VOLTAR

Mogno apreendido será beneficiado e comercializado pela Cikel

Ruth Rendeiro
Autor: Ruth Rendeiro
03 de Jul de 2003

O beneficiamento e comercialização em torno de seis mil toras de mogno apreendidas pelo Ibama no Pará, está aproximando, pela primeira vez, uma empresa madeireira (Cikel Brasil Verde) e uma ONG que há décadas se dedica aos movimentos sociais (Fase). O que for arrecadado nos mercados interno e externo será administrado pelo Fundo Dema, de apoio a projetos voltados aos ribeirinhos, indígenas, pequenos produtores e extrativistas que moram na região Oeste do Estado.

Tudo começou com a apreensão, pelo Ibama, de seis mil toras de mogno (cerca de 43 mil m3 ) extraídas ilegalmente da floresta amazônica em Altamira/Xingu. O Movimento pelo Desenvolvimento da Transamazônica e Xingu (MDTX) passou a reivindicar que a madeira, imersa nos rios da região, deveria ter um destino que beneficiasse as populações mais carentes que vivem na área. Com a entrada do Ministério Público Federal na questão, ficou mais fácil a autorização pelo Ibama de doar o mogno apreendido.

Mas doar a quem ? Certamente entre os pré-requisitos estava que fosse um organização ilibada e historicamente envolvida com os movimentos sociais e coube à Fase a responsabilidade de gerenciar o processo. Mas a Fase não beneficia nem comercializa madeira. Logo, havia necessidade de identificar uma empresa que pudesse se responsabilizar pelo trabalho, a partir de sua trajetória empresarial e social.

O fato da Cikel não ter registro de conflitos com as populações onde ela atua e de possuir o selo verde outorgado pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal), segundo o coordenador regional da Fase-Amazônia, Matheus Otterloo foi decisivo na sua seleção. Ela atua no Pará e possui, há três anos, a maior área de floresta nativa certificada do País.

"A Fase, junto com outras instituições públicas, fez uma minuciosa análise das empresas madeireiras que poderiam beneficiar e comercializar a madeira que ainda está nos rios. Contra a Cikel havia apenas algumas denúncias que, após investigação, foram consideradas infundadas e nos levou a concluir que ela é o ponto mais avançado das madeireiras da Amazônia", opina Otterloo.

Alcir de Almeida, gerente florestal da Cikel Brasil Verde, diz, por outro lado, que este trabalho é completamente inusitado e urgente. "Fomos contratados para processar e comercializar o produto até 15 de novembro" .

E neste curto período, a Cikel terá que cumprir quatro etapas, sendo três que prepararão a madeira para venda e outra voltada às atividades administrativo-financeiras. O processo começa com o deslocamento da madeira do rio até a unidade de beneficiamento quando serão conhecidas e definidas as informações sobre cada tora. Depois elas serão serradas, classificadas e empacotadas segundo normas internacionais de comércio para esta espécie. Na terceira etapa, os técnicos da Cikel vão identificar compradores, coletar as ofertas de preços, fechar os contratos de venda, transportar a madeira já beneficiada, embarcá-la, entregá-la ao comprador e depois cobrar e receber os valores referentes às vendas. A responsabilidade da Cikel encerra-se com o processo administrativo-financeiro que, consta, basicamente, de diferentes orçamentos e controles fiscais das operações. Ao final será repassado à Fase o montante que lhe cabe e que comporá o Fundo Dema.

A incógnita fica por conta do valor a ser arrecadado que depende das condições em que os técnicos da Cikel vão encontrar a madeira e somente a partir daí decidir como ela será beneficiada e comercializada.

Mas o coordenador da Fase (Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional) está otimista. Ele acredita que serão levantados recursos suficientes para apoiar projetos sustentáveis desenvolvidos pelos movimentos sociais da região da Transamazônica/Xingu. E a expectativa da Fase é que no primeiro trimestre de 2004 o Fundo Dema (uma homenagem ao agricultor conhecido por Dema, assassinado em agosto de 2001) comece a funcionar na prática.

Amanhã à tarde, (4), em Altamira, será assinado oficialmente selado a parceria entre a madeireira e a ONG, através do contrato entre a Fase e a Cikel que permitirá o beneficiamento e comercialização da madeira apreendida. O evento começa às 14 horas no Ibama, segue com uma solenidade na praia do Pajé onde as toras estão flutuando e termina com um seminário sobre o processo de doação do mogno

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.