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Mistura de etanol na gasolina pode subir

OESP, Economia, p. B4
11 de Abr de 2014

Mistura de etanol na gasolina pode subir
Porcentual do etanol anidro pode ser elevado dos atuais 25% para 27,5%; para Anfavea, medida trará prejuízos aos consumidores

Nivaldo Souza / Brasília e Cleide Silva / São Paulo

O governo federal pode autorizar um aumento no porcentual de etanol anidro na gasolina para minimizar o impacto do preço do combustível fóssil para o consumidor e ajudar os produtores de cana de açúcar. O ministro da Agricultura, Neri Geller, negocia como titular de Minas e Energia, Edison Lobão, o aumento da mistura dos atuais 25% para cerca de 27,5%. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) disse ser contra a medida, que trará prejuízos ao consumidor.
Geller e Lobão se reuniram na noite de quarta-feira para discutir o assunto. O expediente já foi utilizado outras vezes no governo Dilma Rousseff com esse objetivo.
A produção de etanol anidro deve crescer 8,71% neste ano, segundo estimativas da safra 2014/15 divulgadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Por outro lado, a produção de etanol hidratado, colocado diretamente no tanque dos veículos, deve recuar 5,6%. Ainda assim, o volume de hidratado será maior que o anidro na safra que começou em 1.o de abril: 12,85 bilhões de litros de anidro e 15,51 bilhões de litros de etanol hidratado.
O coordenador-geral de açúcar e etanol do Ministério da Agricultura, Cid Caldas, disse que a política de venda de anidro, por meio de contratos fechados diretamente com as distribuidoras de combustível, explica o crescimento consistente de produção. "Como o etanol anidro tem de ser contratado pelo distribuidor, isso dá segurança para o produtor."
Em entrevista ao programa Bom Dia, Ministro, da estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Neri Geller revelou a disposição do governo em evitar um novo aumento da gasolina comum, depois da alta de 4% já repassada em novembro pela Petrobrás às refinarias. A decisão atenderia à política do Ministério da Fazenda de tentar segurar a inflação.
O diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, João Marcelo Intini, afirmou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que a decisão das usinas de aumentar a produção de anidro é parte de uma política de "mobilização" da produção que não significa menor interesse no hidratado.
A avaliação de parte do governo é de que o aumento da mistura em 2,5 pontos porcentuais seria suficiente para convencer o setor a retomar investimentos no aumento da produção de etanol usado direto nos tanques de carros, além de voltar a fazer o etanol ser atraente para consumo na bomba ante a gasolina.
O embate interno no governo deve levar ao aumento da proporção de álcool na gasolina, um ano depois de o porcentual ter sido elevado de 20% para 25%, tendo em vista a corrente dominante preocupada com o peso da gasolina na inflação e o efeito que isso pode ter na campanha de reeleição de Dilma.
Impactos. O presidente da Anfavea, Luiz Moan, disse que a entidade foi consultada pelo governo sobre a mudança e preparou um parecer técnico a ser entregue nos próximos dias.
"A medida não é boa e não deveria ser adotada", afirmou Moan. Segundo ele, o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina não prejudica carros flex, que são preparados para qualquer quantidade de mistura. Já os modelos só a gasolina, que hoje representam 38% da frota circulante (cerca de 14,4 milhões de automóveis e comerciais leves) terão dificuldade na partida, aumento de possibilidade de corrosão nas partes metálicas que têm contato com o combustível e redução da durabilidade das peças de borracha.
Além disso, segundo Moan, haverá aumento do consumo de combustível (tanto em carros flex como a gasolina), porque a nova mistura reduz a autonomia do veículo em 2,5% a 3%.
"O pior é que nossos engenheiros apontam que haverá aumento de emissões de poluentes dos aldeídos em 20% e do NOx em 75%", disse Moan. "Estamos muito preocupados, pois isso vai reduzir o nível de satisfação do cliente e será negativo para o meio ambiente."

PARA LEMBRAR

O sobe e desce da mistura

Na última vez que alterou a mistura de etanol na gasolina, em 1.o de março de 2013, o porcentual foi elevado de 20% para 25%. Antes, em outubro de 2011, o porcentual havia sido reduzido de 25% para 20%, por causa da escassez do combustível e do aumento no preço.Em 2010, o governo já havia reduzido a mistura de 25% para 20% por três meses, por causa da alta do preço do álcool combustível aos consumidores e de problemas de abastecimento em alguns Estados.Em abril daquele ano, ampliou a margem da mistura do álcool anidro na gasolina. O intervalo, que era de 20% a 25%, caiu para 18% a 25%. A adição de 27,5% nunca foi adotada.

OESP, 11/04/2014, Economia, p. B4

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