O Globo, O País, p. 11
14 de Fev de 2010
Missionária denuncia mais conflitos no Pará
Substituta de Dorothy Stang diz que situação é pior que há cinco anos
Sérgio Roxo
Cinco anos depois da morte da freira Dorothy Stang, pouca coisa mudou em Anapu, no Pará. Os conflitos pela terra estão mais tensos e a ofensiva contra a floresta segue a todo vapor. O relato é de irmã Jane Dwyer, de 69 anos, missionária que ocupa o lugar deixado pela religiosa assassinada. Irmã Jane critica o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Secretaria do Meio Ambiente do Pará.
- A situação é pior. A reação dos fazendeiros e madeireiros é mais agressiva. Eles têm apoio do governo local. O povo luta para defender a vida, mas a vida está mais ameaçada hoje do que quando Dorothy estava viva - disse a missionária, que assim como a colega, é americana naturalizada brasileira.
As disputas estão concentradas nos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs) Esperança e Birola Jatobá.
Dorothy foi morta no PDS Esperança.
- O Incra coloca o povo na terra, mas não faz o trabalho jurídico que assegura as terras.
É ausente - diz Jane.
Os conflitos têm origem na década de 70, quando o governo federal autorizou fazendeiros a ocuparem terras. No início dos anos 2000, as áreas passaram a ser usadas para assentamentos.
Os fazendeiros iniciaram uma ofensiva. De acordo com a sucessora de Dorothy, os grileiros sabotam as roças.
- Desde 2000, um grileiro joga, de avião, capim em cima das roças dos trabalhadores (para matar a plantação). Ele cortou a cerca que protege a roça e colocou 200 cabeças de gado lá. Se as pessoas reagem, ele e seus funcionários são violentos.
A religiosa conta que nem uma placa colocada pelo Incra em homenagem a Dorothy foi respeitada: está crivada de balas.
Jane acusa a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) do Pará de autorizar a retirada de madeira de um lote sob disputa.
A Sema diz que é a associação de assentados do PDS que tem a autorização para retirar madeira do local. A superintendência do Incra em Santarém, responsável por Anapu, informou que não está inerte em relação ao caso.
Um dos acusados pela morte de Dorothy, Regivaldo Galvão, o Taradão, não foi julgado e segue solto. Outro, Vitalmiro Moura, o Bida, foi condenado a 30 anos. Recorreu e será julgado em 31 de março.
O Globo, 14/02/2010, O País, p. 11
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