VOLTAR

Morador de Juruti cria ONG

O Globo, Razão Social, p. 7
01 de Fev de 2011

Morador de Juruti cria ONG
Instituto Puxirum ensina líderes comunitários a fazer projetos no Pará

Martha Neiva Moreira
martha.moreira@oglobo.com.br

Em 2009, Gercilene Amaral, funcionária da prefeitura de Juruti, no Pará, foi indicada para participar da "Escola Juruti de Sustentabilidade", curso oferecido pelo Instituto Alcoa, braço de responsabilidade social da mineradora, para formar agentes promotores do desenvolvimento local. Ela não poderia imaginar que um ano depois seu trabalho final sairia do papel e se transformaria no Instituto Puxirum, entidade que se propõe a ajudar comunidades da região a se desenvolverem.
Junto com colegas de turma, entre eles economistas, médicos, biólogos, pedagogos, Gercilene fundou a ONG no início do ano passado e, no segundo semestre, já estava funcionando à pleno vapor. O primeiro desafio foi capacitar costureiras de cidades próximas a Juruti para criarem uma cooperativa. A equipe do Puxirum elaborou junto com um grupo de quatro mulheres um projeto para captar recursos, que foi submetido a um edital público.
O resultado deve sair no próximo mês, mas novos trabalhos não param de surgir.
- A região carece de muita coisa, especialmente a área rural. As pessoas não têm informação alguma sobre como podem melhorar sua renda criando cooperativas, por exemplo, e nem como conseguir recursos para financiar a ampliação de um negócio.
Nosso objetivo, no Puxirum, é sermos um grupo de agentes de desenvolvimento sustentável no entorno de Juruti para ajudar essas pessoas. Temos conhecimento dos problemas da região e estamos sempre nos atualizando. A ideia é repassamos o que aprendemos organizando cursos rápidos nas comunidades - contou Gercilene, que pretende financiar o trabalho do Instituto com doações de pequenos empresários locais e captação de recursos.
Para João Meirelles, coordenador do Instituto Peabirus, ONG que atua no Pará e na Amazônia, a história de criação do Instituto Puxirum é um exemplo a ser seguido.
- Trabalho há anos na região e até agora não tinha visto nenhuma iniciativa local semelhante que envolvesse tantas pessoas do lugar, com formações tão diferentes. Isso é positivo. Eles sabem dos problemas e podem, junto com os diversos setores da sociedade, ajudar a encontrar soluções que promovam o desenvolvimento - disse Meirelles, que está desenvolvendo a pedido do Puxirum uma nova capacitação para a equipe sobre finanças, que deve contar com o apoio da prefeitura e da Alcoa.
Desde que foi criado, o Instituto Puxirum funciona em uma sala cedida pela Associação Comercial de Juruti. Além das doações que recebe e que, por enquanto, dão para as despesas de infra-estrutura e de pessoal, a entidade conta com R$ 20 mensais de cada um dos 33 fundadores.
- Aqui, por enquanto, cada um tem trabalhado um pouco para organizar as demandas.
Mas nossa ideia é ter uma sede própria e, mais adiante, contar com uma equipe administrativa - disse Gercilene.
Para Josinaldo Aleixo, pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Universidade de São Paulo (USP), que acompanhou nos últimos anos a instalação de empresas mineradoras, como a Alcoa, na região amazônica, odesafio maior de entidades como o Puxirum é criar um canal de diálogo entre os diversos setores da sociedade e as grandes empresas que se estabeleceram no estado:
- A Amazônia é estranha para nós que somos urbanóides. Quando uma grande empresa chega para se instalar por lá, são pessoas da cidade grande que normalmente fazem a interlocução com moradores de comunidades ribeirinhas e tradicionais. São eles que ouvem as necessidades dessas populações. Só que não falam a mesma língua. Por isso não funciona. A criação do Instituto Puxirum pode e deve ajudar a suprir esta lacuna. Sem esta parceria, fica mais difícil encontrar recursos para o desenvolvimento local.

Rica em biodiversidade, mas com economia rural

Juruti é uma cidade tradicional da região amazônica. Com cerca de 34 mil habitantes, segundo dados do IBGE, ela é situada na divisa entre Pará e Amazonas, a uma hora de Parintins.
Embora seja rica em biodiversidade, ainda tem uma economia de base rural e extrativista. O Índice de Desenvolvimento Humano é 0.63, um dos mais baixos do país. Segundo Josinaldo Aleixo, pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), pequenas áreas agrícolas de subsistência dividem espaço com grandes pedaços de terra devastados pela exploração de madeira. Nas áreas entorno, comunidades tradicionais vivem da coleta de castanha e da extração de óleo de copaíba, que vendem para empresas do ramo farmacêutico e de comésticos.
Para o pesquisador, que trabalha na região avaliando os impactos sociais e ambientais de grandes empreendimentos, o município tem a vocação para economia verde.
- Este é o desafio para toda a Amazônia, mas esta região, especificamente, é muito rica e se presta a desenvolvimento de projetos de manejo sustentável da floresta, agricultura familiar, criação de cooperativas de extrativismo vegetal. O Instituto Puxirum pode ajudar a criar projetos nessas áreas.

O Globo, 01/02/2011, Razão Social, p. 7

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.