VOLTAR

Mortes cresceram sob Lula, diz Cimi

Folha de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: PAULO PEIXOTO
25 de Fev de 2005

O Cimi (Conselho Indigenista Missionário), um braço da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), disse que "o governo Lula deixou finalmente o discurso enganoso de aliado da causa indígena para revelar sua verdadeira face de instrumento dos seus mais poderosos e letais inimigos".
A dura crítica contida no documento divulgado pela entidade acusa descaso do governo com a questão indígena, com reflexos no acirramento dos conflitos agrários. A entidade diz que são 63 índios assassinados em pouco mais de dois anos do atual governo.
São, na média, 31,5 mortes por ano. Esse número, pelos registros do Cimi, é 52,9% maior do que a média anual de assassinatos nos oito anos da gestão FHC (1995-2002) -20,6 mortes/ano, sendo 26,75 nos quatro primeiros anos e 14,5 no segundo mandato.
O documento da presidência e do conselho do Cimi, que estão reunidos na Chapada dos Guimarães (MT) para tratar do plano de ação da entidade em 2005, diz que a conjuntura nacional é "extremamente ameaçadora" para o futuro dos povos indígenas.
Não só o governo é responsabilizado. "Setores influentes do governo federal -de olhos postos nas onipresentes e asfixiantes eleições de 2006-, do Legislativo e do Judiciário agem nitidamente como agentes do poder financeiro, das grandes empresas, dos fazendeiros, do agronegócio, dos invasores e até mesmo de criminosos que se utilizam da violência na grilagem e usurpação dos territórios indígenas."
O presidente do Cimi, dom Franco Masserdotti, bispo de Balsas (MA), disse à Folha que após "tantas promessas eleitorais", prevalece o que chama de "política vacilante", na qual "os interesses dos poderosos prevalecem sobre os programas sociais".
Dom Masserdotti disse que o Cimi não vê "grupos políticos alternativos" que possam representar de fato os interesses dos índios no governo e Congresso.
Mesmo assim, disse que a entidade não vai desanimar e que o esforço pelo diálogo vai continuar. Dom Masserdotti disse que é preciso "pressionar o governo para restabelecer prioridades". A criação do conselho das políticas indigenistas é uma delas.
A questão envolvendo terras é quase sempre a causa dos homicídios, que se concentram nos Estados do Norte, segundo o Cimi, que diz que as mortes não se dão apenas por ação de pistoleiros. Há casos em que índios são cooptados por fazendeiros e se envolvem em disputas com outros índios.

Outro lado
A direção da Funai em Brasília evitou comentários sobre o tom político da nota do Cimi. Por meio da assessoria, a Funai disse que tem registro de sete casos de homicídio de índios por conflitos agrários em 2003 (5) e 2004 (2).
Segundo o órgão, os números de 2004 podem ser revisados, mas não deverão ser muito diferentes. As mortes dos índios, diz a Funai, ocorreram por conflitos envolvendo grileiros e fazendeiros.
Os dados do Cimi, segundo a entidade, envolvem todos os conflitos de terra, inclusive a disputa de terras entre os próprios índios. Os números da Funai não contemplam casos como esses.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.