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Morte de criança indígena no Mato Grosso do Sul por desnutrição
descortina a realidade sinistra do Brasil

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Autor: Carlos Alberto dos Santos Dutra
04 de Mar de 2007

Há 500 anos os indiozinhos desta terra brasili vêm lutando pela sobrevivência física, reconhecimento e respeito em face do chamado homem branco. Se ontem, nós, póscabralinos, perseguíamos suas mães, os tomávamos como escravos e nos apossávamos de suas terras; hoje, nós, pós-modernistas, os confinamos em aldeias, os relegamos à periferia das cidades, filas de hospitais, feiras e cadastros de cestas básicas governamentais. Há muito os governantes viraram as costas para os povos indígenas nesse solo pátrio. Se alguma garantia sobre suas terras, eles, hoje a tem, devem à sua própria luta e à solidariedade daqueles que ainda sonham com um mundo igual.

Em Mato Grosso do Sul, como no restante do Brasil, a realidade não é muito diferente daquela anunciada há poucos dias nos principais canais de televisão: "mais um indiozinho morre de desnutrição em Reserva de Dourados". Entre tantos
brasileiros que desde a mais tenra idade morrem, todos os dias nesse país, a criança indígena em questão tinha nome e endereço: Cleison Benites Lopes, de apenas 10 meses morreu vítima de desnutrição grave na tarde deste domingo na Aldeia Bororó, em Dourados, no Mato Grosso do Sul.

Segundo a mãe, Salete Benites, de 20 anos, o filho começou a passar mal há dois dias e foi levado para o posto de saúde da reserva. O bebe recebeu vitaminas e retornou para casa. A criança morreu horas depois, por volta das 15:40 horas. O médico Raul Grigoleti assinalou no atestado de óbito: morte por complicações provenientes de uma desnutrição grave. Entre parêntese o documento revela: "caquexia".

A morte desse indiozinho é a terceira vítima no Estado em menos de dois meses do corrente ano. Em janeiro, um bebê de nove meses, da aldeia Bororó, morreu vítima de infecção devido a desnutrição, e no dia 10 deste mês, um garoto de dois anos morador da aldeia Jaguapiru, morreu também vítima de desnutrição. A morte desse indiozinho não poderia ter chegado em pior hora. Dias atrás, a Secretária de Estado de Assistência Social, Trabalho e Cidadania de Mato Grosso do Sul, Tânia Mara Garib, em entrevista ao portal Midiamax, revelou haver cerca de 11 mil índios que eram assistidos pela Funasa e também pelo governo do Estado, assim como nove mil famílias de acampados que recebiam cestas básicas do Incra e também do Estado, caracterizando assim a duplicidade no atendimento.

Como resultado, a política do novo governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, decidiu: "Dai a César o que é de César". Índio é responsabilidade da Funai e da Funasa. E ponto final! Os indígenas agora têm que procurar os órgãos
federais para que assumam a responsabilidade com o Estado na assistência ao índio. Ora, não se pode brincar de esconde-esconde, Governo do Estado e União, para ver quem é o pai da criança, em se tratando de vidas humanas.
Todos sabemos: não existe política pública definida de assistência que leve a autonomia dos povos indígenas no
Brasil; Todos sabemos que a Funai configura-se hoje um órgão falido, sob ponto de vista orçamentário, e destituído de qualquer estímulo para a implementar projetos viáveis; Todos sabemos e reconhecemos também o heróico esforço desprendido pelo corpo técnico da Funasa em minimizar os contrastes sociais cujo pano de fundo a Saúde desvela.

Chega de morte de indiozinhos! Chega de morte de índios, ainda que cultural, nas cadeias públicas de Mato Grosso do Sul. Só em Amambaí, segundo o CIMI, são 48, entre homens e mulheres. Aos detentores da ordem e da moral, das cátedras e dos tribunais, saibam que enquanto indiozinhos anônimos perfilham suas cruzes por entre o cerrado,
vizinho das grandes plantações de soja e canaviais, a injustiça permanece e começa a nos inquietar... Enquanto 36% das terras de Mato Grosso do Sul permanecer nas mãos de 1% dos fazendeiros do Estado; enquanto não se demarcar as 69 áreas, de um total de 102 terras indígenas sem providência, e o indígena ter seus direitos reconhecidos, indiozinhos irão continuar morrendo pelo interior das aldeias e periferia desta grande cidade chamada Brasil.

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