VOLTAR

Mortes: Pira, o embaixador do Xingu

Folha de São Paulo (São Paulo) - www.folha.uol.com.br
Autor: Fabiano Maisonnave
27 de Ago de 2015

Em seis décadas, o cacique Pirakumã Yawalapiti acumulou séculos de vivência. Nascido em uma aldeia isolada, viu a chegada dos irmãos Villas Bôas nos anos 1950, quando os índios do Xingu passaram a ter mais contato com o branco.

Pira, como era conhecido, acompanhou seus parentes no trabalho de convencer outras etnias a aceitar a ideia do Parque Nacional do Xingu, que reúne 15 povos no nordeste do Mato Grosso.

Foi com os Villas Bôas que aprendeu a ler e a escrever -orgulhava-se de falar cinco idiomas do Xingu, incluindo o yawalapiti, língua da sua etnia.

Chefiou, nos anos 80, o posto Leonardo, principal porto de entrada do Xingu. Recepcionava antropólogos, artistas e outros apoiadores da causa indígena.

Na mesma época, vieram fazendeiros, madeireiros e engenheiros. Pira começou a atuar fora do parque para lidar com o desmatamento na nascente do rio Xingu, o corte ilegal de madeira e projetos hidrelétricos.

Comparava o seu trabalho ao de um embaixador. Discursou no Congresso, viajava ao exterior e tinha página no Facebook.

No final de julho, encontrei com ele num evento em Rondônia. Os braços fortes, a lucidez e o passo firme exalavam vitalidade.

Perguntei como imaginava o Xingu em dez anos. Demonstrou preocupação com a influência do dinheiro: "Hoje, a juventude não pensa mais como a gente. Cada um vai querer pegar uma parte, explorar a madeira, o minério, essas coisas. Vai ter conflito entre eles."

Morreu no dia 21, aos 60 anos, após um ataque cardíaco durante a tradicional festa do Quarup. Deixa mulher, filhos e netos.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1674092-mortes-pira-o-em…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.