FSP, Brasil, p.A6
23 de Fev de 2005
Morte no PA foi ato pensado de madeireiros, afirma Lula
Presidente disse que o governo assumiu as dores dos trabalhadores rurais
Eduardo ScoleseEnviado especial a Sidrolândia (MS) Em um discurso de críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou ontem a apontar empresários do setor madeireiro como responsáveis pelos assassinatos ocorridos na semana passada no Pará, entre os quais o da freira Dorothy Stang. "Foi uma atitude pensada de alguns empresários do setor madeireiro."Segundo o presidente, a atual onda de mortes no Estado motivadas por conflitos agrários -segundo Lula uma "desgraça"- fez com que o governo assumisse as "dores" dos trabalhadores rurais. E prometeu: "Quem tiver terra grilada, o governo vai tomar conta dessa terra, porque o Brasil não é terra de ninguém. Este país tem governo, tem lei, e a lei vale para o presidente e para um pistoleiro".Lula esteve ontem pela manhã em Sidrolândia (MS), onde participou da inauguração da rede de eletrificação em assentamentos rurais do Estado. Usando uma camiseta e um boné do programa federal Luz para Todos, o presidente falou, por meia hora e de forma improvisada, para cerca de 2.000 trabalhadores rurais assentados e acampados da região."A morte dos sindicalistas e da freira, no Estado do Pará, não foi por acaso e é importante que o povo compreenda. A morte da freira e dos sindicalistas foi uma atitude pensada de alguns empresários do setor madeireiro, que estão revoltados com a política que estamos fazendo no Pará."Anteontem, em seu programa quinzenal de rádio, Lula, num tom mais brando, já havia atacado os madeireiros, chamando-os de "reacionários" e "conservadores". E, tanto no rádio como em sua fala de ontem, Lula creditou o atual recrudescimento dos conflitos no Pará à "revolta" dos empresários diante das ações do governo federal na área ambiental.Na semana passada, depois das mortes no Pará, o governo federal anunciou um pacote sobre o tema, como a criação de cinco unidades de preservação na região amazônica e a interdição de 8 milhões de hectares próximos à BR-163 (que liga Cuiabá a Santarém).Ontem, Lula disse que o primeiro objetivo, o de prender os assassinos, já foi alcançado. Agora, afirmou, o foco são os mandantes."Os madeireiros podem saber que a morte da freira, em vez de colocar o governo recuado, vai colocar o governo mais ativo. E vamos fazer o que tem que ser feito. A impunidade, companheiros, acabou (...) Agora nós queremos chegar ao mandante, porque nós queremos acabar com essa história de empresários, alguns empresários, é verdade, comprarem glebas de terras de milhares de hectares em algumas regiões mais distantes do nosso país, contratarem jagunços e mandarem matar quem está lá organizado, como estavam os trabalhadores rurais."Lula disse que não há prazo para que deixem o Pará os 2.000 homens do Exército enviados ao Estado na semana passada numa tentativa emergencial de o governo responder aos assassinatos.O atual momento, segundo o presidente, tem de ser usado para "moralizar" a questão fundiária em todo o país. "Nós, agora, vamos aproveitar essa desgraça que eles fizeram para que a gente possa moralizar a questão fundiária no Estado do Pará e no Brasil. Se acharam que com isso vão parar o movimento, eles podem ficar certos de que o governo assumiu as dores daqueles que querem fazer justiça social neste país."Lula não poupou nem os governadores. Disse que muitos mudaram o nome do Luz para Todos e colocaram o nome deles "para vender para a sociedade a idéia de que o programa era deles. Tem outros que vão mais devagar porque acham que não podem ser bem rápidos para não favorecer o presidente Lula".
FSP, 23/02/2005, p.A6
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