientalistas dos 4 municípios do litoral norte de São Paulo. "A Real Norte só trabalha com mídia eletrônica para distribuir informação. Como cada entidade fica em uma praia ou cidade diferente, era inviável organizar as reuniões. Além disso, as deliberações demoravam mais e os colaboradores tinham que arcar com os custos de deslocamento", diz Roberto Francine Jr., presidente da Associação Cunhambebe de Ubatuba, uma das entidades participantes da Real Norte.
A rede optou por uma lista de discussão via e-mail pela praticidade de concentrar todos os temas debatidos em um só lugar, acessível por todos os membros. E também para conseguir trabalhar em conjunto sem a necessidade de reuniões entre seus membros.
Através dessa lista a Real Norte articulou, com entidades de outros pontos do País, uma moção de repúdio contra os treinamentos de tiro promovidos pela Marinha brasileira no Arquipélago de Alcatrazes, em São Sebastião. O documento pede a transformação de Alcatrazes em Unidade de Conservação de Proteção Integral, e foi entregue às autoridades no dia 22 de maio, durante a Semana da Mata Atlântica, que ocorreu em Campos do Jordão.
Reuniões também não fazem parte do vocabulário da Rede Brasileira de Educação Ambiental, a Rebea, que congrega entidades especializadas no ensino da preservação ambiental em todo o País, e tem mais de 300 participantes inscritos. Encontros pessoais, só em grandes eventos.
"A internet permite que qualquer pessoa seja um produtor de informação. Também serve para dar transparência a tudo o que uma rede de preservação ambiental faz", diz Viviane Amaral, facilitadora da Rebea. Sua função é coordenar o grupo, propondo novas discussões e alimentando seu portal.
"As redes só não crescem mais por causa da exclusão digital. Ainda existe uma grande dificuldade para ensinar os membros a usarem as ferramentas digitais", diz Viviane.
Foi graças a essa articulação via web que os ambientalistas convencerem o ex-ministro da Educação Cristovam Buarque a não extinguir o setor de Educação Ambiental do MEC. Depois dos abaixo-assinados, o setor não só continuou existindo, como o ensino foi ampliado da Pré-Escola ao Ensino Superior. Antes, ele era promovido apenas junto aos alunos do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino.
O trabalho a distância é outro benefício que a internet proporciona para as ONGs. A Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, por exemplo, tem sede em São Paulo, mas precisa acompanhar o trabalho de 11 pessoas, entre consultores e agentes de campo, em plena Floresta Amazônica.
"Usamos a web, o e-mail e o mensageiro instantâneo intensivamente. Na intranet (rede para a comunicação interna entre a empresa e seus funcionários) acessamos milhares de documentos, notícias diárias, os custos de cada projeto e uma agenda de atividades compartilhada", diz Luiz Villares, gerente-geral do projeto Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis da entidade. R.M.

OESP, 06/06/2005, p. L1, L7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.