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Autor: Amílcar Júnior
27 de Jan de 2017
A história empreendedora da índia Wapichana Florence da Silva, de 50 anos, é inspiradora. Sobrevivendo apenas do que plantava na comunidade do Jacamim, em Bonfim, município a 120 quilômetros da Capital pela BR-401, Leste de Roraima, Dona Flora, como é mais conhecida pelos parentes, teve uma ideia brilhante e, a partir daí, mudou de vida. Hoje ela cria três filhos e sete netos, em Boa Vista, apenas com dinheiro da venda de seus molhos de pimenta. Entre os clientes, há alguns norte-americanos e venezuelanos.
Inibida, mas muito carismática, Dona Flora lembrou como tudo começou. Disse que, há cinco anos, cansada da vida difícil que levava no interior, decidiu plantar pimenta para vender nas feiras-livres da Capital. O negócio deu certo e foi melhorando a cada ano, até que ela passou a produzir o próprio molho de pimenta à base de tucupi, que é um caldo amarelo extraído da mandioca.
"Então, comecei a vender e, de um tempo para cá, consegui uma boa clientela, formada até por estrangeiros. Já vendi e vendo meus molhos para norte-americanos e venezuelanos. Também exporto para os estados do Maranhão, Bahia, Pará, Amazonas e São Paulo. O que ganho dá para eu viver bem com minha família", disse.
Por dia, dona Flora faz 500 litros de molho. A quantidade de pedidos é tanta que agora ela tem que comprar pimenta de outros agricultores, em especial das comunidades indígenas da Serra da Lua e do Taboca, no Município do Cantá, a 35 quilômetros da Capital pela BR-401, região Centro-Leste de Roraima. Ela também compra o tucupi de parentes das comunidades indígenas de Canauanin e Taba Lascada, também no Cantá.
As pimentas mais utilizadas na produção dos molhos são: malagueta, murupi, olho-de-peixe, canaimé, malaguetão e a olho-de-tambaqui. A vida hoje melhorou para Dona Flora, mas ela ainda mantém os costumes indígenas e acorda bem cedinho. "Tem dia que eu levanto duas horas da manhã para começar a fazer os molhos", ressaltou.
O preço dos molhos de pimenta varia de acordo com a quantidade. Uma garrafinha sai até por R$ 2,50. A garrafa de dois litros custa R$ 50,00. Dona Flora vende até 100 garrafas por dia. Um dos filhos de dona Flora faz a entrega dos molhos em domicílio ou em comércios e feiras-livres da Capital. Além da pimenta, a autônoma também vende quibe feito de arroz. "Uma coisa completa a outra", brinca Flora, sempre com visão empreendedora.
O ponto comercial da autônoma chama-se Flora Pimenta Regional e funciona na Avenida Carmelo, no bairro Doutor Sílvio Botelho, zona Oeste da cidade. Quem estiver interessado, basta ligar para 99169-2761.
Pimenta roraimense tem enorme variedade que agrada o mercado
Roraima é um dos maiores produtores de pimenta da região Norte. Não há número exato para a produção local, mas estima-se que os plantios desta cultura variam de 2 mil a 5 mil pés por família produtora. Grande parte da produção é vendida no mercado local. O preço da saca de 20 quilos da pimenta "in natura", a verde, varia de R$ 30,00 a R$ 40,00. Mas parte da produção segue para Manaus (AM) e de lá vai para outros estados e países.
As pimentas cultivadas em Roraima possuem uma enorme diversidade de forma, de cor e de nível de ardência. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontaram que as pimentas malagueta, murupi e olho-de-peixe são as mais produzidas e consumidas pelas comunidades indígenas regionais.
As pimentas de cheiro, de média e baixa ardência, são as mais comercializadas nas feiras-livres de Boa Vista, segundo os pesquisadores, porque a produção excede entre os produtores rurais do Centro-Sul do Estado. A produção de pimenta também é grande na região do projeto de Assentamento (PA) Nova Amazônia, zona Rural de Boa Vista. Indígenas de comunidades no Bonfim e Cantá também produzem pimenta.
Nas feiras-livres da cidade, horticultores e agricultores, a maioria indígena, comercializam pimentas "in natura", em pó (chamada regionalmente de jiquitaia) e na forma de molho. A mais procurada é a olho-de-peixe e um copo sai a R$ 2,00. O setor de agronegócio aumentou nos últimos anos e isso faz com que produtores vendam cada vez mais. O preço do produto se mantém estável porque não há risco de falta pimenta no mercado roraimense.
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